Marcello Novaes já tinha dado sinais de ter approach para interpretar personagens cruéis quando fez o Jacinto Gomes da minissérie “Chiquinha Gonzaga”, em 1999, recentemente reprisada mais de uma vez pelo canal Viva. Mesmo sendo uma aquela uma história de época, deu ideia da capacidade do ator de inveredar nos caminhos da maldade, como fez com Max de “Avenida Brasil”, novela das nove da Rede Globo escrita por João Emanuel Carneiro, A cumplicidade entre autor e ator fez de Max um dos vilões mais humanos já vistos em novelas e com um histórico que quase justificou seu desvio de personalidade. Enquanto personagens maquiavélicos de outros folhetins nos fizeram vibrar com seus finais trágicos, Max emocionou e provocou até lágrimas ao ter consciência para justificar ele próprio o porquê de seu desequilíbrio moral em meio a um surto emocional que acabou com sua morte no capítulo dessa quinta-feira (11).
Quem não chorou ao vê-lo
confessar seu amor até então contido por Jorginho (Cauã Reymond), ao afirmar:
“Fala quem deu sua primeira bola e jogava com ele pelada nos fundos de casa”,
disse ele, provocando Carminha (Adriana Esteves). “Eu queria que você se
chamasse Maxwell, mas ela quis que fosse Cristiano”, revelou ele ao filho.
Marcello Novaes já tinha
dado sinais de ter approach para interpretar personagens cruéis quando fez o
Jacinto Gomes da minissérie “Chiquinha Gonzaga”, em 1999, recentemente
reprisada mais de uma vez pelo canal Viva. Mas nada se compara à brilhante
construção que o ator deu a Max de “Avenida Brasil”, novela das nove da Rede
Globo escrita por João Emanuel Carneiro, um dos vilões mais humanos já vistos
em novelas e com um histórico que quase justificou seu desvio de personalidade.
Enquanto personagens maquiavélicos de outros folhetins nos fizeram vibrar com
seus finais trágicos, Max emocionou e provocou até lágrimas ao ter consciência
para justificar ele próprio o porquê de seu desequilíbrio moral em meio a um
surto emocional que acabou com sua morte no capítulo dessa quinta-feira (11).
Através de Max, o autor
também deve ter exorcizado sentimentos contidos em muitos telespectadores ao
despi-lo de qualquer pudor e permitir a ele a loucura provocada por sentimentos
de alguém que vive anos subjugado, humilhado e menosprezado. Afinal, o
personagem babaca se transformou naquele que conseguiu reunir no lixão todos os
envolvidos de uma trama inteira na qual se centralizou a novela. Sem
hipocrisia, e também sem ir ao ápice da raiva mostrada na ficção, quem nunca
sentiu vontade de ter a chance de desmascarar alguma “turma do lixão” que se
atravessou em seu caminho na vida real? Max é o anti-herói do momento. E até
nisso João Emanuel Carneiro acerta. Aliás, o autor tem dado voz a muitos gritos
calados na garganta do público através de muitos personagens, independentemente
de ser vilão ou mocinho.
Max foi chamado de bobão
quando deveria ter sido mais esperto. E quem disse que todo vilão é esperto? E
quem disse que toda Carminha vai subjugar seu capacho até o fim? Um dia até os
“capachos” acordam. Ele nada mais foi do que uma vítima oriunda de um submundo
que se entregou ao amor por uma mulher que só fez estimular nele o gosto por
uma vida fácil de luxúria. Acreditando nisso, o gigolô, que trazia na sua
história de vida um terço inteiro de dificuldades e era desprovido de qualquer
sinal positivo em seu caráter, tentou se perpetuar no rol dos desocupados. Na
hora que não deu certo, ruminou todos os sentimentos que o moveram e o levaram
de volta à miséria. Tentou não ir sozinho, mas acabou morto.
Marcello Novaes viveu sem
dúvida um dos seus melhores momentos em 24 anos de carreira na televisão, desde
a estreia como o André de “Vale Tudo” e o destaque como Raí de “Quatro por
Quatro”, em 1994, entre tantos outros trabalhos também importantes. Fato é que
nessa reta final de “Avenida Brasil” o ator dominou praticamente todos os
capítulos que foram ao ar a partir de sexta-feira (5), quando Max voltou à
mansão, após ter escapado de morrer afogado no seu barco, numa armadilha de sua
“parceira de toda vida”. O grito que Carminha deu ao vê-lo vivo foi um anúncio
do que viria pela frente. No sábado (6), ele se superou ao dar uma “banana”
para a família Tufão, após entregar a Ivana (Letícia Isnard) uma caixa contendo
as fotos que denunciavam seu romance com a mulher de Tufão (Murilo Benício).
Mas foi nessa penúltima
semana da novela que Marcello Novaes realmente viveu o auge de sua atuação.
Após emocionar na cena da volta do personagem para o lixão na segunda-feira
(8), ele soltou o verbo mais uma vez no capítulo de terça-feira (9), quando
Ivana foi atrás do ex-marido armada com uma faca. Max não se intimidou e ainda
vomitou toda sua aversão a ela. “Que alegria não ter mais que encostar nesse
corpo nojento! Não ter mais que beijar essa boca asquerosa! Baranga de
quinta!”, disse ele, humilhando a ex-mulher.
Já na quarta-feira (10)
não teve para mais ninguém, Maxwell, bêbado, falou todas as verdades que
Lucinda (Vera Holtz) e Nilo (José de Abreu) mereciam ouvir pela forma como o
trataram na infância. Isso depois de ter arrastado Carminha amarrada de volta
para o lixão. “Agora só falta trazer também os netinhos para tiramos uma foto
para o álbum de família, não é?”, ironizou ele, sempre chamando Nilo de
“paizinho”. As expressões do ator no meio do surto do personagem foram
impressionantes. E a forma como empunhava o revólver enquanto ameaçava acabar com
todos ali mostrava fielmente os movimentos de uma pessoa completamente
embriagada e fora de si. A sequência mereceu aplausos.
E não foi diferente nessa
quinta-feira (11), quando Max foi assassinado, após prolongar um pouco mais sua
sessão de tortura psicológica, dessa vez com a presença também de Nina (Débora
Falabella), que não tinha nada que ter ido sozinha no lixão mais uma vez se
achando “a justiceira da história”. “Todos vocês me traíram, cada um a seu
jeito. Eu vou dar um fim nessa história. Eu, o idiota do Max”, gritou ele.
Fica agora o suspense em
torno da famosa pergunta de “quem matou Max?”. Não deixa de ser um prêmio de
João Emanuel Carneiro pelo belíssimo trabalho realizado por Marcello Novaes ao
longo da novela. Afinal, quem sempre fica para a história não é quem matou, mas
sim quem morreu. Foi assim com Odete Roitman, Salomão Hayala... Maxwell e
Marcelo Novaes merecem!
Aliás, apenas a título de
curiosidade, essa não será a primeira vez que se questiona quem matou Max. Em
1973, na novela “Cavalo de Aço”, de Walther Negrão, o mistério era quem teria
assassinado o Velho Max (Ziembinski). A culpada foi a filha bastarda do
personagem, Lenita (Arlete Salles).