No elenco, Juliano Cazarré deu um salto ao voltar ao
ar num curto espaço de tempo interpretando Ninho, um mochileiro riponga tão
pobre quanto era o Adauto de “Avenida Brasil”, mas com uma densidade mais
profunda e bem trabalhada dentro de toda a filosofia desapegada com que o
personagem encara a vida. Paolla Oliveira se deslocou bem nos dois momentos em
que sua protagonista, Paloma, abre mão da vida burguesa, vai para o mundo em
nome de uma paixão à primeira vista, volta para casa grávida e acaba tendo sua
filha roubada pelo próprio irmão, Félix, o vilão-mór vivido por Matheus Solano.
Matheus, por sinal, brilhou na maioria das cenas,
equilibrando muito bem as nuances do personagem, um obcecado pela idéia de ter
nas mãos o poder e a riqueza de sua família custe o que custar e que, ao mesmo
tempo, os indícios de que não é tão machão quanto tenta parecer para sua
mulher, a estilista Edith (Bárbara Paz). Em sutis trejeitos e olhares, o ator
deixou no ar um sinal de sua bissexualidade. Mas o melhor são as pérolas de
suas frases, como “Salguei a Santa Ceia”, “Genética não tem nada a ver com
cabelo pintado”, “Não acha. Ninguém perdeu nada” e “Chamando seu irmão de touro
vão achar que você é uma vaca”. O autor e seus colaboradores estão caprichando
nas falas de Félix.
Malvino Salvador, por sua vez, teve nas mãos cenas extremamente
fortes no papel de Bruno, um homem que perde a mulher e o filho no parto. Mas
corre o risco de se tornar mais um “herói” babaca. Não convenceu ele se
preocupar mais em continuar na faculdade enquanto a mulher continuou
trabalhando para sustentar o casal mesmo enfrentando uma gravidez de risco por
ter pressão alta. Pior, ele nem questionou a decisão dos médicos de fazerem um
parto normal diante dos resultados preocupantes feitos pela mulher durante toda
a gestação. No mais tem Antonio Fagundes, Suzana Vieira, Ary Fontoura e tantos outros veteranos que ainda vão surgir repetindo o que sempre fizeram de melhor.
Também não há como não identificar uma semelhança
absurda da sequência em que Ninho foi preso com drogas em um aeroporto na
Bolívia com as cenas de “Expresso da Meia-Noite”, filme de Alan Parker de 1978
que, coincidentemente, se passava na Turquia, cenário de “Salve Jorge”, novela
antecessora no horário. Para quem viu o filme percebeu que a sonoplastia usou o
mesmo recurso do som de suspense usado no cinema.