domingo, 16 de dezembro de 2012

“Salve Jorge”: Zezé Polessa traz mais uma coadjuvante de seu curriculum para o centro da história ao dar a Berna uma interpretação apaixonante e ao mesmo tempo contida


Zezé Polessa, sem roubar a cena de ninguém nem causar estardalhaço, tem cuidado ponto a ponto o tear do tapete de Berna, sua personagem turca em “Salve Jorge”, novela das nove da Rede Globo. Enquanto a trama de Glória Perez se arrasta com situações repetitivas e interpretações pouco convincentes, Berna é aquela mulher que traz consigo a dor de ter visto o sonho da maternidade se esvair ao perder seu primeiro filho ainda bebê e, na ânsia de ser mãe, não mediu as consequências de sua decisão de adotar uma criança a qualquer preço.

Passados vários anos, o destino vem cobrar a conta, e ela não apenas sofre com a ideia de deixar de continuar tendo o amor da filha, Aisha (Dani Moreno), como ainda é chantageada pela traficante de bebês, que ameaça colocar seu casamento em risco. A situação folhetinesca, mas que deve acontecer com frequência em qualquer cidade, país ou continente, não deixa dúvidas sobre o que é certo ou errado. Mas desperta um sentimento de pena e solidariedade a quem sente na pele o drama. “Eu não menti. Eu omiti”, afirmou Berna, tentando justificar seu erro de ter tentado fugir da burocracia de uma adoção. Zezé passa tanta verdade ao mostrar a dor da personagem que não há como não se comover com sua situação.

Segundo Berna, a mãe biológica daria o filho para adoção de qualquer forma para qualquer um, pois não teria como sustentar a criança. É uma saída fácil usada por ela para tentar amenizar uma negociação que se configura em um crime. Mas, no mundo em que vivemos quantas mães não fazem isso? E, analisando o lado psicológico de Berna, haveria atenuantes por ela não ter cometido uma ação premeditada que causasse mal a alguém?

Berna é aquela personagem que merece uma avaliação um pouco mais baseada em situações de mulheres que, como ela, enfrentam na vida real o que está sendo mostrado na ficção. E Zezé é aquela atriz que tem um dom peculiar de mesclar humor com emoção com um equilíbrio que poucas atrizes trazem. Foi assim com a divertida Naná de “Top Model” (1989) e com a perversa Firma da minissérie “Memorial de Maria Moura” (1994). Zezé Polessa mais uma vez como coadjuvante está fazendo a diferença, dando a Berna uma interpretação intensa, apaixonada e ao mesmo tempo contida.

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