Maitê Proença deixou muito mais descontraído o bate-papo do “Reviva Especial Novelas” que foi ao na segunda-feira (4), no canal Viva, sob o comando da jornalista Glória Maria. O programa fez uma retrospectiva desde os primeiros folhetins e toda sua evolução até os tempos modernos, com imagens de arquivo e depoimentos gravados de profissionais que fizeram e fazem parte dessa história intercalando o debate em estúdio. Os outros três convidados eram o autor Whalter Negrão, o ator Mateus Solano e o doutorado em teledramaturgia Mauro Alencar. Mas foi a atriz que, acostumada a debates mais informais e acalorados como quando fazia parte do “Saia Justa”, do GNT, mostrou-se mais solta e à vontade para falar sobre sua experiência profissional.
Ao
apontar “O Salvador da Pátria”, novela de Lauro César Muniz, de 1989, como a
mais marcante que fez, Maitê comparou o momento político da ficção com o da
vida real mais recente. Na trama, ela era a professora Clotilde, que
alfabetizava o matuto Sassá Mutema (Lima Duarte) e com quem viveu um romance.
“Tinha temas políticos, era a história de um boia-fria que virava presidente.
Olha que atual (risos). Ela
alfabetizava aquela pessoa, que acabou virando um monstro. Se quiser saber como
a sociedade se comporta hoje, vê melhor na novela do que nos jornais”, afirmou
a atriz.
Quando o
assunto foi a estratégia de usar o horário das 18h para abordar temas mais
leves, Maitê deu uma alfinetada, de leve, em alguns colegas. “Grandes atores
não queriam fazer novela das seis porque pegava mal, queria dizer que estavam
botando eles na geladeira. Aí chamaram eu e o Tony Ramos para fazer
‘Felicidade’ (1991), meio que para tentar recuperar o negócio (audiência) que não ia bem, e a gente
subiu uns 10 pontos no Ibope. Mas também era um texto magistral do Manoel
Carlos, na sua fase mais porreta”, insinuou ela.
“Uma boa
história a gente ouve a qualquer hora”, tentou amenizar Mateus Solano,
discretamente. Whalter Negrão aproveitou para fazer um pouco de graça: “Estou
há 30 anos tentando fazer esse bom texto. Estou na minha trigésima sétima
novela. Espero um dia chegar lá”, brincou o autor, cuja última trama foi “Araguaia”,
em 2010.
No bloco
sobre remakes, Mateus Solano, que fará Mundinho na nova versão de “Gabriela”,
papel que foi de José Wilker no original em 1975, explicou que não gosta de ir
pela imitação: “Gosto de criar, porque os tempos e o público são outros”. Maitê,
que será Sinhazinha, personagem interpretada antes por Maria Fernanda, preferiu
falar sobre a releitura que será feita agora de “Guerra dos Sexos”, trama de
Silvio de Abreu da qual ela participou, em 1983. “Acho corajoso fazer de novo,
porque foi tão incrível". Já Mauro Alencar admitiu que sempre faz
comparações entre o original e o remake: “Tem um lado da minha mente onde fica
a primeira versão. Mas essa expectativa faz o público ligar na nova versão”.
“E
acontece mesmo essa história de o ator levar o personagem para casa?”, pergunta
Glória Maria. É claro que Maitê foi a primeira a se manifestar. “O Tony (Ramos), diz que não, mas é mentirinha
dele. Mas o Tony está acima de todos nós, já vive lá num lugar superior. Ele é
uma entidade”, falou a atriz, rindo. E continuou: “Mas para as outras pessoas
que vivem aqui embaixo como eu, levam. Você vive o dia inteiro carregando
aquela energia, fica mais horas lidando com aquilo do que com a sua vida real.
Fica impregnado”. Mateus Solano mais uma vez tentou fazer a linha politicamente
correto e teve resposta. “Impregnado fica. Mas tem que conseguir (sair do personagem). Senão pode acabar
sendo fatal, sim”, citou o trecho da música de Lulu Santos. E Maitê, em cima,
retrucou: “Marcelo Serrado diz que está desmunhecando até agora como Tunico
Bastos, que é um macho. E ele saiu daquele personagem (Crô, de ‘Fina
Estampa’) pra ganhar o Oscar”, lembrou ela, referindo-se ao atual trabalho
de Marcelo Serrado, o personagem que foi de Fúlvio Stefanini na primeira
“Gabriela”.
Maitê, no
entanto, teve plena aprovação ao tecer elogios ao autor de “Avenida Brasil”,
atual novela das nove da Globo: “João Emanuel Carneiro está bebendo na
realidade para levar para a ficção”. Mesmo sem falar, mas acompanhando com
gestos afirmativos de cabeça, concordando plenamente com a atriz, Whalter
Negrão mostrou que não só tem a grandeza de reconhecer o trabalho de outros
autores como também que não os encara como concorrentes. O que não é raro
acontecer, mesmo dentro de uma mesma emissora.