Nazaré Tedesco, personagem de Renata Sorrah em “Senhora do Destino” (2004), de Aguinaldo Silva, foi eleita a maior vilã de novelas de todos os tempos em enquete realizada pelo site do “Arquivo N” da Globonews e cujo resultado foi exibido pelo canal no programa dessa quarta-feira (12). Foram dez personagens selecionadas pela produção do programa: Flora de “A Favorita”, Odete Roitman de “Vale Tudo”, Bia Falcão de “Belíssima”, Laura de “Celebridade”, a gêmea Raquel do remake de “Mulheres de Areia”, a Perpétua de “Tieta” e a Branca de “Por Amor”.
Faltou explicar quem fez a relação dessa lista de
dez candidatas, já que muitas vilãs ficaram de fora. Uma das esquecidas foi
Laurinha Figueroa, interpretada por Glória Menezes em “Rainha da Sucata”,
novela de Silvio de Abreu exibida em 1990, que, depois de praticar muita
maldade contra Maria do Carmo (Regina Duarte), cometeu suicídio jogando-se de
um edifício no último capítulo da novela.Recentemente também tivemos a excelente
interpretação de Cássia Kis Magro no papel da pérfida Melissa em “Amor Eterno
Amor”, de autoria de Elizabeth Jhin.
O programa também foi sucinto ao lembrar que a
primeira grande vilã dos folhetins foi a babá protagonista de “Anjo Mau”
(1976), de Cassiano Gabus Mendes, sem dedicar um espaço que realmente valorizasse
o trabalho realizado no papel pela atriz Susana Vieira. Mas valeu ter mostrado
que não é privilégio de nenhuma delas ter um quê de humor sarcástico. A maioria
tem. Não foi à toa que o próprio Aguinaldo Silva citou no programa o desenho “Tom
e Jerry” como uma de suas fontes de inspiração: “É a fórmula que sempre dá
certo. É o vilão que sempre se dá mal, e é isso que as pessoas querem ver”,
afirmou sabiamente o autor.
A campeã da pesquisa, Renata Sorrah, contou que
Nazaré Tedesco foi sua primeira e única vilã, mas o público registrou na
memória que ela só faz personagens maquiavélicas. Apesar do resultado, ainda
considero Odete Roitman, divinamente interpretada por Beatriz Segall em “Vale
Tudo” (1988), de Gilberto Braga, a maior de todas as vilãs. Sem falar que na
mesma trama ela teve a concorrência de uma aprendiz de cobra marcante que foi
Maria de Fátima (Glória Pires). Joana Fomm, terceira colocada com sua Perpétua
de “Tieta” (1989), de Aguinaldo Silva, ganhou muito mais por apresentar um mix
de bizarrice com vilania. Quem não se lembra da cena em que foi revelado que
ela era careca?
Também foi bem lembrado que a Branca de “Por Amor” (1997),
de Manoel Carlos, tinha textos cômicos, dignos de novelas mexicanas, que ela
própria citava em seus diálogos. E sem dúvida o embate entre Flora (Patrícia
Pillar) e Donatela (Cláudia Raia) em “A Favorita” (2008), de João Emanuel
Carneiro, ousou instigar a dúvida entre quem era realmente a heroína e
quem era a vilã. “Houve reações inesperadas das telespectadoras, algumas
falando que entraram em depressão, diziam que eu era um degenerado”, contou João
Emanuel em seu depoimento. “A novela tem que provocar as pessoas”, complementou
o mesmo autor de “Avenida Brasil”, que tem Carminha, interpretada por Adriana
Esteves, como a vilã do momento. “Estou me dedicando como se fosse meu primeiro
trabalho. Tudo que vejo na rua é para ela, a Carmen Lúcia”, afirmou Adriana
Esteves.
O que faltou a esse “Arquivo N” sobre as maiores vilãs
das novelas foi se aprofundar num debate mais rico sobre o fenômeno em si. Por
que esse tipo de personagem exerce tanto fascínio não só nos telespectadores
como também nos próprios autores e nos seus intérpretes? Uma leitura um pouco
mais sociológica, comportamental e até filosófica tornaria o programa bem mais
interessante. Do contrário, pareceu mais uma coletânea de imagens de arquivos e
declarações de autores lambendo as próprias crias e atores repetindo a batida
frase de que “esse personagem é um presente para mim”.
Mas como a
apresentadora Leilane Neubarth avisou no final que “É tanta maldade que não
coube num programa só, semana que vem tem mais”, vamos aguardar para ver se a
próxima edição será uma versão mais “Arquivo N” e menos “Vídeo Show”.