quarta-feira, 20 de junho de 2012

“Gabriela”: Direção de fotografia e produção de arte dão estética rebuscada ao remake em que Juliana Paes pesa no erotismo para criar sua versão da personagem marcada pela interpretação original de Sonia Braga



Não há como ouvir “Modinha Para Gabriela” na voz de Gal Costa sem que imagens marcantes de “Gabriela”, exibida pela primeira vez em 1975, sejam imediatamente despertadas na memória. E lá vêm à tona cenas marcantes vividas por Sonia Braga, a morena da cor de cravo e canela que deu vida na televisão e no cinema à personagem-título do livro de Jorge Amado, de 1958. Não poderia ter sido diferente assistindo ao remake da novela que estreou nessa segunda-feira (18), na Globo. Por mais que o autor Walcyr Carrasco, responsável pela nova versão, diga que está se baseando apenas na literatura e não na novela escrita por Walter George Durst há 37 anos, é impossível evitar comparações. Principalmente por ter sido mantida a mesma trilha sonora.

Apesar de estar sendo chamada de novela das onze, a estreia foi mais cedo, logo após “Avenida Brasil”, pegando carona nos altos índices de audiência da trama de João Emanuel Carneiro. Mas passará a ser exibida de terça a sexta-feira às 23h, tal como aconteceu com o remake de “O Astro”. A história aborda a seca nordestina e a pacata cidade litorânea de Ilhéus de 1920. A personagem-título, Gabriela, é uma jovem do sertão baiano que vai para Ilhéus fugindo da seca nordestina, e lá seduz quase todos os homens com seu jeito ingenuamente sensual. E escandaliza as mulheres carolas da época. As tramoias e enredos políticos, sem dúvida, continuam bem atuais.

Juliana Paes está se esforçando para registrar sua marca e fugir do fantasma da Gabriela de Sonia Braga. E, pelo que já deu para perceber, na sua nova versão o apelo erótico se sobrepõe ao ar de menina simples, moleca e sorrateiramente sensual da personagem.  Já Humberto Martins deu ao turco Nacib um temperamento bem menos explosivo daquele feito por Armando Bógus. Diferente de Antonio Fagundes que manteve até o tique nervoso de tremer os dedos sobre a bengala, como fazia Paulo Gracindo quando interpretou o Coronel Ramiro Bastos.

Tirando a sempre talentosíssima Laura Cardoso, que em poucas aparições já domina todo o capítulo como a autoritária e moralista Dorotéia, o que vem roubando mesmo a cena dessa vez é o trabalho de produção de arte e a direção de fotografia.  O diretor geral Mauro Mendonça Filho, assim como os outros diretores de sua equipe, André Barros, Felipe Binder e Noa Bressane, estão apresentando um produto tão bom quanto foi o dos diretores Walter Avancini e Gonzaga Blota, guardando, é claro, as devidas proporções das diferentes épocas e tecnologias disponíveis.  Iluminação e enquadramentos estão dando uma roupagem nova a uma história já vista.

Já a cantora Ivete Sangalo por mais que se esforce, está a anos luz de chegar perto de dar a Maria Machadão a irreverência e convencimento mostrados pela veterana Eloísa Mafalda, primeira - e pelo jeito única - dona do Bataclan. Até porque, além de não ser uma atriz, Ivete não tem as características de uma dona de cabaré dos anos 20. Na época em que fez Maria Machadão, Heloísa já estava com 51 anos de idade, mais de 20 de carreira e tinha acabado de encerrar uma temporada de três anos de sucesso fazendo a Dona Nenê na versão original do seriado “A Grande Família”. Com certeza a personagem merecia no remake uma intérprete à altura da primeira.

Vale lembrar também que a versão original de “Gabriela”, de 132 capítulos, após ser exibida em 1975, foi reprisada em um compacto de 90 minutos em 1980, em outro compacto de 12 capítulos em 1892 e voltou ao ar entre 1988 e 1989, com 90 capítulos, no “Vale À Pena Ver De Novo”. Foi a primeira novela das dez exibida na sessão que vai ao ar às 13h30 na Globo. A nostalgia, portanto, não é privilégio apenas de quem já passou dos 40 anos, mas também das gerações que assistiram às reprises e hoje têm até menos de 30 anos. Portanto, o que não falta é público para traçar paralelos entre uma versão e outra.