Se muitos
reclamaram da falta de humor no texto da primeira temporada de “A Mulher
Invisível”, com certeza ele não faltou em vários momentos na estreia da segunda
nessa terça-feira (1). Logo no começo do primeiro episódio o personagem Pedro,
de Selton Mello, solta um “Hoje é dia de beber bebê”, ao chegar bêbado em casa
de madrugada e tentar se explicar à mulher, Clarisse (Débora Falabella). A frase,
inspirada em Christiane Torloni nos bastidores do Rock In Rio e hoje livremente
adaptada a qualquer jargão que surja, deu um toque imediatista à série. Mas não
se resumiu apenas ao humor, a série evoluiu também no contexto.
Para quem não assistiu à primeira temporada do
programa, inspirado no filme homônimo (lançado em 2009 sob a direção de Cláudio
Torres), ela contou a história de Pedro, casado com Clarisse, e de Amanda
(Luana Piovani), a tal mulher invisível que apenas ele enxerga e que reúne
todos os atributos da amante ideal. Depois de idas e vindas, Clarisse descobre
e aceita a presença de Amanda. Ruim com ela, pior sem ela. E assim termina a
primeira temporada. O roteiro, de Guel Arraes, Claudio Torres,
Mauro Wilson e Leandro Assis continua redondo, a direção de arte
caprichada, e a história seguindo a verve inicial, mas agora com mais conteúdo.
Nessa volta, é Clarisse quem encontra o seu Homem
Invisível, interpretado também por Selton Mello. Com certeza, entra aí um
elemento na discussão de relações que faltou na primeira temporada. Antes, a
mulher aceitou saber que havia uma mulher invisível entre ela e seu marido,
pelo bem do seu casamento. Agora, ele não aceita um homem invisível entre o
casal, mesmo mantendo a amante que só ele vê. E para piorar, o amante invisível
dela é romântico, aparentemente perfeito, mas tão machista quanto o marido
visível.
Grávida de quatro meses, Luana Piovani, que
aparecia antes como a invisível indefectível com figurinos sumários, roupas
curtas e lingerie, e personificando a mulher perfeita presente no imaginário
masculino, já ocupa com mais discrição o espaço de antes em que mostrava o
corpão a cada cena. A gravidez não a afastará da série. Ela será usada também
na ficção. Mas a redução de sua presença em cena talvez faça com que os
desafetos da atriz consigam observar melhor o que há em torno, além do que
Luana representa.
O que faltou na primeira temporada, uma discussão
mais evidente sobre as relações e inovações estéticas, podem estar sendo
resgatado agora através de insinuações nos diálogos sobre as diferenças que há
entre a visão feminina e a masculina dentro de um relacionamento. Pedro achava
normal ter a bengala de uma mulher invisível para segurar a rotina do
casamento, mas não aceita quando a mulher usa do mesmo recurso para suportar a
relação a “três”, ou melhor, agora a “quatro”. Já Clarisse não buscou um louro,
alto de olhos azuis. O seu Pedro Segundo tem o mesmo rosto do Primeiro. Mas com
barriguinha de tanquinho, claro, porque ninguém é de ferro e alguma compensação
ela devia ter. O problema é que até a versão invisível masculina é possessiva.
Ele não aceita ser um quarto elemento e, ao ser dispensado por ela avisa: “Eu
vou voltar”.
Tomara que volte para continuar uma leitura real e
inteligente das relações homem x mulher. Visível ou invisível. Os próximos
episódios dirão...