domingo, 19 de maio de 2013

“Salve Jorge”: Glória Perez é vanguardista em temas, mas se perde ao criar muitas tramas paralelas e personagens desnecessários que acabam sem desfecho


Assistindo ao último capítulo de “Salve Jorge”, que foi ao ar na sexta-feira (17), voltei um pouco no tempo, exatamente ao primeiro capítulo, exibido no dia 22 de outubro do ano passado, e constatei o quanto um autor pode se perder no meio do caminho por melhor que seja o argumento que ele tem nas mãos. Vanguardista por excelência, Glória Perez levantou dessa vez a questão do tráfico humano. Já tinha mostrado que é craque em antecipar na ficção discussões polêmicas, como fez sobre mães que comercializavam seus úteros em “Barriga de Aluguel” (1990), como quando chamou a atenção do público para o drama de crianças desaparecidas em “Explode Coração” (1995) e ao viajar na história da clonagem humana em “O Clone” (2001). E, como sempre, sobrevive às críticas em relação às situações inverossímeis que permeiam as tramas paralelas.

O desfecho de “Salve Jorge” não surpreendeu, apenas trouxe uma continuidade do que se viu ao longo de sete meses. Trouxe uma Nanda Costa (Morena) cumprindo com competência a missão de viver sua primeira protagonista numa história recheada de percalços que seriam difíceis de serem superados até por uma atriz acostumada a ser o fio condutor da trama. Um Rodrigo Lombardi (Théo), acostumado demais ao posto de galã, que não se superou nem mostrou ser “o cara”. E uma Dira Paes (Lucimar) histrionicamente apaixonante.

Os melhores momentos de Morena não foram com Théo, mas quando contracenou com Paloma Bernardi (Rosângela) e Laryssa Dias (Valeska). Vanda (Totia Meireles), convertida à religião na cadeia, deixou no ar uma indireta da autora a fatos da vida real ligados a ela própria. No mais, foram tentativas de dar humor a uma história permeada por um tema delicado. Talvez seja esse equilíbrio que ainda falte alcançar. O tema central, pesado e real, acaba se perdendo na tentativa de amenizar o drama.

A surra de Russo (Adriano Garib) parecia cena de um filme em que o vilão foi atacado, literalmente, por um bando de piranhas. Lívia (Claudia Raia) em uma boate fuleira perguntando se não tinha um frigobar e ainda sendo presa mergulhada numa taça cenográfica no palco de uma boate de quinta foi o auge da piração.

Independentemente de a quem pertença a autoria de uma novela, está na hora de a emissora, que se orgulha de produzir as melhores produções no gênero, atentar para a necessidade de se averiguar melhor o conteúdo do que se está oferecendo ao público. Antecipar um tema não basta mais. É preciso uma equipe trabalhando no entorno para que as tramas paralelas não se percam. E que atores de valor que batalharam para terem seu espaço não acabem como meros figurantes. Onde foram parar na trama as personagens de Eva Todor, Cristiana Oliveira, André Gonçalves, Elisângela... Ficou feio menosprezar tantos talentos escalados para nada.

A crítica da estreia, em outubro:

http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2012/10/salve-jorge-roteiro-agil-imagens-reais.html

Mais "Salve Jorge" em:

http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2013/05/salve-jorge-roberta-rodrigues-aproveita.html