O beijo entre Beatriz e
Júlia, personagens de Bruna Marquezine e Letícia Colin, foi o ponto alto do
capítulo dessa terça-feira (18) de “Nada Será Como Antes”, na Rede Globo. Ambientada nos anos 50, a série que
estreou há três semanas tem
como mote central uma visão fictícia e romântica da criação da primeira
emissora de televisão no Brasil, tendo como ponto de partida o rádio. Nela,
Beatriz é uma cantora de cabaré que vira atriz graças a seu romance com
Otaviano (Daniel Oliveira), principal patrocinador da TV Guanabara, mas acaba
seduzindo também a irmã do rapaz, Júlia. Além do beijo na boca durante a
primeira transmissão de um baile de carnaval, houve ainda a sequência da
relação sexual das duas na cama. Beatriz, enquanto transava com Otaviano,
percebe que está sendo espiada por Júlia pela fresta da porta do quarto e então
espera ele dormir para ir ao quarto da cunhada seduzi-la. “Eu quero você e seu
irmão. Vocês são tão gostosos, tão sexy”, diz ela, dando início ao triângulo
amoroso da história.
Mas, independentemente dos jogos de seduções, prato cheio para qualquer
programa repercutir nas redes sociais e assim tentar conquistar maior
audiência, o que realmente conta é que para
quem esperava que a criação da televisão fosse ser retratada seguindo fielmente
a história da vida real, “Nada Será Como Antes” surpreende a cada episódio pela
deliciosa ousadia em usar e abusar da liberdade poética nos mínimos detalhes.
Ali a intenção de ter algum teor didático ou documental passou de forma lúdica,
dando um colorido novo ao preto e branco da época.
Com direção artística de
Luiz Villamarim, o trabalho de reconstituição da década é caprichado, com uma
direção de arte meticulosamente impecável, figurinos que correspondem
exatamente ao ambiente e ao momento que os personagens estão vivendo e uma
iluminação sombria sem ser pesada. E no texto se sobressai a marca
inconfundível de Jorge Furtado e Guel Arraes, que criaram a série e escrevem
juntos com João Falcão. Os diálogos contêm uma pontuação marcante, o que
permite uma interpretação também contundente dos atores.
Protagonistas da série,
Murilo Benício e Débora Falabella, respectivamente nos papéis de Saulo, o
produtor e criador da emissora de TV, e Verônica, grande estrela de novelas,
formam um casal tão crível na ficção quanto o são na vida real. Talvez esse
tipo de artifício, mesmo que não tenha sido intencional, já não cause o mesmo
efeito dos tempos em que Tarcísio Meira e Glória Menezes faziam o jovem par
romântico dos folhetins. Murilo e Débora, no entanto, conseguem delimitar bem o
talento individual de cada um em cena.
Apesar da polêmica em torno dos dotes sensuais que Bruna Marquezine vem mostrando, o que
realmente merecerá destaque no quarto e próximo episódio a ser exibido, que já
está disponível no Globo Play, será mais uma interpretação magistral de Cássia
Kiss. No papel da mãe de Beatriz, a atriz comove como a humilde empregada
doméstica que de repente se vê diante de um aparelho de televisão para assistir
pela primeira vez à filha atuando na novela. Sozinha em casa, dona Odete veste
sua melhor roupa e até passa perfume atrás da orelha para se sentar à frente do televisor, e,
sem dizer uma palavra, sem fazer qualquer gesto, protagoniza uma cena que é um
verdadeiro transbordamento de emoção. Essa, sim, merece todos os aplausos.
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