Aposta da Record para melhorar seu desempenho no Ibope nas tardes de segunda a sexta-feira, “Marcas da Vida”, que estreou nessa segunda-feira (21), não atingiu o intento. A emissora continua em terceiro lugar em audiência no horário nesses dias. O programa parte de dramas da vida real relatados no blog da jornalista Helena Lemos, que são interpretados por atores e comentados por especialistas. O primeiro episódio tratou de um caso de adultério, com o marido exigindo teste de paternidade da filha do casal. Um advogado falou sobre as leis vigentes nesses casos. O segundo, dessa terça-feira, girou em torno de uma jovem com anorexia. Médicos falaram sobre a doença.
Incomoda o fato de que, tirando os profissionais
especializados que dão as explicações técnicas, todo o resto é fake. A começar
por Helena Lemos, que é apenas uma personagem interpretada pela atriz Maga
Bianchi. Se era para ter tom jornalístico, então por que não buscaram um
profissional da área? A atriz, desconhecida do grande público, como todo o
resto do elenco, vive uma personagem que está dentro da história, entrevistando
os envolvidos no caso, e que também apresenta o programa. Ou seja, uma repórter
e apresentadora fictícia, numa atração cuja proposta é mostrar marcas da vida real.
Aliás, tirando o fato de mostrar dramas
supostamente contados por pessoas reais no site do programa na internet, nada
mais tem de semelhante com a série “Caso Verdade”, exibida nos anos 80 pela
Globo, como foi sugerido antes da estreia. O formato da Globo era outro: a cada
semana era contada uma história em cinco capítulos e atores se revezavam na
apresentação. Tony Ramos, Regina Duarte, Júlia Lemmertz foram alguns deles.
“Marcas da Vida”, cujo formato pertence à britânica
Fremantle Media no Brasil, mesma produtora de realities como “O Aprendiz” e
“Ídolos”, faz lembrar mais os casos mostrados no programa que Márcia
Goldschmidt tinha na Band. A diferença é que Márcia tinha debate no palco, com
platéia, e carregava as tintas no sensacionalismo.
A câmera nervosa também dá uma certa aflição,
pois balança tanto que parece até que todos estão em um navio. Aliás, o
cameraman é mais um personagem, não mostrado para o público, mas que tem sua
presença revelada pelos personagens. No primeiro episódio, por exemplo, em que
o marido descobre que não é pai biológico da filha de 6 anos do casal, as
brigas entre ele e a mulher são interrompidas por ela, mandando o câmera parar
de gravar. O que também soa falso. Falta mais verdade para atracar em um porto
seguro.
Para a primeira temporada estavam previstos 25
casos. Destes, sete estão prontos. Mas, diante do fraco desempenho, não será
surpresa se o programa sair do ar sem deixar suas marcas. Coisas da vida.