Produzida pela Eyeworks do Brasil, a adaptação do formato
argentino de “Agrandadytos” foi anunciada pela Band como uma tentativa de
entender a vida maluca do século 21 usando e abusando da sinceridade infantil. O
elenco foi bem escolhido, com crianças espertas e curiosas. A abertura foi bem
criativa, com Tas nos corredores da Band, dirigindo-se ao estúdio cercado por
crianças desempenhando funções de uma equipe de profissionais de TV responsável
pelo programa. Estão lá miniaturas de diretores, câmeras, maquiadores,
camareiros.
Mas o apresentador peca ao tratar seus colaboradores
mirins como se estivesse falando com os componentes do “CQC”, nas noites de
segunda-feira na mesma emissora. Tas, tentando ser engraçado, mas sendo pouco
educativo, refere-se às crianças como “micróbios”, “monstrinhos”, “bactérias”.
Ele esquece que não está tratando com Marco Luque, Rafael Cortez e Cia. Ah, ele
não usa esses termos diante delas, apenas quando está sozinho no estúdio.
Tem lá um quadro tipo pegadinha em que crianças são
colocadas numa sala de espera para resistir a uma mesa de doces ou se
surpreender com um carrinho de brinquedo movido por controle remoto. No “Mano a Mano”, em que Tas entrevista uma ou
duas crianças de cada vez, teve bons momentos, como o do garoto que não
entendia como ele iria aparecer na TV e o de outro que, ao ser perguntado sobre
o que era TPM respondeu: “É o nome desse programa”. Valeu pela inocência
infantil, mas em muitos momentos o apresentador quase se tornou inconveniente
na tentativa de arrancar declarações inusitadas sobre relacionamentos entre
homens e mulheres de crianças de 4, 5 anos.
O melhor mesmo foi o quadro “Escola de Gente Grande”, no qual o vovô Florisvaldo, de 59 anos, recebe uma aula de sua neta, Letícia, de 5 anos, para aprender a desenhar e pintar no computador. Ali sim a inteligência e esperteza da nova geração foi valorizada.
O melhor mesmo foi o quadro “Escola de Gente Grande”, no qual o vovô Florisvaldo, de 59 anos, recebe uma aula de sua neta, Letícia, de 5 anos, para aprender a desenhar e pintar no computador. Ali sim a inteligência e esperteza da nova geração foi valorizada.
Aí chega a vez do convidado da noite: Pelé. Antes de
começar a entrevista é mostrada uma enquete perguntando a várias crianças
quem é Pelé. “A gente não faz ideia”, disse uma. “É um clube”, “É cantor de
forró”, “É da Turma da Mônica”, foram outras respostas. Já das perguntas feitas
ao jogador, a maioria se referia a namoradas que o craque teve, filhos assumidos
ou não e até se ele preferia loiras ou morenas. Perguntas claramente formuladas
por adultos da produção do programa e decoradas pelas crianças. “Quantas
pessoas têm no mundo? Quantas delas por sua causa?”, indagou uma delas, que claramente
não tinha real noção do que estava falando. E questões que poderiam ser tratadas
de forma educativa, como quando o menino pergunta “Como nascem os bebês?”, nada
de esclarecedor aconteceu. Pelé deu uma resposta confusa falando do “encontro
do espermatozoide com o óvulo”, enquanto Tas gargalhava, como se estivesse
ouvindo uma piada.
Mas engraçado mesmo foi no encerramento, quando o
apresentador pediu que Pelé tocasse violão e cantasse cercado pelas crianças.
Logo nos primeiros acordes um dos meninos fez uma cara de horror, espantado não
se sabe se com a voz do Rei ou com o ritmo da música. Mas logo em seguida
voltou ao script e acompanhou os outros nas palmas, fingindo estar adorando.
Esse tipo de atração não é novidade. Há mais de um
ano o “Programa Raul Gil”, exibido nas tardes de sábado no SBT, tem o quadro
“Crianças Curiosas”, em que celebridades adultas são entrevistadas pelos
pequenos. Já passaram por lá Wanessa, Jorge Vercillo, Carlos Alberto de Nóbrega
e até o brega Falcão, que também está na lista de próximos convidados de Tas. De
1999 a 2002, o ator Márcio Garcia também apresentou o “Gente Inocente”, no
mesmo formato, nas tardes de domingo na Globo. Contava até com a presença de Chico Anysio à frente do quadro “Neném Sabe Tudo”.
A audiência de “Conversa de Gente Grande” foi baixa,
menos de dois pontos na média, deixando a Band em quinto lugar. Com certeza não
foi uma boa ideia querer concorrer no horário com parte do “Domingão do Faustão”
e parte do “Fantástico”, da Globo; parte do “Programa do Gugu” e parte de “A
Fazenda”, da Record; o “Programa Silvio Santos”, do SBT, e parte do game “O
Último Passageiro” e parte de “Saturday Night Life”, da Rede TV!. Esse último,
por sinal, apresentado pelo ex-companheiro de bancada de Tas no “CQC”, Rafael
Bastos. Talvez a saída seja sair das noites de domingo. Ou enxugar mais os
quadros e reduzir o tempo no ar.