Fernanda
Montenegro não cansa de mostrar, com a maior naturalidade do mundo, por que é
considerada uma das maiores damas da TV, teatro e cinema de todos os tempos. Em
“A Maria do Brasil”, último episódio de “As Brasileiras”, que foi ao ar nessa
quinta-feira (28), ela mais uma vez conseguiu provocar risos e lágrimas no
telespectador, contracenando com outros dois grandes nomes da história da
dramaturgia: Pedro Paulo Rangel e Paulo José. A sintonia entre os três só
valorizaram o texto de Ana Maria Moretzsohn e de Daniel Filho, que também
assinou a direção.
O
episódio conta a história de Mary Torres (Fernanda), uma atriz que, apesar da idade
avançada, não perde a esperança de ainda atingir o estrelato. Ela divide suas
frustações e dificuldades financeiras com o grande amigo Ney (Pedro Paulo). É
tocante o começo da trama, quando Mary está em cena no palco de um teatro
declamando a cena dramática da morte de sua personagem. Da coxia, Ney murmura
junto todas as falas, decoradas até por ele, já que a mesma peça é encenada por
Mary há 40 anos para uma plateia quase vazia.
O
desespero eufórico de Mary ao receber um telefonema de uma emissora de TV
convidando ela a fazer uma participação na novela do horário nobre reflete
muito bem a realidade de muitos artistas que, da mesma forma, quase não tiveram
oportunidades em suas carreiras. E o mais triste para ela foi constatar que já
não tem mais a mesma memória nem audição de tempos atrás. Também parece fora da
modernidade de uma produção. “A personagem é velha. Precisa de maquiagem? Eu
sou mais velha do que ela!”, questiona para a maquiadora.
A
gravação da cena, na qual contracena com o galã da novela, interpretado por
Marco Ricca, é um desastre e ela acaba sendo dispensada. É chamada mais uma
vez. “Quem nasceu para holofote jamais ficará na escuridão”, vibra seu amigo e
parceiro, sempre otimista. Mas o convite é para ser figurante. Na hora, no entanto,
graças à insistência de Ney, que a acompanha, ela consegue ganhar uma fala de
uma frase. E em meio a muitos vai e vem no set, o destino coloca Mary diante de
Rômulo (Paulo José), um fã apaixonado desde quando ela começou a atuar.
A
presença de Paulo José em cena é sempre uma grata e emocionada surpresa. Não
tem como não aplaudir a forma como o ator se entrega com paixão aos
personagens. Vale ressaltar ainda a participação afetiva de Nathalia Timberg,
que aparece apenas na tela da TV de Mary e Ney, fazendo a novela exibida dentro
do episódio. E seu nome é citado por Mary, recordando dos tempos de juventude
em que as duas trabalharam juntas. E, se a felicidade para a atriz veterana não
chegou na forma de sucesso e fama, acabou chegando na forma de um grande
amor. “Em tempo algum teve um curso
tranquilo o verdadeiro amor. Mas, tudo está bem quando acaba bem!”, afirma Ney,
voltado para a câmera, enquanto Mary e Rômulo deixam a ficção para trás e vão
ser felizes na “vida real”.