Não há
como ouvir “Modinha Para Gabriela” na voz de Gal Costa sem que imagens
marcantes de “Gabriela”, exibida pela primeira vez em 1975, sejam imediatamente
despertadas na memória. E lá vêm à tona cenas marcantes vividas por Sonia
Braga, a morena da cor de cravo e canela que deu vida na televisão e no cinema
à personagem-título do livro de Jorge Amado, de 1958. Não poderia ter sido
diferente assistindo ao remake da novela que estreou nessa segunda-feira (18),
na Globo. Por mais que o autor Walcyr Carrasco, responsável pela nova versão,
diga que está se baseando apenas na literatura e não na novela escrita por
Walter George Durst há 37 anos, é impossível evitar comparações. Principalmente
por ter sido mantida a mesma trilha sonora.
Apesar de
estar sendo chamada de novela das onze, a estreia foi mais cedo, logo após
“Avenida Brasil”, pegando carona nos altos índices de audiência da trama de
João Emanuel Carneiro. Mas passará a ser exibida de terça a sexta-feira às 23h,
tal como aconteceu com o remake de “O Astro”. A história aborda a seca
nordestina e a pacata cidade litorânea de Ilhéus de 1920. A personagem-título,
Gabriela, é uma jovem do sertão baiano que vai para Ilhéus fugindo da seca
nordestina, e lá seduz quase todos os homens com seu jeito ingenuamente
sensual. E escandaliza as mulheres carolas da época. As tramoias e enredos
políticos, sem dúvida, continuam bem atuais.
Juliana
Paes está se esforçando para registrar sua marca e fugir do fantasma da
Gabriela de Sonia Braga. E, pelo que já deu para perceber, na sua nova versão o
apelo erótico se sobrepõe ao ar de menina simples, moleca e sorrateiramente
sensual da personagem. Já Humberto Martins deu ao turco Nacib um
temperamento bem menos explosivo daquele feito por Armando Bógus. Diferente de
Antonio Fagundes que manteve até o tique nervoso de tremer os dedos sobre a
bengala, como fazia Paulo Gracindo quando interpretou o Coronel Ramiro Bastos.
Tirando a
sempre talentosíssima Laura Cardoso, que em poucas aparições já domina todo o
capítulo como a autoritária e moralista Dorotéia, o que vem roubando mesmo a
cena dessa vez é o trabalho de produção de arte e a direção de fotografia.
O diretor geral Mauro Mendonça Filho, assim como os outros diretores de sua
equipe, André Barros, Felipe Binder e Noa Bressane, estão apresentando um
produto tão bom quanto foi o dos diretores Walter Avancini e Gonzaga Blota,
guardando, é claro, as devidas proporções das diferentes épocas e tecnologias
disponíveis. Iluminação e enquadramentos estão dando uma roupagem nova a
uma história já vista.
Já a
cantora Ivete Sangalo por mais que se esforce, está a anos luz de chegar perto
de dar a Maria Machadão a irreverência e convencimento mostrados pela veterana
Eloísa Mafalda, primeira - e pelo jeito única - dona do Bataclan. Até porque,
além de não ser uma atriz, Ivete não tem as características de uma dona de
cabaré dos anos 20. Na época em que fez Maria Machadão, Heloísa já estava com
51 anos de idade, mais de 20 de carreira e tinha acabado de encerrar uma
temporada de três anos de sucesso fazendo a Dona Nenê na versão original do
seriado “A Grande Família”. Com certeza a personagem merecia no remake uma
intérprete à altura da primeira.