Glória Perez veio armada com as armas de São Jorge para encarar o dragão que representa o período de luto que costuma abater o grande público após ter sido conquistado por uma novela de sucesso como foi “Avenida Brasil”. “Salve Jorge”, novela das nove que estreou nessa segunda-feira (22), na Rede Globo, com uma linguagem ágil, logo no primeiro capítulo já apresentou grande parte do elenco em situações distintas que deram uma ideia dos vários temas que serão abordados. É a linguagem popular que sempre foi marca registrada da autora, mesmo antes de alguns acharem que mostrar a classe C é um sinal dos “novos tempos”.
No Rio, teve uma competição da cavalaria do Exército
com a vitória do herói da história, o capitão Theo, interpretado por Rodrigo
Lombardi; tiroteio entre traficantes e policias; baile funk com a sensual
Morena, protagonista vivida por Nanda Costa, exibindo suas curvas; despedida de
solteira em motel reunindo várias personagens femininas, como a delegada Heloísa
de Giovanna Antonelli, e a tomada do Complexo do Alemão com direito a imagens
reais mostradas nos telejornais na época da pacificação iniciada em novembro de
2010 no conjunto de 13 favelas da Zona Norte da cidade.
Na Turquia, além das belas tomadas aéreas de
balonismo na região da Capadócia e de um aperitivo sobre a história e os
costumes locais através dos personagens de Antônio Calloni (Mustafa) e Zezé
Polessa (Berna), já se viu uma indicação de que o país servirá de cenário para
que seja abordado o tráfico internacional de mulheres. O primeiro alerta foi
dado por Wanda (Totia Meirelles) na cena em que, no aeroporto internacional do
Rio, ela recomenda a um grupo de jovens tendo à frente Jéssica (Carolina
Dieckmann): “Chegando lá, vai ter um guia nosso esperando. Entreguem
imediatamente seus passaportes a ele. É mais seguro”, diz ela. É a dica para aquelas
ingênuas que confiam na vida fácil e remunerada em dólar no exterior. Sem
passaporte, sem volta ao país de origem.
Graças à direção contida de Marcos Schechtman, houve
um equilíbrio entre o roteiro recheado de informações de Glória e um respiro
entre cenas de tiroteios e sequências de imagens contemplativas do diretor. Já o destaque no elenco fica para a atuação de
Nanda Costa, que foge do estereótipo da mocinha frágil e romântica e se revela
uma mulher que, mãe precoce de um menino, fruto de um relacionamento com um
traficante, é guerreira, determinada e ousada. Sua dobradinha com Dira Paes,
atriz que interpreta sua mãe, a empregada doméstica Lucimar, está espontaneamente convincente.