terça-feira, 11 de outubro de 2016

“A Lei do Amor”: Autores exageram no excesso de mistério em torno de segredos e nas justificativas pueris para as vinganças


“Salve-se você enquanto é tempo, meu filho”, diz Fausto Leitão, personagem de Tarcísio Meira, a Pedro, interpretado por Reynaldo Gianecchini, no capítulo dessa segunda-feira (10) de “A Lei do Amor”. A frase proferida, carregada da emoção peculiar do grande ator que faz parte da história da televisão brasileira, teria causado um impacto muito maior se o público soubesse o tipo de dor que realmente está corroendo o personagem, o poderoso empresário e ex-prefeito de uma cidadezinha do interior de São Dimas. E talvez esteja aí um dos motivos de a novela das nove da Rede Globo, que está em sua segunda semana no ar, ainda não ter emplacado: os autores Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari fazem tanto mistério em torno dos segredos que há por trás de cada trama que não há como o público se prender ou torcer por este ou aquele personagem.

A história central começou mostrando Helô (Isabella Drummond) e Pedro (Chaid Sued), ela uma menina pobre e ele o menino rico, filho de Fausto, o responsável pela desgraça que se abateu sobre os pais dela. Ela jura vingança, mas o casal é separado por uma armação de Magnólia, a madrasta perversa dele vivida por Vera Holtz. Ela vai ser modelo em São Paulo e ele cai no mundo sem destino. No quinto capítulo acontece uma passagem de tempo de 20 anos, os dois se reencontram. Helô, agora interpretada por Claudia Abreu, está mal casada e rica, mas Pedro (Reynaldo Gianecchini), ainda solteiro, descobre o motivo “cruel” que o separou de sua amada, os dois se reaproximam e vão lutar para ficar juntos. Mas no entorno dos dois há mil tramoias políticas, armações, jogos de sedução, dramas, doenças e até crimes, tudo envolto em um suspense mal alinhavado e que chega a ser enfadonho pela falta de pistas ou sinais de motivos que realmente os justifiquem.

A novela também vem exagerando na liberdade poética e nas situações quase inverossímeis. Desde a primeira fase já houve algumas derrapadas. Primeiro a direção de arte exagerou no lúdico ao fazer um barraco que parecia até o lugar mais romântico do mundo para a mocinha morar. Depois ela sai de sua humilde residência, sem estudo, sem cultura, sem nenhum preparo, e viajou sozinha para o Japão onde foi fazer trabalhos como modelo. Como conseguiu, se mal sabia andar na estação do metrô de São Paulo a primeira vez que saiu de São Dimas?  

E ao passar para a fase atual, foi simplesmente o cúmulo da coincidência Helô e Pedro se reencontrarem em Paraty, cidade histórica do Rio de Janeiro, exatamente na árvore em que penduraram um amuleto de coração quando eram namorados. Estranho duas décadas depois Helô ter esquecido a vingança mortal contra Fausto Leitão e sua grande mágoa ainda é ter visto uma mulher nua na cama de Pedro no passado. Esse romance está pueril demais, os diálogos cheios de frases feitas e vazios de impacto e originalidade.

Até agora os personagens mais interessantes são Vitória (Sophia Abrahão/Camila Morgado) e Ciro (Maurício Destri/Thiago Lacerda), tanto na fase jovem quanto adulta. A trama que envolve o casal é a mais transparente e crível, mesmo com as atitudes dissimuladas dele. Os dois parece até serem os personagens certos perdidos na novela errada. Resta aguardar que, após o acidente de carro com Fausto, alguns mistérios comecem a deixar de serem secretos até para o público.



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