“É veado, bicha ou homossexual? Crioulo,
negro, pessoa de cor ou afro-brasileiro?”, pergunta Bial abrindo o programa que
discutirá sobre a ditadura do politicamente correto. A cada edição será tratado
um tema diferente, sempre com uma pitada de política e sexo, já que o horário
permite. Mas nada de sisudez ou conceitos definitivos. No palco, no centro do
estúdio, à frente de Bial estão os convidados da noite: o jornalista Antônio
Carlos Queiroz, a ex-Casseta Maria Paula e o professor Luiz Felipe Condé. Logo
de cara o apresentador deixou claro que a ideia não é fazer discursos
inflamados quando Queiroz, em tom autoritário, falou sobre a "ditadura do correto".
“Você parece que está num palanque, como se a gente estivesse falando da macro
política. A gente está falando dos pequenos pecadilhos de todo dia. Você é
inocente?”, interveio Bial. “É que eu me empolguei”, desculpou-se o outro
jornalista.
De uma bancada, Alexandre Pires atacou de DJ
e falou sobre a polêmica criada pelo clipe gravado por ele junto com Neymar, cercados
por dançarinas popozudas e pessoas vestidas de gorilas. O cantor recebeu uma
advertência do Ministério Público, que considerou que ele estava promovendo
clichês de estereótipos contra negros e mulheres mostradas como símbolos
sexuais. “O respeito de uma pessoa para outra não afeta a possibilidade de
humor”, defendeu Queiroz.
Cantigas de roda, como “Atirei o pau no gato”
e “Boi da cara preta”, foram mostradas no telão em versões que seriam
politicamente corretas. E Maria Paula não perdeu a chance de apimentar a
conversa com humor. “Também tem a versão ‘me atirei no pau do gato’”, brincou
ela. O programa também teve testemunhos de anônimos que viveram situações de
assédio, tanto sexual quanto moral, em seus respectivos trabalhos. Os casos
foram encenados rapidamente por atores e depois os verdadeiros personagens
apresentados no palco contando o desfecho de suas histórias.
Tudo é mostrado muito resumidamente, para não
perder a agilidade. O que ajuda para que o tema não acabe se tornando repetitivo
e cansativo. Em vários momentos, porém, o excesso de preocupação com o tempo fez
a edição pecar até mesmo no corte das falas dos convidados, interrompidas
abruptamente, deixando a sensação de que o pensamento não foi concluído.
Já a plateia, formada na maioria por jovens,
mas também por adultos, parecia estar totalmente à vontade e até cantando junto
com o apresentador, sem aquela postura séria, contida, quase reprimida de
programas que querem parecer comportados e acabam ficando desanimados. E a interação
não se resume ao estúdio. Bial não abre mão de sua porção repórter e também
gravou pessoalmente enquete nas ruas sobre o que as pessoas consideram
politicamente incorreto em expressões como “veado”, “deu branco”.