A nova novela das seis traz um vigor renovado na
forma de revisitar a nossa história e com um olhar tão despido até mesmo dos
ranços da modernidade que surpreende até os mais atentos e mais rigorosos na
horar de cobrar um perfeccionismo raras vezes encontrado num texto. É claro que
a trilha sonora, embalada por ritmos modernos e sem medo de desafiar os críticos
de música que se acham sempre os mais atuais e antenados do momento, contribue
muito para fazer a diferença. Essa ousadia com certeza não parte de uma única
vertente do produto final. Existe aí uma sintonia orquestrada entre elenco,
autores, produtores, diretores e uma gama de equipe técnica por trás.
Que a sinfônica está bem afinada, isso já se
percebeu nos primeiros capítulos. Mas no decorrer da história percebe-se uma
visão mais apurada e antenada da leitura sociológica feita em um período
em que a mulher era alvo de tanto preconceito quanto eram os negros. E o quanto
ela também usava de subterfúgios para despistar os conceitos do falso a que era
submetida.
Há apenas duas semanas no ar, “Lado a Lado” já
mostrou que não veio para ser apenas mais uma novela de época. Em dez
capítulos, Isabel (Camila Pitanga) se entregou a Betinho (Rafael Cardoso),
mesmo amando Zé Maria (Lázaro Ramos), e a ex-condessa Constância (Patrícia Pilar)
virou amante do senador Bonifácio (Cássio Gabus Mendes).
A novela mostra claramente um desejo de por fim à
hipocrisia de mostrar no horário das seis uma época de “bons costumes”. Só tinha
visto ousadia maior em “Chiquinha Gonzaga”, minissérie exibida às 23h. Não é
apenas a música que embala o desapertar de uma era antiga, é o texto, a direção
de arte e a fotografia mostrando em cada vírgula uma nova forma de se fazer
novela de época, e todo o contexto acompanhando a vestimenta dada a um trabalho
realizado em cima de uma história que se passa no começo do século passado. Que
venha uma nova era de se mostrar de uma forma mais verdadeira histórias vividas
por nossos ancestrais em tempos passados.