terça-feira, 4 de outubro de 2016

“A Lei do Amor”: Novela estreia sem cenas de impacto e justificativa para vingança que moverá heroína da história não convence


Já que acredito ser improvável fazer uma previsão justa sobre o conteúdo de uma novela baseada apenas em um capítulo, vou tecer apenas algumas considerações sobre a estreia de “A Lei do Amor” que foi ao ar nessa segunda-feira (3). Em primeiro lugar, ficou claro que estamos diante de uma história que traz os elementos clássicos dos folhetins mais tradicionais, como os encontros e desencontros do mocinho rico que se apaixona pela mocinha pobre, a disputa entre famílias arquinimigas que escondem segredos do passado, e os imbatíveis vilões dissimulados necessários para costurar todas as tramas.

Nada contra o resgate do bom e velho folhetim, pelo contrário, pois tivemos recentemente provas de que o excesso de inovação no gênero acaba afastando muitos noveleiros de plantão. Mas acredito que faltou o tão esperado clima vibrante de estreia, não teve aquela cena que fosse realmente impactante. Nenhuma fala, olhar ou gestual valeu um “meme” que agitasse as redes sociais. Não podemos esquecer que vivemos tempos em que conseguir viralizar um fato na internet já contribui para arrebanhar mais público para o programa, principalmente na teledramaturgia. E, bem ou mal, uma audiência alta é o melhor combustível para estimular e impulsionar uma boa história.

Quem não se lembra do famoso “Não estou disposta! Com licença...” dito por Beatriz, personagem de Glória Pires na estreia de “Babilônia”, em março de 2015? Poderia ser mais uma frase solta, mas na interpretação da atriz e na direção da cena ganhou um destaque inesperado. Sem falar no contexto em que foi dita: em meio a uma festa regada a champanhe, com a vilã cercada de glamour, como é típico no começo das novelas de Gilberto Braga. O grande público gosta disso, independentemente da classe social à qual pertence. E vamos combinar que a quermesse dessa estreia tinha mais iluminação do que qualquer outra coisa.

É claro que Maria Adelaide Amaral, que escreve “A Lei do Amor” com Vincent Villari, tem seu próprio estilo. E é inegável o talento da autora para contar histórias fortes, humanas e politizadas, principalmente em minisséries, como fez em “A Casa das Sete Mulheres”, “JK” e “Dalva e Herivelto: Uma Canção de Amor”. Daí ser grande a expectativa sobre o desenrolar dessa sua nova novela das nove, que a partir do quinto capítulo, que vai ao ar sexta-feira (7), mudará de fase e a história dará um salto de mais de 20 anos, passando de 1995 para os dias atuais. O casal protagonista, Helô e Pedro, vivido na juventude por Isabelle Drummond e Chaid Sued passará a ser interpretado por Cláudia Abreu e Reynaldo Gianecchini. Já Tarcísio Meira e Vera Holtz, que realmente foram os destaques no primeiro capítulo, continuarão no papel do casal Fausto e Magnólia Leitão.

Quanto à trama que deu o pontapé inicial à novela, não convenceu que a grande vingança de Helô contra o poderoso Fausto Leitão seja o fato de o empresário ter demitido seu pai, um funcionário que faltava ao trabalho porque vivia bêbado e mesmo não tendo comida em casa e remédio para a mulher doente estava sempre fumando e tomando cachaça. Como ele tinha dinheiro para sustentar o vício enquanto a filha pescava na represa um mísero peixe para o almoço? Aí, quando foi preso tentando assaltar a tecelagem onde trabalhava, tomando uma mulher como refém e até ameaçando-a de morte, mesmo usando um revólver de brinquedo, virou “vítima da sociedade”? Que valores são esses defendidos pelos “mocinhos” Helô e Pedro? Espera-se que a história em si realmente ganhe mais maturidade, pois esse argumento não convenceria mais nem mesmo em novela de época.