Até que ponto é aceitável, justificável e
compreensível filhos adotivos moverem céus e infernos para descobrirem suas
origens, mesmo que isso vá machucar, magoar e destruir o sonho de quem lhes
ofereceu a real oportunidade de ter uma família? Cada caso é um caso. Mas,
independentemente de todas as análises e críticas em torno de “Salve Jorge”, novela
das nove da Globo, a questão está sendo tratada de uma forma bem franca e
aberta através de Aisha (Dani Monteiro), jovem brasileira adotada legalmente
pelo casal de turcos Berna (Zezé Polessa) e Mustafa (Antonio Calloni). E
levantando questionamentos sobre comportamentos em situações tão delicadas como
essa.
Aisha tem uma relação de carinho com os pais
adotivos, mas vive obcecada em revirar sua própria história, buscando seus pais
biológicos. Mustafa entende os anseios da filha, mas fica na linha de fogo
entre ela e Berna, sua mulher que buscou a adoção após ter perdido um filho e
descoberto que não poderia gerar outro.
É uma questão em que ninguém é dono da verdade. Cada
um terá sempre suas desculpas ou justificativas para abandonar ou adotar. E no
meio de tudo isso está o rejeitado, o acolhido, sem saber o limite de até que
ponto o caminho o distancia de sua origem biológica e o aproxima da oportunidade que lhe foi oferecida de uma nova vida.
Em um capítulo dessa semana, quando Aisha acusou
Berna e Mustafa de terem trocado sua data de aniversário apenas para terem nela
uma compensação pelo bebê que tinham perdido, a jovem se ligou apenas a um
detalhe, deixando de lado o que o casal tinha feito por ela. Em nenhum momento,
até agora, a mocinha questionou o porquê de ter sido abandonada ou doada por seus
pais verdadeiros.
A questão adoção é complexa e envolve sentimentos, temperamentos e histórico de vida, entre tantos outros "detalhes bem mais sérios". Mas, vendo esse exemplo da ficção, fico pensando que, se Berna tivesse levado a filha adotada para conhecer crianças órfãs em um orfanato à espera de uma família, e em situações bem piores daquela que ela passou um dia, talvez Aisha, vendo outros exemplos, fosse mais grata por ter sido acolhida pela família que tem. E agisse de uma forma mais delicada e sútil na sua busca por uma verdade que ainda poderá resultar em muito mais decepções.
Buscar suas verdadeiras origens é direito de cada um que assim o queira. Mas não menosprezando o amor de quem os acolheu...
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