quarta-feira, 26 de setembro de 2012

“Cheias de Charme”: Isabelle Drummond perde chance de ousar, se acomoda no papel de Gata Borralheira e faz de Cida a Empreguete mais sem graça do grupo





Isabelle Drummond poderia ter virado o jogo e transformado a Cida de “Cheias de Charme”, novela das sete da Rede Globo, em uma Gata Borralheira moderna, com mais garra, determinação e altivez. Diferentemente de Taís Araújo, que se impôs em cena e fez de Penha a Maria mais forte das Empreguetes, destacando-se até mais que Rosário, a vocalista do trio vivida por Leandra Leal, Isabelle parece ter se acomodado na interpretação da menina delicada, boazinha e até mimada, que tem marcado suas personagens em novelas.

Mesmo o perfil da personagem descrito pelos autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira ter indicado inicialmente que ela seria uma jovem sonhadora, a atriz poderia ter imprimido em Cida algum tipo de diferencial que a tornasse mais marcante. O que não faltam são exemplos de atores que mudaram o rumo de seus personagens, muitas vezes até simples coadjuvantes. Um caso é a dupla Zezé e Janaína, interpretadas respectivamente por Cacau Protásio e Cláudia Missura em “Avenida Brasil”. Graças às suas interpretações diferenciadas, elas levaram suas personagens da cozinha para a sala.

Mesmo em “Cheias de Charme”, vimos Rodinei, personagem de Jayme Matarazzo, cujo perfil se resumia a ser apenas um “grafiteiro que adora a cultura hip-hop, tem um discurso antiburguês, ama Cida, mas não hesita em pular a cerca ao primeiro desapontamento com a gata”, mudar seu rumo e se tornar um artista famoso internacionalmente. Ou seja, o coadjuvante chega à reta final da história com uma trajetória bem mais impactante do que a daquela que é uma das protagonistas.
Em entrevistas, despida de qualquer personagem, Isabelle já deu mostras de ter uma personalidade forte e muita vivência. Mas as cenas de Cida deixaram muito a desejar.

Eram sempre com a mesma expressão chorosa, com uma lágrima grossa caindo do olho. Foi assim quando, nos primeiros capítulos, flagrou seu então namorado Rodinei beijando Brunessa (Chandelly Braz), foi assim quando Conrado (Jonatas Faro) a trocou por Isadora (Giselle Batista), foi assim quando desistiu de Elano (Humberto Carrão) para voltar com Conrado, foi assim quando achou ser filha de Sarmento (Tatu Gabus), foi assim quando descobriu não ser filha do mesmo, e foi assim quando resolveu assumir seu amor por Elano. Ou seja, a expressão foi sempre a mesma. 

Talento, disciplina e garra Isabelle tem. Está faltando mais coragem em se impor como atriz e ser mais audaciosa ao doar a suas personagens um pouco mais da sua própria vivência e criatividade. Com certeza ela estará contribuindo não apenas para seu crescimento na profissão como também para a evolução da história contada pelos autores da vez. Afinal, o que seria do Nilo de “Avenida Brasil” se o ator José de Abreu não tivesse criado a famosa risadinha para mostrar os dentes amarelos e podres do personagem que vive no lixão? 

E o que seria de Socorro se Titina Medeiros não tivesse se despido do medo do ridículo e pesado a mão nas cenas mais bizarras da “personal curica” ao lado de uma atriz como Cláudia Abreu na mesma “Cheias de Charme”? Está na hora de Isabelle perceber que agora ela não vive mais por trás da caracterização da boneca Emília do “Sítio do Picapau Amarelo”. Agora é sua própria cara em cena. E, para não ser sempre igual, precisa imprimir a sua marca.

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