“Suburbia”, série da Rede Globo que chegou ao fim
nessa quinta-feira (20), tem que ser analisada no seu todo por trazer a grife
do diretor Luiz Fernando Carvalho, dessa vez contando com a contribuição
luxuosa de Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”, no roteiro. O último
capítulo, no entanto, deixou no ar a expectativa de algo diferente iria
acontecer e, quanto mais se aproximava do fim maior ficava a ansiedade. No fim,
o que se viu foi uma sequência de festa de casamento confusa, com cena dos
noivos ora em momento íntimo, ora dançando em uma roda festiva com os amigos.
No todo, o projeto merece ser exaltado,
principalmente pela coragem de Luiz Fernando em, mais uma vez, buscar atores
desconhecidos e até pessoas anônimas de fora do ramo para atuarem, como foi o
caso da protagonista Conceição, vivida por Érica Januza. No mais, é falta de
conhecimento exaltar o programa pela “ousadia” de ter seu núcleo principal na
periferia, subúrbio ou favela. Outros produtos da teledramaturgia já fizeram
isso. Ninguém se lembra de “Guerra Sem Fim”, novela de José Louzeiro que foi ao
ar na extinta Rede Manchete em 1993? E esse papo de que só agora estão falando
em classe C? “Dona Xepa”, novela de Gilberto Braga exibida em 1977 tinha como
protagonista quem?
Ousadia mesmo foi em fazer uma miscigenação de
crenças religiosas num mesmo núcleo, como foi o caso dos cultos de pastores
evangélicos convivendo com Conceição, devota de Nossa Senhora Aparecida, uma
santa da igreja católica, além de outras moradoras do morro claramente adeptas
do candomblé. A cena em que Cleiton (Fabrício Boliveira) dá seu testemunho em
uma igreja evangélica, após uma drástica mudança de sua vida, em que
“ressuscitou” após ser alvejado por balas por traficantes, parecia mais uma
cena de alguma minissérie da Rede Record.