Camila Pitanga e Marjorie Estiano formam em “Lado a Lado”, novela das seis da Rede Globo, uma dupla com uma química raramente encontrada entre atrizes que dividem o posto de protagonista da história. A sintonia vista entre suas personagens, respectivamente Isabel e Laura, é tanta que fica claro que ela existe também na vida real. Mas, infelizmente, na ficção, ambas estão começando a perder a admiração conquistada até agora com suas posições libertárias e avançadas para o século passado, época em que se passa a trama de Cláudia Lage e João Ximenes Braga, ao assumirem posturas contraditórias com o que apregoam.
Laura foi corajosa o suficiente para enfrentar uma
sociedade inteira ao tomar a decisão de se divorciar de Edgar (Thiago Fragoso),
mesmo sabendo que isso romperia os vínculos com seus familiares e a tornaria
uma mulher mal vista e alvo de todo tipo de preconceito, mas não teve força
para lutar pelo seu amor. Ela simplesmente abriu mão da própria felicidade por
não aceitar que seu marido tivesse tido uma filha com outra mulher quando ainda
era seu noivo. Edgar a traiu, sim. Mas num período em que nem ele nem ela se
conheciam e ambos não tinham o menor interesse em concretizar aquele casamento
arranjado.
Se Laura ama tanto Edgar quanto diz, por que não
lutou por esse amor e se impôs diante da “outra”, Catarina (Alessandra Negrini),
na condição de mulher oficial, já que o marido lhe deu todas as provas de que é
ela quem ele realmente ama? Mesmo passados seis anos e vendo que Edgar continua
sozinho e fiel a ela, Laura se mostra insegura e desconfiada, numa
postura que não combina em nada com a imagem que ela tenta passar para todos de
mulher forte e convicta de suas decisões. O pior é que ela mantém o marido afastado,
mas sempre deixando no ar uma ponta de esperança para uma reconciliação. Como fez no capítulo dessa segunda-feira (24), em que foi atrás dele e depois de uma noite de amor mais uma vez recuou na hora de voltar a ser sua mulher. Esse
comportamento contraditório não combina com o caráter da mocinha idealista e romântica
que ela mostrava no começo da novela.
Já Isabel nunca mostrou um comportamento exatamente
linear em termos de convicções. Logo após acreditar ter sido abandonada no
altar por Zé Maria (Lázaro Ramos), ela nem pensou em investigar o que realmente
tinha acontecido com o noivo. Sendo uma mulher calejada por sentir na pele as
agressões que aqueles de sua raça passaram, ela deveria ter tido discernimento
para buscar a verdade e não se acomodar na confortável posição de noiva
abandonada. E usando essa vitimização como desculpa se entregou a Albertinho (Rafael
Cardoso), no quarto que ocupava na casa de sua patroa, Madame Besançon (Beatriz
Segall), a quem devia também as aulas de etiqueta e do idioma francês. Ou seja,
ela não levou em consideração nem o respeito que devia a sua benfeitora.
Impulso? Tesão? Então ela nunca tinha sentido isso quando estava com Zé?
Isabel soube dar a volta por cima ao ultrapassar as
fronteiras e ousou ao arriscar uma carreira de dançarina de samba na
França, mesmo contra a vontade de seu pai, Afonso (Milton Gonçalves). E o
sucesso que fez no exterior só realçou características que já faziam parte
de sua personalidade antes da fama. Ela continua sendo insensível ao que se
passa no íntimo tanto de seu pai quanto no de Zé Maria e insiste em cobrar compreensão da parte de ambos, quando a própria não leva em consideração o que se passa no coração deles. Não foi o dinheiro que
a transformou, o poder econômico apenas trouxe à tona seu desejo de ser o centro
das atenções, como já demonstrava quando se destacava
dançando no morro.