Salve Glória! É sempre reconfortante aguardar o novo
trabalho de uma autora que, como toda pessoa apaixonada pelo que faz, quer sucesso, mas não se preocupa apenas em atingir altos índices no Ibope. Ela
está voltada principalmente à tal função social da novela, tão esquecida pela
maioria dos autores. Antes mesmo da estreia de “Salve Jorge” nessa
segunda-feira (22), na Rede Globo, Gloria Perez já manifestava seu desejo em
prestar um serviço que fosse além do puro entretenimento. Principalmente porque grande parte da história será ambientada no Complexo do Alemão, conjunto de 13 favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro que durante muitos anos foi considerada a área mais violenta da cidade e que começou a ser pacificada em 2010.
“Eu parti da tomada do Alemão, aquela comunidade que
viveu tanto tempo subjugada. Aquilo me impressionou, como impressionou todo
mundo. Do Alemão me veio a ideia da força guerreira dessas pessoas que
conseguiram viver dessa forma tão adversa durante tantos anos. Essa força guerreira
me remeteu a São Jorge. E de São Jorge veio a Turquia, porque São Jorge nasceu
na Capadócia, e eu precisava de um país estrangeiro porque iria tratar do
tráfico de pessoas”, explica a autora em um vídeo no site da novela.
“Eu sempre gosto de, nas minhas novelas, dar
visibilidade ao que não está visível, dar voz a quem não tem voz. Achei que
esse seria um grande tema a tratar e o momento de tratar. Que ele sirva de
alerta para que outras pessoas não caiam nessa cilada do tráfico internacional.
E, se Deus quiser, que ele resgate alguém também. Quem alguém consiga voltar para
casa. Nem que seja uma pessoa só, através desse trabalho”, afirma ela no vídeo.
Palavras de uma autora que usa suas novelas como
instrumento para serviços de utilidade pública. Em 1994, graças a uma campanha
lançada em “Explode Coração”, trama de sua autoria utilizando imagens da vida
real, 64 crianças desaparecidas foram encontradas. Empresários e industriais
abraçaram a causa, que não se diluiu com o fim da novela. Gloria também foi
premiada pelo FBI e pelo DEA pela campanha para auxiliar dependentes químicos
que fez em “O Clone”, em 2001, através de Mel, personagem de Débora Falabella. Sem
falar nos temas considerados polêmicos para a época, como quando tratou de Aids
em “Carmem”, em 1987, e inseminação artificial e mães de aluguel em “Barriga de
Aluguel”, em 1990. Ela também deu sua contribuição à luta pela preservação da
floresta amazônica na minissérie “Amazônia, de Galvez a Chico Mendes”, em 2007.
Depois de o lixão do Aterro Sanitário de Gramacho
ter sido tão amplamente explorado pelo autor João Emanuel Carneiro sem trazer
nenhuma mensagem que contribuísse para o momento de sustentabilidade que o
planeta vive, confio que “Salve
Jorge”, mesmo que não alcance a mesma repercussão internacional, traga algo de bom à sociedade.
Não precisa nem ser mundial, que seja nacional ou apenas local. Mas que faça a
diferença, como a autora sempre fez.