Que Marcelo Serrado vem se superando a cada dia em “Fina Estampa” fazendo de Crodoaldo Valério uma figura indispensável na maioria das cenas não é mais novidade. Mas no capítulo desse sábado (12) o ator praticamente roubou o posto de Rainha do Egito, como o fiel mordomo chama Tereza Cristina, personagem de Christiane Torloni. Após ter sedado e feito a patroa dormir, para acalmá-la antes de contar da gravidez de Patrícia (Adriana Birolli), ele enfrentou brilhantemente René (Dalton Vigh) e a filha, que queriam acordá-la para dar logo a notícia.
No
embate, Crô não se intimidou nem quando o patrão o mandou se calar. E ainda deu
um sermão em Patrícia após ela jogar na cara dele que sua mãe o tratava como um
cão de guarda: “Para que servem os cães de guarda? Para proteger seus donos”,
disse Crô. E logo em seguida acrescentou: “Antes de falar com sua mãe é comigo
que você vai se entender. Sabe por que ela me maltrata? Para não descarregar em
cima de vocês. Eu sei bem quem paga pela intolerância e falta de cuidado que
vocês têm por ela. Quem paga sou eu”, concluiu ele, deixando Renê e a filha sem
palavras.
Depois de
ter sido protagonista de várias novelas na Record, o último um mafioso em
“Poder Paralelo”, voltar à Globo fazendo um empregado coadjuvante poderia ter
sido visto como um passo atrás na carreira. O risco havia. Marcelo, no entanto,
soube extrair o que há de melhor do texto do autor da novela, Aguinaldo Silva,
e fez de Crô mais um dos donos da história. Um mordomo afeminado e engraçado,
mas sem ser caricato.
Com a
dose certa de afetação, o ator sabe exatamente até onde vai o limite para
carregar um pouquinho a mais ou a menos nas caras e bocas. Seu humor é fino e
inteligente. E mesmo morando em uma casa com uma decoração de gosto duvidoso,
extravagante nas cores e peças, seu visual na mansão dos Velmont é clean,
usando sempre figurinos em tons claros, nos quais prevalecem as bermudas e
gravatinhas borboleta. O toque alegre fica por conta de óculos com aros
coloridos.
No
capítulo de ontem não foi a primeira vez que Crô mostrou que o fato de ser gay
não tira dele a coragem de enfrentar quem quer que seja. Aconteceu quando ele
deu uma surra em Baltazar (Alexandre Nero), impedindo-o de continuar batendo na
mulher, Celeste (Dirá Paes). Superior, o mordomo também não perde a pose quando
o motorista o chama de boiola, baitola, bichinha e outras expressões
pejorativas. Sem guardar mágoas, Crô ainda deu a Baltazar a inteligente ideia
de se tornar empresário de Solange (Carol Macedo), ao invés de continuar
proibindo a filha de cantar e dançar funk.
Resta
saber qual será sua reação quando descobrir o misterioso segredo que sua Rainha
do Nilo, Filha de Osíris, Divina Ísis esconde. Mas até lá, Marcelo Serrado com
certeza ainda terá que levantar muitas vezes mais o seu topete para continuar
brilhando e emprestando sua fina estampa à novela. E caprichando na entonação
dos apelidos inspirados na Grécia e no Egito antigos, numa bela ideia de
Aguinaldo Silva usada por Crô para exaltar Tereza Cristina.