terça-feira, 30 de outubro de 2012

“Elementary”: Versão modernizada de Sherlock Holmes, agora musculoso, tatuado e ex-drogado, ao lado de uma ajudante feminina sem carisma, deixa saudades dos tempos do “Elementar, meu caro Watson”


Se você é fã de Sherlock Homes, esqueça-se de esperar ver a tradicional personagem criada no século XIX pelo escritor britânico Conan Doyle, na série “Elementary”, que estreou no Universal Channel na quinta-feira (25). É mais uma versão que foge totalmente das características marcantes do detetive mais famoso da literatura mundial. A começar pelo perfil do novo Sherlock, vivido por Jonny Lee Miller, um ex-dependente químico que acaba de sair de uma clínica de reabilitação e vai trabalhar em Nova York como consultor da polícia local. Longe de exibir o elegante figurino londrino de época usado pelo detetive original, o Holmes dos tempos atuais já aparece em sua primeira cena sem camisa, exibindo tórax e braços musculosos e tatuados.

Nem mesmo o carismático ajudante, Dr. John Watson, que ficou estigmatizado pela frase do detetive: “Elementar, meu caro Watson”, após comprovar suas deduções sempre infalíveis nas investigações, aparece na série que, não por acaso se chama “Elementary”. Em seu lugar, aparece uma mulher, Joan Watson, numa interpretação pouco impactante e quase automática da atriz Lucy Liu. Ela é uma ex-cirurgiã contratada pelo pai de Holmes para acompanha-lo nas primeiras semanas após ter tido alta da reabilitação, para comprovar que ele não voltará a usar drogas.  

É claro que o detetive continua se vangloriando de seu poder quase de vidência ao reconhecer que Joan é uma cirurgiã apenas pelo toque de suas mãos, que ela tem um carro, por ter visto no meio das coisas que caíram de sua bolsa uma multa, e demais pistas que levam à elucidação do assassinato de uma mulher pelo terapeuta de seu marido. “Eu não adivinho. Eu observo. E depois deduzo”, diz Holmes.

Mas nem só de deduções é feita essa versão do detetive. Ele também recorre às novas tecnologias. Admite que as respostas para o que não pode ser deduzido podem ser encontradas no Google. Ele ainda revela ter pesquisado no Facebook da vítima pessoas com as quais ela se relacionava. Ficou no ar uma dúvida: mesmo sendo um ex-consultor da Scotland Yard, Holmes teria condição de já ser chamado para tomar à frente da investigação de um assassinato logo no primeiro dia após ter saído de um centro de reabilitação para drogados?

A série estreou nos Estados Unidos, pela CBS, há um mês, e nessa primeira temporada terá 22 episódios. A produção está longe de ter o mesmo nível de outras séries investigativas, como “CSI” ou “Law & Order”, mas parece que a preocupação do criador e roteirista de “Elementary”, Rob Dohert, é explorar mais os dramas pessoais da dupla, criando atritos e, ao mesmo tempo, cumplicidade, que deixa no ar se haverá um envolvimento romântico entre os dois. “É incrível a forma como consegue analisar as pessoas só de olhar para elas. Notei que aqui não há espelhos”, diz Joan, na casa de Holmes. “O que quer dizer?”, indaga ele. “Eu acho que você reconhece uma causa perdida quando vê uma”, provoca a ex-cirurgiã, instigando o detetive. Só falta agora Watson criar o “Elementar, meu caro Holmes”.




A título de curiosidade:

- A frase “Elementar, meu caro Watson” nunca foi usada pelo escritor Arthur Conan Doyle, que entre 1887 e 1927 escreveu quatro novelas e 56 contos nos quais aparecem o detetive Sherlock Holmes e seu fiel parceiro, John H. Watson. Ela surgiu na interpretação feita do detetive pelo ator britânico Basil Rathbone numa série de filmes feitos em Hollywood entre 1930 e 1940. E o “jargão” acabou pegando.

- Desde o ano 2000, Sherlock Holmes é um personagem em domínio público no Reino Unido. Nos EUA, as obras anteriores a 1923 também são de domínio público. A exceção fica por conta de algumas das 12 histórias que compõem a antologia “The Case-Book of Sherlock Holmes”, publicada até 1927.