quarta-feira, 2 de novembro de 2011

“A Mulher Invisível 2”: Versão masculina mantém roteiro redondo, direção de arte caprichada e texto seguindo a verve inicial, mas com situações ainda mais inusitadas


Se muitos reclamaram da falta de humor no texto da primeira temporada de “A Mulher Invisível”, com certeza ele não faltou em vários momentos na estreia da segunda nessa terça-feira (1). Logo no começo do primeiro episódio o personagem Pedro, de Selton Mello, solta um “Hoje é dia de beber bebê”, ao chegar bêbado em casa de madrugada e tentar se explicar à mulher, Clarisse (Débora Falabella). A frase, inspirada em Christiane Torloni nos bastidores do Rock In Rio e hoje livremente adaptada a qualquer jargão que surja, deu um toque imediatista à série. Mas não se resumiu apenas ao humor, a série evoluiu também no contexto.

Para quem não assistiu à primeira temporada do programa, inspirado no filme homônimo (lançado em 2009 sob a direção de Cláudio Torres), ela contou a história de Pedro, casado com Clarisse, e de Amanda (Luana Piovani), a tal mulher invisível que apenas ele enxerga e que reúne todos os atributos da amante ideal. Depois de idas e vindas, Clarisse descobre e aceita a presença de Amanda. Ruim com ela, pior sem ela. E assim termina a primeira temporada. O roteiro, de Guel Arraes, Claudio Torres, Mauro Wilson e Leandro Assis continua redondo, a direção de arte caprichada, e a história seguindo a verve inicial, mas agora com mais conteúdo.

Nessa volta, é Clarisse quem encontra o seu Homem Invisível, interpretado também por Selton Mello. Com certeza, entra aí um elemento na discussão de relações que faltou na primeira temporada. Antes, a mulher aceitou saber que havia uma mulher invisível entre ela e seu marido, pelo bem do seu casamento. Agora, ele não aceita um homem invisível entre o casal, mesmo mantendo a amante que só ele vê. E para piorar, o amante invisível dela é romântico, aparentemente perfeito, mas tão machista quanto o marido visível.

Grávida de quatro meses, Luana Piovani, que aparecia antes como a invisível indefectível com figurinos sumários, roupas curtas e lingerie, e personificando a mulher perfeita presente no imaginário masculino, já ocupa com mais discrição o espaço de antes em que mostrava o corpão a cada cena. A gravidez não a afastará da série. Ela será usada também na ficção. Mas a redução de sua presença em cena talvez faça com que os desafetos da atriz consigam observar melhor o que há em torno, além do que Luana representa.

O que faltou na primeira temporada, uma discussão mais evidente sobre as relações e inovações estéticas, podem estar sendo resgatado agora através de insinuações nos diálogos sobre as diferenças que há entre a visão feminina e a masculina dentro de um relacionamento. Pedro achava normal ter a bengala de uma mulher invisível para segurar a rotina do casamento, mas não aceita quando a mulher usa do mesmo recurso para suportar a relação a “três”, ou melhor, agora a “quatro”. Já Clarisse não buscou um louro, alto de olhos azuis. O seu Pedro Segundo tem o mesmo rosto do Primeiro. Mas com barriguinha de tanquinho, claro, porque ninguém é de ferro e alguma compensação ela devia ter. O problema é que até a versão invisível masculina é possessiva. Ele não aceita ser um quarto elemento e, ao ser dispensado por ela avisa: “Eu vou voltar”.
Tomara que volte para continuar uma leitura real e inteligente das relações homem x mulher. Visível ou invisível. Os próximos episódios dirão...