Zezé Polessa, sem roubar a cena de ninguém nem
causar estardalhaço, tem cuidado ponto a ponto o tear do tapete de Berna, sua
personagem turca em “Salve Jorge”, novela das nove da Rede Globo. Enquanto a
trama de Glória Perez se arrasta com situações repetitivas e interpretações
pouco convincentes, Berna é aquela mulher que traz consigo a dor de ter visto o
sonho da maternidade se esvair ao perder seu primeiro filho ainda bebê e, na
ânsia de ser mãe, não mediu as consequências de sua decisão de adotar uma
criança a qualquer preço.
Passados vários anos, o destino vem cobrar a conta,
e ela não apenas sofre com a ideia de deixar de continuar tendo o amor da
filha, Aisha (Dani Moreno), como ainda é chantageada pela traficante de bebês,
que ameaça colocar seu casamento em risco. A situação folhetinesca, mas que
deve acontecer com frequência em qualquer cidade, país ou continente, não deixa
dúvidas sobre o que é certo ou errado. Mas desperta um sentimento de pena e
solidariedade a quem sente na pele o drama. “Eu não menti. Eu omiti”, afirmou
Berna, tentando justificar seu erro de ter tentado fugir da burocracia de uma
adoção. Zezé passa tanta verdade ao mostrar a dor da personagem que não há como
não se comover com sua situação.
Segundo Berna, a mãe biológica daria o filho para
adoção de qualquer forma para qualquer um, pois não teria como sustentar a
criança. É uma saída fácil usada por ela para tentar amenizar uma negociação
que se configura em um crime. Mas, no mundo em que vivemos quantas mães não
fazem isso? E, analisando o lado psicológico de Berna, haveria atenuantes por ela
não ter cometido uma ação premeditada que causasse mal a alguém?
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