domingo, 30 de setembro de 2012

“Miss Brasil 2012”: Concurso moderniza o formato, agiliza a atuação das candidatas através de uma coreografia bem realizada, mas perde o glamour e a emoção que sempre marcaram a eleição de uma miss


Para quem pegou a rebarba dos anos dourados dos concursos de misses ainda deve sentir uma ponta de nostalgia ao assistir aos atuais, como o “Miss Brasil 2012”, transmitido diretamente de Fortaleza, no Ceará, pela Band, nesse sábado (29).  Não vemos mais o desfile das candidatas com os famosos maiôs Catalina, nem ouvimos mais a “Canção da Misses”, cantada por Ellen de Lima e cuja letra iniciava com os versos “Os Estados, brasileiros, se apresentam/ Nesta festa, de alegria e esplendor”. Ninguém mais perde também por uma polegada nem pelos mililitros adicionais de silicone. São conceitos que não servem mais para o século XXI, mas que eram bem mais divertidos antigamente, ah, isso eram. Pelo menos para quem prefere optar por se divertir a levar a vida tão a sério.

Os tempos são outros e os concursos ganharam um tratamento mais moderno que por um lado valorizou o produto, mas por outro precisa de ajustes para não perder totalmente o glamour que, não adianta, é necessário nesse tipo de competição. O trabalho de coreografia feito com as candidatas de 27 estados, o balé masculino que as acompanhou e a trilha sonora com sucessos antigos com tratamento eletrônico trouxeram a disputa para os tempos atuais. Mas eles pecaram feio, no final, quando foi anunciada a vencedora da noite, a miss Rio Grande do Sul Gabriela Markus. Adriane Galisteu, que apresentou o programa ao lado do ator Sérgio Marone, não só errou o sobrenome da eleita, chamando-a de Gabriela "Marques", como não teve a delicadeza de ir até o palco ao menos cumprimentá-la pela vitória. Gabriela ficou sozinha enquanto o programa estava ao vivo. Faltou o final apoteótico que sempre marcou a coroação da Miss Brasil vitoriosa.

Na abertura, Adriane Galisteu até tentou emocionar o público dedicando a edição a Hebe Camargo e pedindo ao público um minuto de aplausos à apresentadora falecida nesse dia. Derramou uma ou duas lágrimas e logo em seguida estampou um sorriso no rosto. Afinal, o show não pode parar.

Sérgio Marone começou mal ao anunciar: “Chegou a hora de saber quem é o melhor vencedor dos trajes típicos”, logo após o primeiro desfile. Como assim, “melhor vencedor”? Existe um “pior vencedor”? Adriane também foi deselegante ao dizer que a representante do Amazonas teve a “sorte” ao ser selecionada entre as dez finalistas, após ter vencido a prova de trajes típicos. Se o concurso é de beleza, o quesito sorte pode até pesar, mas não era o caso, certo? Não foi sorte nem a candidata de São Paulo ocupar a décima vaga de finalista destinada à escolhida pelo voto popular. No caso dela, foi campanha feita pela internet.

Já os trajes de gala tinham todos o mesmo estilo à la Angelina Jolie, com a famosa fenda lateral deixando a perna direita à mostra. A única que teve um vestido com uma transparência revelando, mas cobrindo discretamente a perna, foi a candidata paulista. A mesma que chegou à final graças à votação via internet e por celular. O tal estilista, tão divulgado e paparicado por Adriane, não mostrou nada de novo.

Mas completamente dispensável mesmo foi a aparição do governador do Ceará em um vídeo gravado durante um almoço oferecido por ele às candidatas. Em ano eleitoral, esse tipo de participação é, no mínimo, comprometedor para a emissora.

Também parece ter acontecido um ruído na comunicação da direção do programa quando Adriane anunciou que a Miss Brasil 2011 faria seu “último desfile com a coroa”. Priscila Machado, eleita no ano passado, não só apareceu sem coroa como precisou de uma “cola”, lendo num papelzinho uma mensagem de apenas três frases.

Já o momento “perguntas às misses”, revelou que ainda há muitas candidatas desconectadas com a realidade. A candidata de Minas Gerais foi a que mais pisou na bola. Perguntada como agiria se fotos comprometedoras suas fossem parar na internet, ao invés de dizer que jamais se exporia a tal situação, ela disse que se isso acontecesse teria que responder por um ato seu e tomaria as medidas legais para tirar tais fotos do ar. Como assim? Momento celebridade? As que melhor se saíram nas respostas, e respondendo às perguntas mais difíceis, foram a gaúcha e a paulista. E foi das duas que saiu a vencedora. 

Enfim, a Band tenta modernizar o formato do “Miss Brasil”, mas está se esquecendo de que esse tipo de concurso é alimentado pelo glamour de outras épocas. É preciso modernizar também o processo de seleção das candidatas. Algumas mostradas nessa edição ainda não estão preparadas para uma nova era de misses. Precisam se preocupar menos em colocar silicone e mais em estudar e acumular cultura. O público de concurso de Miss não é o mesmo de concursos de popozudas.