sábado, 22 de dezembro de 2012

“Suburbia”: Desfecho ousou ao mostrar pregação evangélica na Globo, mas foi bem menos impactante dos que os sete capítulos anteriores da série





“Suburbia”, série da Rede Globo que chegou ao fim nessa quinta-feira (20), tem que ser analisada no seu todo por trazer a grife do diretor Luiz Fernando Carvalho, dessa vez contando com a contribuição luxuosa de Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”, no roteiro. O último capítulo, no entanto, deixou no ar a expectativa de algo diferente iria acontecer e, quanto mais se aproximava do fim maior ficava a ansiedade. No fim, o que se viu foi uma sequência de festa de casamento confusa, com cena dos noivos ora em momento íntimo, ora dançando em uma roda festiva com os amigos.

No todo, o projeto merece ser exaltado, principalmente pela coragem de Luiz Fernando em, mais uma vez, buscar atores desconhecidos e até pessoas anônimas de fora do ramo para atuarem, como foi o caso da protagonista Conceição, vivida por Érica Januza. No mais, é falta de conhecimento exaltar o programa pela “ousadia” de ter seu núcleo principal na periferia, subúrbio ou favela. Outros produtos da teledramaturgia já fizeram isso. Ninguém se lembra de “Guerra Sem Fim”, novela de José Louzeiro que foi ao ar na extinta Rede Manchete em 1993? E esse papo de que só agora estão falando em classe C? “Dona Xepa”, novela de Gilberto Braga exibida em 1977 tinha como protagonista quem?

Ousadia mesmo foi em fazer uma miscigenação de crenças religiosas num mesmo núcleo, como foi o caso dos cultos de pastores evangélicos convivendo com Conceição, devota de Nossa Senhora Aparecida, uma santa da igreja católica, além de outras moradoras do morro claramente adeptas do candomblé. A cena em que Cleiton (Fabrício Boliveira) dá seu testemunho em uma igreja evangélica, após uma drástica mudança de sua vida, em que “ressuscitou” após ser alvejado por balas por traficantes, parecia mais uma cena de alguma minissérie da Rede Record.

Em termos de direção, fotografia, produção, iluminação e demais partes técnicas, foi um trabalho irretocável. Em termos de roteiro, começou muito bem, mas foi se perdendo com o tempo. O fato de ser uma história contínua exibida apenas semanalmente também prejudica. Trata-se de uma série e não de um seriado. Se ela é contada em capítulos, diferente de episódios independentes, a distância entre a exibição de um e outro não colabora. O que emocionou mesmo, do início ao fim, foi a trilha sonora com sucessos antigos de Roberto Carlos.