Rafael Bastos não se intimidou ao encarar um
tribunal formado por jornalistas no “Roda Viva” dessa segunda-feira (30), na
TVE/ TV Cultura. O programa começou apresentando o convidado como um sujeito
que “perde o amigo, o emprego, a audiência, mas não a piada”. E o humorista, apresentador, ator e repórter
também mostrou que não perde a pose nem a chance de também criticar quem o critica. Em vários momentos suas respostas foram
muito mais incisivas do que as perguntas formuladas pelos jornalistas e Rafinha deixou muitos sem
palavras para replicar.
Na bancada de entrevistadores estavam os jornalistas
Silvia Poppovic, Tereza Novaes, Mauricio Stycer, Cristina Padiglione e
Guilherme Fiuza. O “Roda Viva” também contou, como sempre acontece, com a presença
do cartunista Paulo Caruso. É ele quem pergunta se Rafinha se tornou vítima de
sua própria piada, referindo-se à questão envolvendo a cantora Wanessa. “Eu
gero acesso e dinheiro a todos os veículos que estão aqui", respondeu,
apontando para os jornalistas presentes.
Rafael mostrou sua personalidade forte, coerência
nas posições e postura radical, mas assumidamente bem resolvida com ele
mesmo. Silvia Popovic, há dois anos fora
do ar, tentou aproveitar sua chance ser relembrada pelo público e se manifestar
mais do que os outros. Mas não foi bem sucedida. Para todas as perguntas,
feitas sempre em tom irônico, recebeu respostas que a fizeram calar. Chegou a criticar
o formato do “Saturday Night Live”, que Rafinha apresenta na Rede TV!, como se
ela já tivesse criado algo novo e revolucionário na televisão. “Não é o programa do Rafinha, apesar de ser
às vezes vendido como se fosse. Eu ali sou mais produtor executivo do que parte
do elenco”, esclareceu o humorista.
Rafinha levantou questões mais relevantes, como a
falta de uma discussão séria sobre o que se é permitido ou não no humor na TV. E
citou um exemplo da reação das pessoas nas ruas após sua demissão da Band. “Uma
das primeiras piadas que eu ouvi foi: 'qual é o cúmulo da pontaria? Você come a
mulher e acerta o bebê'. Eu ouvi essa piada aos 10 anos. Será que não tinham
outros interesses por trás para acontecer tanta polêmica?”, indagou ele.
Mas quando Mauricio Stycer perguntou se as piadas dos Trapalhões “com pegada infantil” poderiam ter um preconceito diluído, Rafinha chegou a se exaltar, lembrando um programa antigo em que Didi ao ter que trocar um pneu furado do carro, pedia um macaco e aparecia o Mussum. “A graça do Didi é a mesma, o que complica é a repercussão, são as cobrinhas que nem você, que no outro dia cria em torno disso. Você passa o dia inteiro assistindo as coisas para ver que merda que você vai falar das pessoas. É o teu trabalho, não julgo. Mas o que acontece é que as polêmicas não nascem do comediante, estou fazendo isso há cinco anos. O dia que a hashtag do Rafinha se tornou algo visível começou depois que um Mauricio Stycer da vida que, não tendo mais o que fazer, passa o dia inteiro esperando eu falar alguma coisa para fazer polêmica”, afirmou Rafinha, deixando seu interlocutor visivelmente sem graça.
Quando percebeu que a entrevista estava chegando ao fim, o humorista revelou ter partido dele a iniciativa de pedir a presença do escritor Guilherme Fiuza na bancada, ao lado dos outros jornalistas chamados pela direção do programa. “Eu bati o pé para o Guilherme estar aqui porque o momento sociológico é mais importante do que a fofoca da cantora e infelizmente a gente não entrou numa discussão. Tudo se baseou unicamente no que eu penso a respeito de tudo isso”, lamentou ele, referindo-se às perguntas repetitivas sobre a piada que fez envolvendo Wanessa e que motivou sua saída do “CQC” e demissão da Band.
Exagero dele. O programa teve muitos bons momentos. Graças, principalmente, à suas afirmações provocativas como: “Eu nunca me senti mal com a repercussão negativa. O artista é que não gosta que mexam com ele”, e “Você assiste hoje e vê que é programa de bundão”, referindo-se ao “CQC”. Também alfinetou quando respondeu a uma pergunta gravada feita pelo humorista Ary Toledo se ele não tinha medo de sair de cena por causa de suas piadas de antissemita: “Receio não tenho, mas pode acontecer. Tem gente agora falando ‘Que cara chato’, mas não muda de canal”, divertiu-se, sem modéstia. Mas com certa razão.
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