Isabelle Drummond poderia
ter virado o jogo e transformado a Cida de “Cheias de Charme”, novela das sete
da Rede Globo, em uma Gata Borralheira moderna, com mais garra, determinação e
altivez. Diferentemente de Taís Araújo, que se impôs em cena e fez de Penha a
Maria mais forte das Empreguetes, destacando-se até mais que Rosário, a
vocalista do trio vivida por Leandra Leal, Isabelle parece ter se acomodado na
interpretação da menina delicada, boazinha e até mimada, que tem marcado suas
personagens em novelas.
Mesmo o perfil da
personagem descrito pelos autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira ter
indicado inicialmente que ela seria uma jovem sonhadora, a atriz poderia ter
imprimido em Cida algum tipo de diferencial que a tornasse mais marcante. O que
não faltam são exemplos de atores que mudaram o rumo de seus personagens,
muitas vezes até simples coadjuvantes. Um caso é a dupla Zezé e Janaína,
interpretadas respectivamente por Cacau Protásio e Cláudia Missura em “Avenida
Brasil”. Graças às suas interpretações diferenciadas, elas levaram suas
personagens da cozinha para a sala.
Mesmo em “Cheias de
Charme”, vimos Rodinei, personagem de Jayme Matarazzo, cujo perfil se resumia a
ser apenas um “grafiteiro que adora a cultura hip-hop, tem um discurso
antiburguês, ama Cida, mas não hesita em pular a cerca ao primeiro
desapontamento com a gata”, mudar seu rumo e se tornar um artista famoso
internacionalmente. Ou seja, o coadjuvante chega à reta final da história com
uma trajetória bem mais impactante do que a daquela que é uma das
protagonistas.
Em
entrevistas, despida de qualquer personagem, Isabelle já deu mostras de ter uma
personalidade forte e muita vivência. Mas as cenas de Cida deixaram muito a
desejar.
Eram sempre com a mesma expressão chorosa, com uma lágrima grossa
caindo do olho. Foi assim quando, nos primeiros capítulos, flagrou seu então
namorado Rodinei beijando Brunessa (Chandelly Braz), foi assim quando Conrado
(Jonatas Faro) a trocou por Isadora (Giselle Batista), foi assim quando
desistiu de Elano (Humberto Carrão) para voltar com Conrado, foi assim quando
achou ser filha de Sarmento (Tatu Gabus), foi assim quando descobriu não ser
filha do mesmo, e foi assim quando resolveu assumir seu amor por Elano. Ou seja,
a expressão foi sempre a mesma.
Talento, disciplina e
garra Isabelle tem. Está faltando mais coragem em se impor como atriz e ser
mais audaciosa ao doar a suas personagens um pouco mais da sua própria vivência
e criatividade. Com certeza ela estará contribuindo não apenas para seu
crescimento na profissão como também para a evolução da história contada pelos
autores da vez. Afinal, o que seria do Nilo de “Avenida Brasil” se o ator José
de Abreu não tivesse criado a famosa risadinha para mostrar os dentes amarelos
e podres do personagem que vive no lixão?
E o que seria de Socorro se Titina
Medeiros não tivesse se despido do medo do ridículo e pesado a mão nas cenas
mais bizarras da “personal curica” ao lado de uma atriz como Cláudia Abreu na
mesma “Cheias de Charme”?
Está na hora de
Isabelle perceber que agora ela não vive mais por trás da caracterização da
boneca Emília do “Sítio do Picapau Amarelo”. Agora é sua própria cara em cena.
E, para não ser sempre igual, precisa imprimir a sua marca.
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