Já que acredito ser improvável fazer uma previsão
justa sobre o conteúdo de uma novela baseada apenas em um capítulo, vou tecer apenas
algumas considerações sobre a estreia de “A Lei do Amor” que foi ao ar nessa
segunda-feira (3). Em primeiro lugar, ficou claro que estamos diante de uma
história que traz os elementos clássicos dos folhetins mais tradicionais, como os
encontros e desencontros do mocinho rico que se apaixona pela mocinha pobre, a
disputa entre famílias arquinimigas que escondem segredos do passado, e os imbatíveis
vilões dissimulados necessários para costurar todas as tramas.
Nada contra o resgate do bom e velho folhetim, pelo
contrário, pois tivemos recentemente provas de que o excesso de inovação no
gênero acaba afastando muitos noveleiros de plantão. Mas acredito que faltou o tão
esperado clima vibrante de estreia, não teve aquela cena que fosse realmente
impactante. Nenhuma fala, olhar ou gestual valeu um “meme” que agitasse as
redes sociais. Não podemos esquecer que vivemos tempos em que conseguir viralizar
um fato na internet já contribui para arrebanhar mais público para o programa,
principalmente na teledramaturgia. E, bem ou mal, uma audiência alta é o melhor
combustível para estimular e impulsionar uma boa história.
Quem não se lembra do famoso “Não estou disposta! Com
licença...” dito por Beatriz, personagem de Glória Pires na estreia de “Babilônia”,
em março de 2015? Poderia ser mais uma frase solta, mas na interpretação da
atriz e na direção da cena ganhou um destaque inesperado. Sem falar no contexto
em que foi dita: em meio a uma festa regada a champanhe, com a vilã cercada de
glamour, como é típico no começo das novelas de Gilberto Braga. O grande público gosta
disso, independentemente da classe social à qual pertence. E vamos combinar que
a quermesse dessa estreia tinha mais iluminação do que qualquer outra coisa.
É claro que Maria Adelaide Amaral, que escreve “A Lei
do Amor” com Vincent Villari, tem seu próprio estilo. E é inegável o talento da
autora para contar histórias fortes, humanas e politizadas, principalmente em
minisséries, como fez em “A Casa das Sete Mulheres”, “JK” e “Dalva e Herivelto:
Uma Canção de Amor”. Daí ser grande a expectativa sobre o desenrolar dessa sua nova
novela das nove, que a partir do quinto capítulo, que vai ao ar sexta-feira
(7), mudará de fase e a história dará um salto de mais de 20 anos, passando de
1995 para os dias atuais. O casal protagonista, Helô e Pedro, vivido na juventude
por Isabelle Drummond e Chaid Sued passará a ser interpretado por Cláudia Abreu
e Reynaldo Gianecchini. Já Tarcísio Meira e Vera Holtz, que realmente foram os
destaques no primeiro capítulo, continuarão no papel do casal Fausto e Magnólia
Leitão.
Quanto à trama que deu o pontapé inicial à novela, não convenceu que a grande vingança de Helô contra o poderoso Fausto Leitão seja o fato de o empresário ter demitido seu pai, um funcionário que faltava ao trabalho porque vivia bêbado e mesmo não tendo comida em casa e remédio para a mulher doente estava sempre fumando e tomando cachaça. Como ele tinha dinheiro para sustentar o vício enquanto a filha pescava na represa um mísero peixe para o almoço? Aí, quando foi preso tentando assaltar a tecelagem onde trabalhava, tomando uma mulher como refém e até ameaçando-a de morte, mesmo usando um revólver de brinquedo, virou “vítima da sociedade”? Que valores são esses defendidos pelos “mocinhos” Helô e Pedro? Espera-se que a história em si realmente ganhe mais maturidade, pois esse argumento não convenceria mais nem mesmo em novela de época.