Errou de restaurante quem esperava que o “MasterChef
Profissionais” seria um duelo de titãs transformando a cozinha em um palco de
pratos surpreendentes e desempenhos irretocáveis. Os ingredientes dessa
competição de culinária da Band, a primeira que reúne apenas cozinheiros com formação
e experiência comprovadas, vem se assemelhando com os que se destacavam nas
temporadas com amadores, nas quais as relações interpessoais e os temperamentos
individuais dos participantes serviam como principais temperos para a edição.
No episódio dessa terça-feira (25), a cereja do bolo,
literalmente, ficou por conta da emoção de Marcelo, que dedicou sua vitória na prova
de eliminação, a primeira de confeitaria do programa, ao pai que estaria de
aniversário e faleceu há quatro anos. A emoção do cozinheiro contagiou a todos,
levando às lágrimas até mesmo os jurados. É claro que a edição se preparou para
esse momento, já que antes das avaliações foi exibido um clipe de Marcelo em
casa, ao lado da mãe, contando um pouco sobre sua trajetória e sobre a perda do
pai, que não aprovava sua ideia de estudar gastronomia.
Tirando as lágrimas do último bloco, Ivo e João
foram os que ganharam mais holofote na noite. E não é por menos. Em quatro
episódios, Ivo conseguiu dividir opiniões entre os que o defendem por ser o
mais experiente do grupo e os que o detestam por algumas atitudes consideradas
machistas e prepotentes. João, por sua vez, está se tornando cada vez mais um
personagem dele próprio, com sua extrema falta de modéstia e um senso crítico
feroz em relação aos demais.
Com certeza os defensores de Ivo ficaram sem argumento
quando ele se saiu muito mal na primeira prova, na qual os candidatos eram obrigados a usar pelo menos três
ingredientes da Caixa Misteriosa que continha uma verdadeira xepa de feira, com
restos de alimentos não usados, como pé e pescoço de galinha, cabeça de peixe,
osso com tutano, cascas e folhas de legumes e verduras. Ivo fez um cozido que
visualmente percebia-se estar muito gorduroso. E ainda foi dizer para
Paola Carossela que costumava usar aquele tipo de insumos para distribuir
refeições nas noites frias. Até Érick Jacquin notou a lorota e afirmou na cara dele:
“Eu não acredito que você falou isso... Que gosta de trabalhar com esses
ingredientes”. Para amenizar, o chef francês, que sabe ser elegante nas suas
indiretas, concluiu: “Está dizendo isso para conquistar a Paola”. Enquanto
Henrique Fogaça, com sua peculiar sutileza, largou na cara do candidato que a
comida parecia um vômito. Mas o que deixa Ivo mais indignado e vermelho de
raiva é ver os outros se saindo melhor do que ele, principalmente se for a Dayse,
sua ex-funcionária. Só fica satisfeito mesmo, não escondendo o sorriso
sarcástico, quando vê quem ele acha forte se dando mal nas provas.
Personificando um outro tipo de vilão da história está
João, que faz lembrar um personagem de tirinha. Seus depoimentos gravados à
parte são até engraçados, tamanha a falta de modéstia com que sempre diz que
foi injustiçado porque, segundo ele, seus pratos sempre merecem estar entre os
melhores. Invariavelmente, no começo de cada prova faz questão de lembrar que é
professor: “Eu já dei aula sobre produtos sustentáveis”, “Eu já dei aula de
confeiteiro”. Curiosamente em sua ficha consta que já foi chef de confeitaria
em restaurantes, porém não surpreendeu na prova do Opéra. Sem falar que é
mestre em dar pitacos sobre os pratos dos outros, com pose de jurado. E para
chamar a atenção sobre si, pegou carona na homenagem que Marcelo fez ao pai
falecido. Chorando e se vitimando, lembrou que entende o outro pois também está
longe de casa. Como assim? Seus familiares estão vivos em Recife. Parece até
piada.
Correndo por fora, entre os outros sete competidores,
ainda tem Dário, o jovem que vem se mostrando competente, concentrado e bom
companheiro. Mas já deixou claro que também é competitivo ao revelar querer ir
para a final com Ivo, para lutar contra um forte. E Fádia, aparentemente
insegura, que vem comendo pelas beiradas e enganando com a falsa impressão de
estar entre os mais fracos. Foi a vencedora da prova da Caixa Misteriosa.
Vale falar ainda sobre Priscylla, que faz a linha "uma estranha
no ninho". Desde a estreia ela não consegue fazer nada sozinha, está sempre
pedindo socorro aos colegas para tarefas básicas, como ligar uma batedeira, regular
um forno. Pede dicas o tempo todo sobre as receitas e nas provas de eliminação
não consegue se virar sem o auxílio de quem está no mezanino. Quando alguém não
ajuda, faz cara de vítima, como se não soubesse que em uma disputa é cada um
por si. Chega ser irritante ela ficar chorosa durante toda a execução dos pratos
repetindo que não vai dar certo, mas sempre com um sorriso que não dá para entender
se é de nervosa ou de quem já se conformou com o destino.
Ou seja, o que não falta nessa edição de Profissionais são personagens com perfis que se encaixam em todos os gêneros. Talvez tenha sido intencional selecionarem candidatos levando em conta mais as histórias pessoais e o temperamento de cada um do que exatamente um currículo que realmente comprovasse o profissionalismo de cada um. Até porque, torna um pouco menos difícil a posição dos chefs jurados na hora de julgar outros “profissionais”.
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