sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

“Alto Astral”: Há dois meses no ar, novela peca por perfil maniqueísta de protagonistas e situações repetitivas e sempre previsíveis


Se há algo que não cabe mais continuar se repetindo é aquele ranço de maniqueísmo que rotula vilões em personagens cem por cento maus e mocinhos que de tão inocentes beiram o patético. É o que vem acontecendo em “Alto Astral”. O problema maior não é nem os malvados serem tão somente muito maus e os bons exagerarem na dose de inocência. O que incomoda, tira a paciência da audiência, é essa sequência de situações na novela das sete da Rede Globo em que, invariavelmente, os planos de Marcos, o vilão interpretado por Thiago Lacerda, sempre dão certo. Enquanto Caíque, o mocinho com dons paranormais defendido por Sérgio Guizé, já chegou ao auge da vitimização ao ser internado em uma clínica psiquiátrica.

Tanto Thiago como Sérgio estão desempenhando muito bem seus papéis. Mas a sensação é de que até os atores já começam a ficar pouco à vontade com a mesmice da linha dramatúrgica da trama traçada para os personagens pelo autor da novela, Daniel Ortiz. E entre Marcos e Caíque ainda está Laura, a jornalista vivida por Nathalia Dill que é disputada pelos dois meio-irmãos. A personagem, que finge ser forte mas chora mais do que mocinhas de novelas mexicanas, está longe de ter a garra que uma protagonista deveria mostrar.

Há dois meses no ar, a história vem se arrastando sem um acontecimento que realmente tenha um impacto mais forte. Nem mesmo os acidentes previstos pela “vidente” Samantha (Claudia Raia) chamam a atenção. Para o horário, faltam mais humor e ação. Quem realmente está comendo pelas beiradas é Débora Nascimento, sabendo tirar proveito das nuances que sua personagem, Sueli, a secretária e amante de Marcos, que vive mergulhada na sede de vingança, mas não escapa dos momentos de drama de consciência.

Os tempos são outros, o telespectador moderno é exigente e espera por reviravoltas que promovam ganchos e deixem no ar a expectativa do que vem pela frente. O público não tem mais paciência para esperar o último capítulo para ver o herói vencer e o vilão se dar mal. Ou não...




“Tim Maia - Vale O Que Vier”: Realização impecável e atuação dos intérpretes de Tim Maia se destacam na série adaptada para televisão da cinebiografia do cantor


A Rede Globo acertou a mão ao abrir a programação especial de 2015 com uma adaptação para TV do filme “Tim Maia – Vale O Que Vier”, uma biografia do cantor, que foi lançado nos cinemas em 2014 e estreou na emissora nessa quinta-feira. 1º de janeiro. Feita para ser exibida em dois episódios, o segundo no ar na sexta-feira (2), a versão televisiva ganhou um tratamento diferenciado, com cenas inéditas e entrevistas exclusivas feitas com grandes nomes da MPB que fizeram parte da trajetória de Tim Maia. E esse foi um dos acertos do diretor Felipe Sá, da roteirista Patrícia Andrade e toda equipe envolvida na produção. Os depoimentos dados pelos cantores Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Jorge Ben Jor e Fábio, e pelo produtor musical Nelson Motta enriqueceram o programa, dando uma roupagem mais documental.

O papel de Tim Maia na fase jovem coube ao ator Robson Nunes. Já depois da fama, adulto, o cantor é interpretado por Babu Santana, que faz a narração da história, baseada no livro “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, escrito por Nelson Motta em 2007 e levado para o cinema pelo diretor Mauro Lima. Os dois atores encarnaram com veracidade o papel, sendo que Babu Santana, no episódio de estreia, convenceu um pouco mais, talvez pela familiaridade que já tem com o personagem também vivido por ele no cinema. Vale destacar ainda a sintonia entre os demais atores do elenco, entre eles Alinne Moraes, Cauã Reymond, Laila Zaid, Nando Cunha e George Sauma.

A direção de arte está impecável na reconstituição de época, tanto nos cenários reproduzidos quanto na seleção de fotografias e vídeos buscados em arquivos. A edição também está ágil ao mostrar em pouco tempo todas as fases da vida de Tim, desde a infância entregando marmita na Tijuca, bairro da Zona Norte carioca onde nasceu, até o reconhecimento de seu talento, passando por todos os percalços e polêmicas que pontuaram sua trajetória, principalmente por seu temperamento irreverente e explosivo. E culmina ao mostrar o momento de consumo excessivo de álcool e drogas e o agravamento da obesidade do cantor, que morreu em 1998, após duas paradas cardiorrespiratórias.

A série, sem dúvida, é um trabalho de qualidade, à altura do talento artístico do “Síndico do Brasil”, apelido que Tim ganhou do amigo Jorge Bem Jor.