No ar desde 26 de setembro, “A Vida da Gente” poderia ter assinado seu decreto de fracasso quando a protagonista da novela entrou em coma. O tal coma previsto para durar na ficção cinco anos, poderia ter se resolvido em uma passagem rápida de tempo. Mas não. Passados quase dois meses, há que se reconhecer o talento dos autores, batizados pela direção, para não só segurar, como também valorizar uma história na qual o triângulo amoroso principal envolve duas irmãs amorosas, Ana (Fernanda Vasconcelos) e Manuela (Marjorie Estiano), e um irmão postiço de bom caráter, Rodrigo (Rafael Cardoso). As duas agora ganham torcidas paralelas sobre qual delas ficará com Rodrigo. A interpretação correta dos atores também contribui.
Há quem torça por Ana e há quem torça por Manu. Quem
quiser entender melhor o começo pode ver aqui: "A
Vida da Gente": Ambientada no Sul, novela das seis é como aquele livro que
a gente começa a ler e não quer mais parar
Mesmo sem estar atuante, aparecendo imobilizada em
uma cama de hospital, Ana sempre se fez presente. A obsessão que sua mãe, Eva
(Ana Beatriz Nogueira), tem pela carreira da filha nunca deixou de ser algo
doentio. Eva é a vilã da história. Mas, diferentemente de outras novelas, o que
realmente atrai nessa é o embate que vai se travar entre as duas irmãs, “almas
gêmeas”, como já disse a sensitiva avó Iná (Nicette Bruno).
E é nesse ponto que a história se diferencia de
outras. Há aqui um importante fazer pensar sobre relações íntimas familiares.
Nos anos em que Ana esteve em coma, Manu ajudou Rodrigo a criar Júlia, filha
dele com sua irmã. Só que a amizade entre os dois fez despertar também uma
paixão. Jovens, solitários e próximos, normal que isso acontecesse. Mas
justamente quando decidem assumir um compromisso Ana sai do coma.
Foi em tom comovente a cena em que Manu fala para
Ana, ainda em coma, que não sabe em que momento o amor por Rodrigo nasceu e
pede perdão à irmã pela traição. Na próxima semana Ana vai sair do coma. E a
história ganhará outros contornos. Ana continuará sendo a cordeira guiada por
sua mãe? E até que ponto Manu será mesmo tão ingênua assim? Será Eva totalmente
errada ao acusá-la de, na infância, não ter ajudado a tentar salvar a irmã que
estava se afogando em um lago?
Mesmo com as limitações do horário das 18h, “A Vida
da Gente” tem levantado questões bem mais profundas e despertado mais reflexões
do que muitas novelas do horário nobre. E agora levantará a disputa entre duas
irmãs não só pelo mesmo homem, mas também por uma nova opção de vida, na qual
está incluída uma filha. Gerada por uma e criada por outra. Quem vencerá essa
disputa?