João Emanuel Carneiro bebeu na fonte de outros
grandes autores, como Aguinaldo Silva e Gilberto Braga, no capítulo dessa
quarta-feira (25) de “Avenida Brasil”. Na cena em que Nina (Débora Falabella)
está escrachando em cima de Carminha (Adriana Esteves), o celular da patroa
toca e o som é o tango eletrônico do conjunto argentino Bafondo, mesma música
usada na abertura de “A Favorita”, também de João Emanuel. Curioso é que na
novela exibida em 2008, as protagonistas, as arqui-inimigas Flora (Patrícia Pilar)
e Donatela (Claudia Raia), também deixavam o público em dúvida sobre qual delas
era a maior vilã. Encaixou bem no embate entre Nina e Carminha.
Esse recurso de um
autor fazer referência de suas obras antigas em tramas atuais já é usado há muito
tempo. Recentemente, em “Fina Estampa”, de 2011, Aguinaldo Silva reviveu uma
cena de Renata Sorrah em “Senhora do Destino, quando Tereza Cristina
(Christiane Torloni) mata um mafioso, uma de suas vítimas, empurrando-o escada
abaixo, e ainda solta a frase: “Obrigada, Nazaré Tedesco”!”, referindo-se à
vilã da novela do mesmo autor, que foi ao ar em 2004.
Ainda em “Fina Estampa”,
Eva Wilma fez uma participação especialíssima como Tia Íris, que tinha o mesmo
perfil da Altina que ela interpretou em “A Indomada”, também de Aguinaldo. Não
bastasse as expressões em inglês, como o famoso “Of course”, no último capítulo
Tia Íris e sua companheira Alice (Thaís de Campos), que se tornaram
caminhoneiras, ao irem embora encontram pela frente vária opções de destinos,
todas referentes a cidades onde foram ambientadas novelas anteriores do autor: Asa
Branca (“Roque Santeiro”), Santana do Agreste (“Tieta”), Resplendor (“Pedra
Sobre Pedra”), Tubiacanga (“Fera Ferida”) e Greenville (“A Indomada”).
Em “Insensato Coração”,
de 2011, logo de cara se percebeu que o nome CTA da empresa aérea em que Pedro
(Eriberto Leão) trabalhava era um jogo das letras TCA, empresa aérea de “Vale
Tudo”, grande sucesso de 1988, também de Gilberto Braga. O autor ainda prestou
várias homenagens atores que fizeram parte do elenco de suas novelas. Como em
uma cena em que Horácio Cortez (Herson Capri) apareceu falando ao telefone com
Marion Novaes, que nunca tinha aparecido na história, mas tratava-se da perua
decadente vivida por Vera Holtz em “Paraíso Tropical”, de 2007.
E o que dizer das
Helenas que encabeçam todas as novelas de Manoel Carlos desde “Baila Comigo”,
de 1981? É claro que aí não se trata de uma auto referência propriamente dita,
mas sim numa repetição de nomes. Mas em “Mulheres Apaixonadas”, de 2003, quando
Christiane Torloni era a Helena da vez, e, como todas, cheia de defeitos e
qualidades, a personagem afirmou: “As Helenas sofrem, mas dão a volta por cima”.
Não deixou de ser uma fala autorreferente.