A narração do ator João
Miguel, aliada à sua excelente interpretação como Claudio Villas-Boas, pode
estar fazendo a diferença na montagem feita para a televisão do filme “Xingu”,
de Cao Hamburguer, que não chegou a ter grande repercussão ao estrear nos
cinemas em abril deste ano. Já a história sobre a instalação do Parque do Xingu
na década de 40 que começou a ser exibida na Rede Globo nessa terça-feira (25),
tomou a forma ideal de uma série, que está sendo exibida em quatro capítulos,
tendo como subtítulo “A Saga dos Irmãos Villas-Boas”. Além de João Miguel,
encabeçam a saga dos três irmãos Felipe Camargo, como Orlando, e Caio Blat, no
papel de Leonardo. Se no cinema a bilheteria não correspondeu às expectativas,
na televisão a audiência tem surpreendido e mostrado que a questão indígena
continua interessando ao grande público.
A história por si só
emociona e leva à reflexão ao mostrar a que preço para as civilizações
indígenas é buscado o progresso do país.
A narração de Claudio é cheia de mensagens e verdades: “Vamos sair do
território deles”, “Nós somos os invasores”, “O primeiro índio que eu vi
poderia ter me matado, mas não matou”, escreve ele em seu diário. Tudo começa
quando os três irmãos resolveram se alistar na expedição que visava ocupar “o
vazio do Brasil Central” na conhecida Marcha Para O Oeste, num processo de
interiorização do Brasil orquestrado pelo governo de Getúlio Vargas. Muitos
foram apenas de olho nos parcos salários. Outros, como os Villas-Boas, em busca
de aventura. E acabaram sendo fisgados pela cultura indígena. Principalmente ao
perceberem que, além de armas, facas, aviões e rádios, tinham levado também
doenças para aqueles seres tão diferentes.
O segundo capítulo, que
foi ao ar nessa quarta-feira (26), foi particularmente chocante, ao mostrar a
matança de índios por brancos, entre eles seringueiros que tentavam
escraviza-los. E em que também a imprensa tenta escrachar do trabalho dos três
irmãos sertanistas ao publicar a manchete de que Leonardo tinha engravidado uma
índia. E ainda tem mais dois capítulos pela frente.
Talvez “Xingu – A Saga
dos Irmãos Villas-Boas”, esteja funcionando na televisão muito melhor na versão
de série do que o filme no qual Hamburguer, além da direção, assinou o roteiro
ao lado de Elena Soarez. A fotografia de Adriano Goldman também tem os tons de
luzes realisticamente compatíveis com os horários da região. E é de se
valorizar nos créditos da abertura os nomes dos índios atores Maiarim Kaiabi,
Awakari Tumã Kaiabi, Adana Kambeba, Tapaié Waurá e Totomai Yawalapiti, à frente
de outros integrantes do elenco, como Maria Flor, Augusto Madeira e Fabio Lago.