Taís Araújo, com suas sacudidas de ombro à la Xica
da Silva, caras e bocas e formas curvilíneas, desde o começo de “Cheias de
Charme” já foi marcando território para fazer de sua Penha uma das Marias que
mais se destacasse entre as Empreguetes. E vem conseguindo também graças a sua
personagem ter oportunidades de viver situações muito mais variadas do que suas
companheiras no extinto grupo, Rosário e Cida, vividas respectivamente por
Leandra Leal e Isabelle Drummond, na novela das sete da Rede Globo.
O mais novo imbróglio envolvendo Maria da Penha realmente
a deixou num vestido mais justo do que os que ela costuma usar nas ladeiras do
Borralho. No capítulo dessa quarta-feira
(19) ela teve que engolir a lição de amizade que recebeu de Lygia (Malu Galli).
“Amigo sincero conta a verdade. Mesmo que isso machuque ou magoe”, afirmou a
advogada, com a sua classe de sempre. A cena aconteceu após a advogada ter visto na
internet uma foto da ex-empreguete beijando Gilson (Marcos Pasquim), um amor do
passado e pai do seu primeiro filho. Foi um golpe para ela que não só considerava Penha sua melhor
amiga como também é sua ex-patroa e sempre lhe estendeu a mão, ajudando-a
inclusive financeiramente.
Esse caso de traição de amiga é semelhante ao
recentemente mostrado na novela das nove, “Avenida Brasil”, quando Olenka
(Fabíula Nascimento) se envolveu com Silas (Ailton Graça), ex-marido de sua
melhor amiga, Monalisa (Heloísa Périssé). A diferença é que Olenka foi movida
apenas por atração física, e ela ouvia Monalisa dizer que não queria
mais ver Silas pela frente nem pintado de ouro. Já Penha sabia que rever Gilson
tinha mexido com Lygia. A amiga tinha confidenciado até ter ficado perturbada com o
beijo trocado com o surfista no primeiro reencontro.
O erro de Penha não foi ter se apaixonado. Assim
como o de Olenka pode não ter sido o fato de ceder à tentação. As duas falharam em uma questão
bem mais delicada, que é o de terem quebrado o principal alicerce de qualquer
relação, principalmente de amizade, que é o da confiança. As duas tiveram tempo
de serem sinceras com suas amigas, mas sentiram vergonha, medo. E, ao
vacilarem, acabaram omitindo a verdade, achando que, dessa forma, não estavam
mentindo.
Assim como Monalisa perdoou Olenka, é sabido que Lygia e
Penha voltarão a se aproximar. Se Gilson acabará sobrando sozinho como
aconteceu com Silas é outra história. Ele bem pode voltar para sua vida de
surfista em Pernambuco. Mas, e Lygia, que acabou de sair de um casamento de anos após descobrir ter sido o tempo todo enganada pelo marido, o mulherengo espanhol, Alejandro (Pablo Bellini)? Quanto a Penha, é claro que não faltam
candidatos. Fazendo a linha “irresistível”, que aposta num erotismo meio vulgar
e meio “RPM”, com a língua “meio de lado já saindo” do canto da boca, ela vai
colecionando admiradores. E continua a falar errado, mesmo após já ter sido uma
cantora de sucesso e atualmente atuar como consultora em um importante
escritório de advocacia.
Lidera sua lista de apaixonados Sandro (Marcos
Palmeira), o ex-marido malandro e biscateiro, pai de seu filho e por quem ela sempre
foi louca, a ponto de engolir as safadezas dele. Sandro vem tentando mudar, de
um jeito meio torto, é verdade, mas tem conseguido convencer no papel de herói
por acidente. Pulando as cantadas escancaradas que levou de Kleiton (Fábio
Neppo), Penha também teve seu momento de ceder aos elogios fáceis do radialista
Gentil Soares (Gustavo Gasparini), na época do auge das Empreguetes. Um carro
com motorista particular na porta e um restaurante fino a deixaram nas nuvens.
Logo em seguida surgiu o milionário Otto Werneck (Leopoldo Pacheco), com quem
ela chegou a trocar beijos e revelar à própria amiga Lygia estar pensando
seriamente em dar uma chance ao empresário.
Penha parece espelhar muito a personalidade de
pessoas da vida real que também dizem ter “mania de querer poupar as pessoas
que amam”, mas no fundo só querem se manter no centro das atenções e no comando geral de todos à sua volta. Seu comportamento já
tinha sido pouco ético na época das Empreguetes quando, após ter confidenciado
a Otto que aquele mundo de shows não era o dela e que não gostava de ensaiar e
achava chato gravar, jogou toda a culpa do fim do grupo em cima de Rosário. Por que? Porque a iniciativa de decretar o fim do trio tinha sido da vocalista principal, e não dela. Mentiu
lá também. E não poupou aquela que tinha sido responsável por ajudá-la a
atingir o estrelato.
Se as Empreguetes ainda voltarão ou não a cantar
juntas no fim da novela, a decisão só cabe aos autores Izabel de Oliveira e
Filipe Miguez. Mas, com certeza, Penha merece voltar a ser a “Neguinha” do
Sandro, fazendo churrasco e servindo linguicinha na laje ao som de pagode. Só vai precisar fazer um
intensivo se for continuar como “consultora” do escritório de Otto, para deixar
de falar “pá tu”, pá mim”, “pá ela” e “pá todo mundo”.