segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

“Lado a Lado”: Novela de época extrapola no modernismo e transforma protagonistas, Laura e Isabel, em mulheres inconstantes diante das escolhas que fizeram na vida


Camila Pitanga e Marjorie Estiano formam em “Lado a Lado”, novela das seis da Rede Globo, uma dupla com uma química raramente encontrada entre atrizes que dividem o posto de protagonista da história. A sintonia vista entre suas personagens, respectivamente Isabel e Laura, é tanta que fica claro que ela existe também na vida real. Mas, infelizmente, na ficção, ambas estão começando a perder a admiração conquistada até agora com suas posições libertárias e avançadas para o século passado, época em que se passa a trama de Cláudia Lage e João Ximenes Braga, ao assumirem posturas contraditórias com o que apregoam.

Laura foi corajosa o suficiente para enfrentar uma sociedade inteira ao tomar a decisão de se divorciar de Edgar (Thiago Fragoso), mesmo sabendo que isso romperia os vínculos com seus familiares e a tornaria uma mulher mal vista e alvo de todo tipo de preconceito, mas não teve força para lutar pelo seu amor. Ela simplesmente abriu mão da própria felicidade por não aceitar que seu marido tivesse tido uma filha com outra mulher quando ainda era seu noivo. Edgar a traiu, sim. Mas num período em que nem ele nem ela se conheciam e ambos não tinham o menor interesse em concretizar aquele casamento arranjado.

Se Laura ama tanto Edgar quanto diz, por que não lutou por esse amor e se impôs diante da “outra”, Catarina (Alessandra Negrini), na condição de mulher oficial, já que o marido lhe deu todas as provas de que é ela quem ele realmente ama? Mesmo passados seis anos e vendo que Edgar continua sozinho e fiel a ela, Laura se mostra insegura e desconfiada, numa postura que não combina em nada com a imagem que ela tenta passar para todos de mulher forte e convicta de suas decisões. O pior é que ela mantém o marido afastado, mas sempre deixando no ar uma ponta de esperança para uma reconciliação. Como fez no capítulo dessa segunda-feira (24), em que foi atrás dele e depois de uma noite de amor mais uma vez recuou na hora de voltar a ser sua mulher. Esse comportamento contraditório não combina com o caráter da mocinha idealista e romântica que ela mostrava no começo da novela.

Já Isabel nunca mostrou um comportamento exatamente linear em termos de convicções. Logo após acreditar ter sido abandonada no altar por Zé Maria (Lázaro Ramos), ela nem pensou em investigar o que realmente tinha acontecido com o noivo. Sendo uma mulher calejada por sentir na pele as agressões que aqueles de sua raça passaram, ela deveria ter tido discernimento para buscar a verdade e não se acomodar na confortável posição de noiva abandonada. E usando essa vitimização como desculpa se entregou a Albertinho (Rafael Cardoso), no quarto que ocupava na casa de sua patroa, Madame Besançon (Beatriz Segall), a quem devia também as aulas de etiqueta e do idioma francês. Ou seja, ela não levou em consideração nem o respeito que devia a sua benfeitora. Impulso? Tesão? Então ela nunca tinha sentido isso quando estava com Zé?

Isabel soube dar a volta por cima ao ultrapassar as fronteiras e ousou ao arriscar uma carreira de dançarina de samba na França, mesmo contra a vontade de seu pai, Afonso (Milton Gonçalves). E o sucesso que fez no exterior só realçou características que já faziam parte de sua personalidade antes da fama. Ela continua sendo insensível ao que se passa no íntimo tanto de seu pai quanto no de Zé Maria e insiste em cobrar compreensão da parte de ambos, quando a própria não leva em consideração o que se passa no coração deles. Não foi o dinheiro que a transformou, o poder econômico apenas trouxe à tona seu desejo de ser o centro das atenções, como já demonstrava quando se destacava dançando no morro.

Laura e Isabel poderiam tranquilamente ser personagens de uma novela que se passa nos tempos atuais. Mas, mesmo assim, alguns comportamentos que estão tendo nessa fase da trama não combinam com o contexto. Ou Laura é forte a ponto de brigar por seu amor e enfrenta de forma mais inteligente aos preconceitos da época, ou assume ser uma mulher mal resolvida, que se faz de forte, mas vive chorando pelos cantos por não saber conduzir sua própria vida sozinha. Ou Isabel fica de vez com sua escolha de brilhar como a diva dos palcos, ou busca uma forma mais humilde de resgatar o respeito de seu pai e de seu grande amor, sem colocá-los na posição de seus dependentes.