“Salve Jorge”, novela das nove da Globo, chegou ao
seu décimo capítulo nessa quinta-feira (1) com o cavalo do guerreiro perdendo
fôlego e comendo poeira do fantasma do dragão de “Avenida Brasil”. A
expectativa de que Glória Perez viria armada para driblar o período de luto dos
telespectadores conquistados por João Emanuel Carneiro na novela anterior vem
se arrefecendo. A cada noite há mais órfãos de Carminha, Rita, Max, Nilo e Cia.
e lamentando as saudades que estão sentindo dos personagens e das tramas ágeis,
surpreendentes e bem costuradas do outro autor.
Falta unidade no todo de “Salve Jorge”. Até agora,
tirando o relacionamento de Théo (Rodrigo Lombardi) e Morena (Nanda Costa), que
liga o núcleo militar ao do Morro do Alemão, as demais tramas, em Madri, na
Espanha, e na Capadócia, na Turquia, flutuam de uma forma tão independente que
dá a sensação de não fazerem parte da mesma novela. A cada mudança de cenário
há uma história diferente e com personagens distintos. Pela sinopse, é sabido
que existem interligações entre várias personagens, mas está demorando demais
para serem mostradas. Essa morosidade nos acontecimentos e a falta de ganchos
impactantes tira a curiosidade em se saber o que acontecerá nas cenas do
próximo capítulo.
As semelhanças entre a cultura turca e a indiana
mostrada em “Caminho das Índias”, da mesma autora e exibida em 2009, também
tiram da novela atual uma novidade que é sempre aguardada em um novo folhetim. Expressões
como “Allah, Allah”, “Babisko” e “Masallah”, que já vinham sendo repetidas
exaustivamente, ganharam o reforço nessa quinta-feira do famoso “Inshallah”,
dito à exaustão em “Caminho das Índias”. No mesmo capítulo, foi patética a “dança
do descasamento” em cena feita para marcar a entrada na história da atriz Cleo
Pires no papel de Bianca. Aliás, talvez quando o turco Zyah, personagem de Domingos
Montagner (o Presidente de “O Brado Retumbante”), iniciar um romance com Bianca, a novela ganhe mais fogo.
Pelo menos espera-se. Porque a tal “química” entre Lombardi e Nanda não está sustentando a ebulição que ameaçou desencadear nas primeiras cenas mais quentes do casal. Tanto Théo quanto Morena tem perfis que oscilam demais em suas características. Passam da certeza para a dúvida, e vice-versa, com a mesma rapidez e intensidade. Théo é um oficial do Exército, campeão de cavalaria, que passou de mulherengo a romântico, mas continua sendo o filhinho da mamãe e quer que sua mulher more na mesma casa da sogra. Que mulher aceitaria isso? E um capitão que na hora de comemorar o noivado pediu que a mãe buscasse a garrafa de vinho que ele "ganhou de presente de aniversário" não deve se sentir tão superior assim à jovem da favela, não é?
Já Morena é uma jovem que tem personalidade para criar sozinha um filho pequeno e lutar para não depender de ninguém. Ela tem tudo para se tornar a verdadeira guerreira da história. Mas, é preciso mais agilidade nesse andar da carruagem, e também no desenrolar das tramas paralelas, antes que essa batalha perca ainda mais seu público.