sábado, 1 de setembro de 2012

“Malhação”: Danielle Winits parece estar interpretando ela mesma em um colégio onde nenhum professor apresenta um perfil que possa servir de exemplo a qualquer aluno, tanto na ficção quanto na vida real

Danielle Winits poderia ao menos ter mudado o visual para fazer uma mulher viúva e mãe de um adolescente na nova temporada de “Malhação”. Tudo bem que ela exiba uma excelente forma, afinal sua personagem, Marcela, é professora de Educação Física. Mas a atriz não sai do lugar comum nem se liberta de um perfil que a acompanha ao longo de anos, só mudando um pouco a tonalidade do mesmo loiro nos cabelos longos e alisados que ela usa desde quando estreou em “Sex Appel”, em 1993.

Como não lembrar a super blonde Melissa Brown que ela interpretou na primeira fase de “Malhação”, em 1995? Assim como Melissa, Marcela também usa e abusa nos figurinos ousados e sensuais que enlouquecem os meninos do Colégio Quadrante.
Mesmo sua personagem sendo uma mulher avançada, aplicando métodos moderninhos no relacionamento com toda a classe, soa falso ver Danielle no comando da galera utilizando-se das mesmas caras e bocas das muitas mulheres sensuais que já viveu nas novelas. Parece até que ela está querendo concorrer com as meninas no quesito “a mais atraente da turma”.

Na televisão, são poucos os trabalhos de mulheres sérias entregues a Danielle. Podem-se citar aqui dois, ambos nos quais ela fez a fase jovem de uma personagem interpretada na fase adulta por Susana Vieira: A Ana da novela “A Próxima Vítima”, de 1995, e a Suzette de “Chiquinha Gonzaga”, de 1999. Na minissérie, mesmo vivendo uma cortesã do século XIX, a atriz soube dar a carga dramática que a personagem pedia. A caracterização também ajudou: além dos figurinos de época, ela usou cabelos encaracolados e presos em um penteado típico do período.

De volta à “Malhação”, a sensação que se tem é que Danielle está interpretando ela própria. Fazendo parte do elenco de veteranos dessa temporada, a atriz deveria aproveitar a oportunidade para mostrar seu amadurecimento na profissão, e não passar para o público a sensação de que está ali apenas para dividir espaço com os novatos. Sua personagem, Marcela, também não colabora. Ela já apareceu em cena pedindo aos alunos que a tratassem pelo seu nome e não como “professora”. A figura da condutora, tão importante nessa fase do ensino, diluiu-se ali. Esse tipo de tratamento funciona bem em cursinhos pré-vestibulares, não em uma escola de ensino público.

Torço para que esse tipo de exemplo não seja seguido na vida real por professores de crianças e adolescentes, para que eles não vejam serem apagadas de seus quadros verdes da memória a lembrança dos mestres que, por mais que os tempos sejam outros, continuam tendo a missão de ajudar a formar o alicerce dos adultos do futuro. Mas, a contar pelo corpo docente do Colégio Quadrante, parece que os alunos de lá não terão nenhum exemplo a ser seguido.