Se você é fã de Sherlock Homes, esqueça-se de
esperar ver a tradicional personagem criada no século XIX pelo escritor
britânico Conan Doyle, na série “Elementary”, que estreou no Universal Channel
na quinta-feira (25). É mais uma versão que foge totalmente das características
marcantes do detetive mais famoso da literatura mundial. A começar pelo perfil do
novo Sherlock, vivido por Jonny Lee Miller, um ex-dependente químico que acaba
de sair de uma clínica de reabilitação e vai trabalhar em Nova York como
consultor da polícia local. Longe de exibir o elegante figurino londrino de
época usado pelo detetive original, o Holmes dos tempos atuais já aparece em
sua primeira cena sem camisa, exibindo tórax e braços musculosos e tatuados.
Nem mesmo o carismático ajudante, Dr. John Watson, que
ficou estigmatizado pela frase do detetive: “Elementar, meu caro Watson”, após
comprovar suas deduções sempre infalíveis nas investigações, aparece na série
que, não por acaso se chama “Elementary”. Em seu lugar, aparece uma mulher,
Joan Watson, numa interpretação pouco impactante e quase automática da atriz
Lucy Liu. Ela é uma ex-cirurgiã contratada pelo pai de Holmes para acompanha-lo
nas primeiras semanas após ter tido alta da reabilitação, para comprovar que
ele não voltará a usar drogas.
É claro que o detetive continua se vangloriando de
seu poder quase de vidência ao reconhecer que Joan é uma cirurgiã apenas pelo
toque de suas mãos, que ela tem um carro, por ter visto no meio das coisas que
caíram de sua bolsa uma multa, e demais pistas que levam à elucidação do
assassinato de uma mulher pelo terapeuta de seu marido. “Eu não adivinho. Eu
observo. E depois deduzo”, diz Holmes.
Mas nem só de deduções é feita essa versão do
detetive. Ele também recorre às novas tecnologias. Admite que as respostas para
o que não pode ser deduzido podem ser encontradas no Google. Ele ainda revela
ter pesquisado no Facebook da vítima pessoas com as quais ela se relacionava. Ficou
no ar uma dúvida: mesmo sendo um ex-consultor da Scotland Yard, Holmes teria
condição de já ser chamado para tomar à frente da investigação de um
assassinato logo no primeiro dia após ter saído de um centro de reabilitação
para drogados?
A série estreou nos Estados Unidos, pela CBS, há um
mês, e nessa primeira temporada terá 22 episódios. A produção está longe de ter
o mesmo nível de outras séries investigativas, como “CSI” ou “Law & Order”,
mas parece que a preocupação do criador e roteirista de “Elementary”, Rob
Dohert, é explorar mais os dramas pessoais da dupla, criando atritos e, ao
mesmo tempo, cumplicidade, que deixa no ar se haverá um envolvimento
romântico entre os dois. “É incrível a forma como consegue analisar as pessoas
só de olhar para elas. Notei que aqui não há espelhos”, diz Joan, na casa de
Holmes. “O que quer dizer?”, indaga ele. “Eu acho que você reconhece uma causa
perdida quando vê uma”, provoca a ex-cirurgiã, instigando o detetive. Só falta agora
Watson criar o “Elementar, meu caro Holmes”.
A título
de curiosidade:
- A frase
“Elementar, meu caro Watson” nunca foi usada pelo escritor Arthur Conan Doyle,
que entre 1887 e 1927 escreveu quatro novelas e 56 contos nos quais aparecem o
detetive Sherlock Holmes e seu fiel parceiro, John H. Watson. Ela surgiu na
interpretação feita do detetive pelo ator britânico Basil Rathbone numa série
de filmes feitos em Hollywood entre 1930 e 1940. E o “jargão” acabou pegando.
- Desde o ano 2000, Sherlock Holmes é um personagem
em domínio público no Reino Unido. Nos EUA, as obras anteriores a 1923 também
são de domínio público. A exceção fica por conta de algumas das 12 histórias
que compõem a antologia “The
Case-Book of Sherlock Holmes”, publicada até 1927.