Heloísa
Périssé sempre passeou com desenvoltura pelo universo do humor. Sua trajetória
é recheada por trabalhos cômicos. Até quando se aventurava na dramaturgia suas
personagens eram invariavelmente atrapalhadas e engraçadas. Mesmo quando
interpretou Dercy Gonçalves em sua fase jovem na minissérie “Dercy de Verdade”,
exibida em janeiro deste ano na Globo, estava envolvida com uma história
dramática, mas permeada pelo escracho e irreverência da protagonista, inspirada
na vida real. Já como Monalisa de “Avenida Brasil”, novela das 21h da mesma
emissora, Heloísa vem conseguindo mostrar seu amadurecimento também para
interpretar cenas nas quais romance e drama se mesclam, deixando de vez para
trás o risco de ficar presa ao estigma da atriz que só faz comédia.
Nos
capítulos que foram ao ar essa semana, Monalisa passou por dois momentos que
permitiram à sua intérprete se sobressair em cena. O primeiro foi aquele em
que, depois de descobrir que foi enganada por Silas (Ailton Graça) sobre a
doença no coração, inventada por ele apenas para se casar com ela, a
cabeleireira o abandona em plena lua-de-mel, volta para casa buscando apoio do
filho e da melhor amiga e percebe que teve sua confiança traída por todos. O
segundo momento foi o reencontro com Tufão (Murilo Benício), seu grande amor e
de quem era noiva no começo da história. O clima de romance entre os dois ainda
foi embalado por “Estória de Nós Dois”, música do cantor e compositor José
Augusto, figura tarimbada em temas de abertura e trilhas sonoras de novelas nos
anos 80 e 90.
Por
enquanto, Monalisa ainda terá que vencer alguns obstáculos para ficar com
Tufão. Rita/Nina (Débora Falabella) entrará no páreo, mesmo sendo apenas para
levar adiante seu plano de vingança. E Carminha, vivida por Adriana Esteves não
aceitará tão facilmente se separar do marido. No quesito interpretação, Heloísa
tem um grande desafio pela frente, já que Adriana tem brilhado como a estrela
maior na trama de João Emanuel Carneiro. Mas a cabeleireira tem a seu favor o
fato de sua rival ser tão maquiavélica que dificilmente terá torcida para que
Tufão volte para ela.
Agora é esperar também que Heloísa mantenha o
tom conquistado nessa altura da novela e não permita que o despertar da paixão
que estava adormecida de Monalisa pelo jogador de futebol a faça retroceder ao
que a personagem era no começo da história. Nos primeiros capítulos, mesmo
Monalisa sendo uma mulher guerreira e irreverente, ela não tinha a densidade
que mostra atualmente. O tom anasalado na voz da atriz também fazia lembrar
suas personagens cômicas anteriores, principalmente Tati, a adolescente da peça
“Cócegas” que já teve até quadro no “Fantástico”. Se o desejo de Heloísa é
ainda fazer uma vilã, como já revelou em entrevistas, está na hora de ela
mostrar que é capaz de vencer uma tarefa muito mais difícil: superar a vilã,
sem precisar para isso usar das mesmas armas da rival, nem tampouco ser a
mocinha boazinha da história. A faca e o queijo o autor já colocou em suas
mãos.