terça-feira, 23 de outubro de 2012

“Salve Jorge”: Roteiro ágil, imagens reais mescladas à ficção e o equilíbrio na direção contemplativa trazem na nova novela das nove o jeito Glória Perez de contar histórias



Glória Perez veio armada com as armas de São Jorge para encarar o dragão que representa o período de luto que costuma abater o grande público após ter sido conquistado por uma novela de sucesso como foi “Avenida Brasil”. “Salve Jorge”, novela das nove que estreou nessa segunda-feira (22), na Rede Globo, com uma linguagem ágil, logo no primeiro capítulo já apresentou grande parte do elenco em situações distintas que deram uma ideia dos vários temas que serão abordados. É a linguagem popular que sempre foi marca registrada da autora, mesmo antes de alguns acharem que mostrar a classe C é um sinal dos “novos tempos”.

No Rio, teve uma competição da cavalaria do Exército com a vitória do herói da história, o capitão Theo, interpretado por Rodrigo Lombardi; tiroteio entre traficantes e policias; baile funk com a sensual Morena, protagonista vivida por Nanda Costa, exibindo suas curvas; despedida de solteira em motel reunindo várias personagens femininas, como a delegada Heloísa de Giovanna Antonelli, e a tomada do Complexo do Alemão com direito a imagens reais mostradas nos telejornais na época da pacificação iniciada em novembro de 2010 no conjunto de 13 favelas da Zona Norte da cidade.

Na Turquia, além das belas tomadas aéreas de balonismo na região da Capadócia e de um aperitivo sobre a história e os costumes locais através dos personagens de Antônio Calloni (Mustafa) e Zezé Polessa (Berna), já se viu uma indicação de que o país servirá de cenário para que seja abordado o tráfico internacional de mulheres. O primeiro alerta foi dado por Wanda (Totia Meirelles) na cena em que, no aeroporto internacional do Rio, ela recomenda a um grupo de jovens tendo à frente Jéssica (Carolina Dieckmann): “Chegando lá, vai ter um guia nosso esperando. Entreguem imediatamente seus passaportes a ele. É mais seguro”, diz ela. É a dica para aquelas ingênuas que confiam na vida fácil e remunerada em dólar no exterior. Sem passaporte, sem volta ao país de origem.

Graças à direção contida de Marcos Schechtman, houve um equilíbrio entre o roteiro recheado de informações de Glória e um respiro entre cenas de tiroteios e sequências de imagens contemplativas do diretor.  Já o destaque no elenco fica para a atuação de Nanda Costa, que foge do estereótipo da mocinha frágil e romântica e se revela uma mulher que, mãe precoce de um menino, fruto de um relacionamento com um traficante, é guerreira, determinada e ousada. Sua dobradinha com Dira Paes, atriz que interpreta sua mãe, a empregada doméstica Lucimar, está espontaneamente convincente.

Rodrigo Lombardi tem tudo para mais uma vez emplacar como o galã do momento, alimentando o fetiche de muitas telespectadoras com sua farda de militar da Cavalaria.  Alexandre Nero também se superou ao libertar-se do Zoiudo de “Fina Estampa” e formar uma dupla com tons de comédia com Giovanna.  Já Claudia Raia, a chefe de uma organização criminosa, Lívia, parece um tom acima, dando a sensação de estar num palco fazendo a vilã de um musical. Mas ainda há muitos outros personagens a se apresentarem. Esse foi apenas o começo.