Eliane Giardini conseguiu, mais uma vez, em um único
capítulo de “Avenida Brasil”, mostrar as facetas conflitantes de Muricy, sua
personagem na novela das nove da Globo. Nas sequências que foram ao ar nessa
quinta-feira (13), a personagem viveu momentos fortes de contradição quanto a
seu “enorme coração e imenso caráter”, como está descrito no perfil criado pelo
autor João Emanuel Carneiro.
No começo do capítulo, ela apareceu mais uma vez
tentando se impor como a matriarca que decide o destino de todos os membros da
família e direcionar a vida do próprio filho, Tufão (Murilo Benício), usando
argumentos preconceituosos para ele não ter direito de estar apaixonado por
Nina (Débora Falabella). “Você acha certo seu pai estar querendo ficar com uma
empregada doméstica?”, pergunta Muricy a Jorginho (Cauã Reymond). Logo ela que
trabalhou como camelô para criar os filhos.
Logo em seguida, quando Tufão pede que todos
mantenham um tom de voz civilizado, ela rebate que todos ali gritam, sim, pois
são suburbanos e não leram os livros indicados pela “Maria Antonieta”,
referindo-se à culta chef de cozinha da casa. Afinal, Nina não serve por ser “cozinheira”
ou por ter uma cultura acima de todos ali? Chamá-la de “menina” também é
contraditório, pois Muricy vive na pele um relacionamento em que a diferença de
idade é sempre citada por todos.
Mais tarde, engolindo o próprio orgulho, ela vai
implorar a Tessália (Débora Nascimento) que não conte a Adauto (Juliano
Cazarré) sobre o caso que ela teve, ou tem, com o ex-marido, Leleco (Marcus
Caruso). Sim, porque a “guardiã dos bons
costumes e defensora da união da família” foi flagrada na sauna com o
ex-marido, ambos traindo o atual companheiro dela e a atual companheira dele. E
foi pedir clemência justamente no salão de Monalisa (Heloisa Pérrissé), sua ex-nora
a quem sempre chamou de messalina interessada no dinheiro de Tufão. “Antigamente
você a chamava de Paquita Erótica, aprendeu o nome, é?”, ironizou Olenka
(Fabíula Nascimento), ao ouvir Muricy chamando a cabeleireira pelo nome, Tessália.
Muricy pode até ter “um enorme coração e um imenso
caráter”, como consta em seu perfil, mas ela tem se mostrado, acima de tudo, uma
pessoa que enfrenta os conflitos que muitas mulheres encaram em certa fase da maturidade. E parece perdida na questão que a divide entre
ser a parceira de um jovem, provido de pouca inteligência, mas sarado e
apaixonado, ou a amante do ex-companheiro de longos anos, nem tão malhado, mas
muito esperto e o legítimo malandro conquistador. Também parece desorientada ao tratar
filhos adultos como se fossem crianças e não ter a menor psicologia ao lidar
com a neta, Ágata (Carolina Santos Rodrigues), tratando de assuntos totalmente
desaconselháveis diante de uma criança, sem a menor noção disso, nem o bom
senso de reconhecer suas falhas.
Mas essa não é uma crítica negativa a Muricy. É uma forma de destacar a excelente interpretação da atriz Eliane Giardini e o comportamento psicológico da personagem bem trabalhado pelo autor e seus colaboradores Antonio Prata, Luciana Pessanha, Alessandro Marson, Márcia Prates e Tereza. Afinal, quantas Muricys não existem por aí, seja no subúrbio, seja nas Zonas Sul das capitais e cidades do interior desse imenso país? Talvez seu exemplo sirva para que muitas revejam suas próprias atitudes diante do espelho.