Para quem pegou a rebarba dos anos dourados dos
concursos de misses ainda deve sentir uma ponta de nostalgia ao assistir aos
atuais, como o “Miss Brasil 2012”, transmitido diretamente de Fortaleza, no
Ceará, pela Band, nesse sábado (29). Não
vemos mais o desfile das candidatas com os famosos maiôs Catalina, nem ouvimos
mais a “Canção da Misses”, cantada por Ellen de Lima e cuja letra iniciava com
os versos “Os Estados, brasileiros, se apresentam/ Nesta festa, de alegria e
esplendor”. Ninguém mais perde também por uma polegada nem pelos mililitros adicionais
de silicone. São conceitos que não servem mais para o século XXI, mas que eram
bem mais divertidos antigamente, ah, isso eram.
Pelo menos para quem prefere optar por se divertir a levar a vida tão a sério.
Os tempos são outros e os concursos ganharam um
tratamento mais moderno que por um lado valorizou o produto, mas por outro
precisa de ajustes para não perder totalmente o glamour que, não adianta, é
necessário nesse tipo de competição. O trabalho de coreografia feito com as
candidatas de 27 estados, o balé masculino que as acompanhou e a trilha sonora
com sucessos antigos com tratamento eletrônico trouxeram a disputa para os tempos
atuais. Mas eles pecaram feio, no final, quando foi anunciada a vencedora da
noite, a miss Rio Grande do Sul Gabriela Markus. Adriane Galisteu, que
apresentou o programa ao lado do ator Sérgio Marone, não só errou o sobrenome
da eleita, chamando-a de Gabriela "Marques", como não teve a delicadeza de ir até
o palco ao menos cumprimentá-la pela vitória. Gabriela ficou sozinha enquanto o
programa estava ao vivo. Faltou o final apoteótico que sempre marcou a coroação
da Miss Brasil vitoriosa.
Na abertura, Adriane Galisteu até tentou emocionar o
público dedicando a edição a Hebe Camargo e pedindo ao público um minuto de
aplausos à apresentadora falecida nesse dia. Derramou uma ou duas lágrimas e
logo em seguida estampou um sorriso no rosto. Afinal, o show não pode parar.
Sérgio Marone começou mal ao anunciar: “Chegou a
hora de saber quem é o melhor vencedor dos trajes típicos”, logo após o
primeiro desfile. Como assim, “melhor vencedor”? Existe um “pior vencedor”? Adriane
também foi deselegante ao dizer que a representante do Amazonas teve a “sorte”
ao ser selecionada entre as dez finalistas, após ter vencido a prova de trajes
típicos. Se o concurso é de beleza, o quesito sorte pode até pesar, mas não era
o caso, certo? Não foi sorte nem a candidata de São Paulo ocupar a décima vaga de finalista destinada à escolhida pelo voto popular. No caso dela, foi campanha feita pela internet.
Já os trajes de gala tinham todos o mesmo estilo à
la Angelina Jolie, com a famosa fenda lateral deixando a perna direita à
mostra. A única que teve um vestido com uma transparência
revelando, mas cobrindo discretamente a perna, foi a candidata paulista. A mesma
que chegou à final graças à votação via internet e por celular. O tal estilista, tão divulgado e paparicado por Adriane, não mostrou nada de novo.
Mas completamente dispensável mesmo foi a aparição do
governador do Ceará em um vídeo gravado durante um almoço oferecido por ele às
candidatas. Em ano eleitoral, esse tipo de participação é, no mínimo, comprometedor
para a emissora.
Também parece ter acontecido um ruído na comunicação da direção do
programa quando Adriane anunciou que a Miss Brasil 2011 faria seu “último
desfile com a coroa”. Priscila Machado, eleita no ano passado, não só apareceu sem coroa como precisou
de uma “cola”, lendo num papelzinho uma mensagem de apenas três frases.
Já o momento “perguntas às misses”, revelou que
ainda há muitas candidatas desconectadas com a realidade. A candidata de Minas
Gerais foi a que mais pisou na bola. Perguntada como agiria se fotos
comprometedoras suas fossem parar na internet, ao invés de dizer que jamais
se exporia a tal situação, ela disse que se isso acontecesse teria que responder
por um ato seu e tomaria as medidas legais para tirar tais fotos do ar. Como assim? Momento celebridade? As que
melhor se saíram nas respostas, e respondendo às perguntas mais difíceis, foram
a gaúcha e a paulista. E foi das duas que saiu a vencedora.
Enfim, a Band tenta modernizar o formato do “Miss Brasil”, mas está se esquecendo de que
esse tipo de concurso é alimentado pelo glamour de outras épocas. É preciso
modernizar também o processo de seleção das candidatas. Algumas mostradas nessa
edição ainda não estão preparadas para uma nova era de misses. Precisam se
preocupar menos em colocar silicone e mais em estudar e acumular cultura. O público de concurso de Miss não é o mesmo de concursos de popozudas.