segunda-feira, 22 de outubro de 2012

“Salve Jorge”: Antes de estrear, novela de Glória Perez já traz a expectativa de voltar a cumprir uma função social que norteia a trajetória da discípula de Janete Clair


Salve Glória! É sempre reconfortante aguardar o novo trabalho de uma autora que, como toda pessoa apaixonada pelo que faz, quer sucesso, mas não se preocupa apenas em atingir altos índices no Ibope. Ela está voltada principalmente à tal função social da novela, tão esquecida pela maioria dos autores. Antes mesmo da estreia de “Salve Jorge” nessa segunda-feira (22), na Rede Globo, Gloria Perez já manifestava seu desejo em prestar um serviço que fosse além do puro entretenimento. Principalmente porque grande parte da história será ambientada no Complexo do Alemão, conjunto de 13 favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro que durante muitos anos foi considerada a área mais violenta da cidade e que começou a ser pacificada em 2010.

“Eu parti da tomada do Alemão, aquela comunidade que viveu tanto tempo subjugada. Aquilo me impressionou, como impressionou todo mundo. Do Alemão me veio a ideia da força guerreira dessas pessoas que conseguiram viver dessa forma tão adversa durante tantos anos. Essa força guerreira me remeteu a São Jorge. E de São Jorge veio a Turquia, porque São Jorge nasceu na Capadócia, e eu precisava de um país estrangeiro porque iria tratar do tráfico de pessoas”, explica a autora em um vídeo no site da novela.

“Eu sempre gosto de, nas minhas novelas, dar visibilidade ao que não está visível, dar voz a quem não tem voz. Achei que esse seria um grande tema a tratar e o momento de tratar. Que ele sirva de alerta para que outras pessoas não caiam nessa cilada do tráfico internacional. E, se Deus quiser, que ele resgate alguém também. Quem alguém consiga voltar para casa. Nem que seja uma pessoa só, através desse trabalho”, afirma ela no vídeo.  

Palavras de uma autora que usa suas novelas como instrumento para serviços de utilidade pública. Em 1994, graças a uma campanha lançada em “Explode Coração”, trama de sua autoria utilizando imagens da vida real, 64 crianças desaparecidas foram encontradas. Empresários e industriais abraçaram a causa, que não se diluiu com o fim da novela. Gloria também foi premiada pelo FBI e pelo DEA pela campanha para auxiliar dependentes químicos que fez em “O Clone”, em 2001, através de Mel, personagem de Débora Falabella. Sem falar nos temas considerados polêmicos para a época, como quando tratou de Aids em “Carmem”, em 1987, e inseminação artificial e mães de aluguel em “Barriga de Aluguel”, em 1990. Ela também deu sua contribuição à luta pela preservação da floresta amazônica na minissérie “Amazônia, de Galvez a Chico Mendes”, em 2007.

Depois de o lixão do Aterro Sanitário de Gramacho ter sido tão amplamente explorado pelo autor João Emanuel Carneiro sem trazer nenhuma mensagem que contribuísse para o momento de sustentabilidade que o planeta vive, confio que “Salve Jorge”, mesmo que não alcance a mesma repercussão internacional, traga algo de bom à sociedade. Não precisa nem ser mundial, que seja nacional ou apenas local. Mas que faça a diferença, como a autora sempre fez.