domingo, 2 de dezembro de 2012

“Clara”: Convidados contam de forma coloquial e atraente a trajetória de Clara Nunes, mas série estreia carente de imagens da cantora para atrair o público




Clara Nunes saiu de cena muito cedo, no começo dos anos 80. Mas o público mais jovem que não teve a oportunidade de testemunhar seu talento como cantora de todos os ritmos tem a chance agora de conhecer um pouco mais na série “Clara”, que estreou nesse sábado (1), no Canal Brasil, e retratará a trajetória profissional daquela que foi uma das maiores intérpretes da música brasileira.  O primeiro dos cinco episódios, “Quando Vim de Minas”, mostrou material de arquivo e depoimentos de amigos e familiares da cantora, que morreu aos 39 anos, em 1983, após fazer uma cirurgia de varizes nas pernas. O começo da vida pessoal, também recheada de dramas, não foi mostrado. A série foca exclusivamente o aspecto profissional.

A escolha de “Tristeza Pé No Chão”, sucesso de 1973 composto por Clara e que ficou marcado pelo choro do cavaco e da cuíca, foi perfeita como tema de abertura. Assim como foi a ideia de abrir o programa com a voz inconfundível de Vinícius de Moraes exaltando a homenageada: “Uma das maiores cantoras brasileiras do momento e das que tem mais possibilidade de fazer uma grande carreira, um grande caminho na canção popular do Brasil”, afirmava o poeta, em uma mensagem gravada por ele no show “Poeta, Moça e Violão”, também de 1973.

Os depoimentos de amigos como Wagner Tiso, Milton Nascimento, Paulinho da Viola e Eduardo Araújo, entre outros, foram feitos de uma forma espontânea, num tom coloquial que desperta no telespectador a sensação de se estar participando de uma roda de bate-papo na qual são lembradas situações curiosas que marcaram a trajetória da artista. Alcione, por exemplo, exaltou o fato de Clara, uma das maiores vendedoras de discos, ter ajudado a abrir o mercado fonográfico para cantoras. Já Eduardo Araújo destacou que a amiga passeava com desenvoltura não apenas no samba, como no bolero, no jazz, na bossa nova. 
Dirigida por Darcy Burger, a série foi idealizada e roteirizada pelo jornalista Vagner Fernandes, inspirada na biografia ‘Clara Nunes, Guerreira da Utopia’, de sua autoria. Foram quatro anos de pesquisas para a construção de um acervo que reúne entrevistas em rádio, apresentações em TV, músicas e fotografias, além de 48 depoimentos inéditos de pessoas que reconstituem a breve trajetória da cantora mineira. A ideia é levar o documentário para o cinema em 2013.
Essa primeira etapa da história musical de Clara mostrada no episódio de estreia, por ter acontecido em um período em que o rádio era o veículo mais presente, há poucas imagens dela em cena. Contou com apenas um vídeo da cantora interpretando “Serenata do Adeus”, de Vinícius de Moraes, poucas e rápidas sequências de filmes antigos e, no fim, um clipe dela cantando “Você Passa e Eu Acho Graça”, da década de 60. Uma pena, pois em uma estreia o público quer ver mais a personagem central da história do que pessoas do seu entorno. De qualquer forma, é de se esperar que nos próximos episódios, com um material mais rico nos arquivos da televisão, a série ganhe mais a presença visual da Guerreira.