Clara Nunes saiu de cena muito cedo, no começo dos
anos 80. Mas o público mais jovem que não teve a oportunidade de testemunhar
seu talento como cantora de todos os ritmos tem a chance agora de conhecer um pouco
mais na série “Clara”, que estreou nesse sábado (1), no Canal Brasil, e
retratará a trajetória profissional daquela que foi uma das maiores intérpretes
da música brasileira. O primeiro dos
cinco episódios, “Quando Vim de Minas”, mostrou material de arquivo e
depoimentos de amigos e familiares da cantora, que morreu aos 39 anos, em 1983,
após fazer uma cirurgia de varizes nas pernas. O começo da vida pessoal, também
recheada de dramas, não foi mostrado. A série foca exclusivamente o aspecto
profissional.
A escolha de “Tristeza Pé No Chão”, sucesso de 1973
composto por Clara e que ficou marcado pelo choro do cavaco e da cuíca, foi perfeita
como tema de abertura. Assim como foi a ideia de abrir o programa com a voz
inconfundível de Vinícius de Moraes exaltando a homenageada: “Uma das maiores
cantoras brasileiras do momento e das que tem mais possibilidade de fazer uma
grande carreira, um grande caminho na canção popular do Brasil”, afirmava o poeta,
em uma mensagem gravada por ele no show “Poeta, Moça e Violão”, também de 1973.
Os depoimentos de amigos como Wagner Tiso, Milton
Nascimento, Paulinho da Viola e Eduardo Araújo, entre outros, foram feitos de
uma forma espontânea, num tom coloquial que desperta no telespectador a
sensação de se estar participando de uma roda de bate-papo na qual são
lembradas situações curiosas que marcaram a trajetória da artista. Alcione, por
exemplo, exaltou o fato de Clara, uma das maiores vendedoras de discos, ter ajudado
a abrir o mercado fonográfico para cantoras. Já Eduardo Araújo destacou que a
amiga passeava com desenvoltura não apenas no samba, como no bolero, no jazz,
na bossa nova.
Dirigida por Darcy Burger, a
série foi idealizada e roteirizada pelo jornalista Vagner Fernandes, inspirada
na biografia ‘Clara Nunes, Guerreira da Utopia’, de sua autoria. Foram quatro
anos de pesquisas para a construção de um acervo que reúne entrevistas em
rádio, apresentações em TV, músicas e fotografias, além de 48 depoimentos
inéditos de pessoas que
reconstituem a breve trajetória da cantora mineira. A ideia é levar o documentário
para o cinema em 2013.
Essa primeira etapa da história musical de Clara
mostrada no episódio de estreia, por ter acontecido em um período em que o
rádio era o veículo mais presente, há poucas imagens dela em cena. Contou com apenas
um vídeo da cantora interpretando “Serenata do Adeus”, de Vinícius de Moraes, poucas
e rápidas sequências de filmes antigos e, no fim, um clipe dela cantando “Você
Passa e Eu Acho Graça”, da década de 60. Uma pena, pois em uma estreia o
público quer ver mais a personagem central da história do que pessoas do seu
entorno. De qualquer forma, é de se esperar que nos próximos episódios, com um
material mais rico nos arquivos da televisão, a série ganhe mais a presença
visual da Guerreira.