“Quem sabe o príncipe virou um chato?”. Os mocinhos
das novelas atuais estão parecendo mais um personagem de “Malandragem”, música de
Cássia Eller, do que propriamente “Esse Cara Sou Eu”, de Roberto Carlos. Aqueles
que deveriam ser vistos como heróis na ficção estão cada vez mais se revelando
inseguros, sem uma personalidade marcante que faça deles homens realmente atraentes.
E, apesar do romantismo que tentam estampar, vivem mesmo é dando bola fora e “dando
no saco” das novas heroínas, estas sim, mulheres fortes, decididas e que sabem
o que querem. Verdadeiras guerreiras.
Vamos começar por “Salve Jorge”. Théo (Rodrigo
Lombardi), o galã da novela das nove, é um oficial do Exército, capitão da
cavalaria e campeão em hipismo que tem plenas condições de ter uma vida melhor,
de ser independente e dono de seu próprio nariz. Mas ainda mora com a mãe e se
comporta como um garoto mimado. Ele nunca se ligava por muito tempo em mulher
nenhuma, como os amigos diziam. Aí conheceu Morena (Nanda Costa), jovem do
morro, e, de repente, resolveu se casar, mas continuar morando com a mãe, mesmo
sabendo que ela renega a nora. Apesar de toda sua garra, Morena aceita viver
com a sogra que a rejeita, mas não baixa a cabeça para ela. Théo está parecendo
mais o Netinho (Dennis Carvalho), que vivia submisso à mãe, Margarida (Miriam
Pérsia), em “Locomotivas”, (1977). Só que Áurea (Suzana Faini) não é nenhuma velhinha
indefesa ou de saúde debilitada. Há muitos casos de filhos que, adultos e com boa situação financeira,
prestam toda assistência a suas mães sem necessariamente morar sob o mesmo
teto. Ele diz ainda não poder uma casa para morar com a mulher mas faz planos de comprar um cavalo... Théo também não foi correto quando questionou Érika (Flávia Alessandra)
no caso do seu cavalo doente. Quando a veterinária tentou se defender, ele se
fez de ofendido, acusando-a de estar colocando o caráter dele em dúvida. Esqueceu-se
de que foi ele quem duvidou do caráter dela primeiro, falando para o comandante
de sua suspeita de que ela tinha adulterado a ração do animal. Ou seja, o “mocinho”
da história está longe de ser o melhor exemplo de colega de trabalho, de ex-namorado
e até de futuro marido. Merece ficar sem
Morena e sozinho. Pelo menos por enquanto.
Em “Lado a Lado”, novela das seis, não há como não
se revoltar contra Edgar (Thiago Fragoso) vendo a forma cruel e egoísta como
ele tem agido em relação à Laura (Marjorie Estiano). O advogado revolucionário
e independente se tornou um babaca, enganado por uma “piriguete de época”,
Catarina (Alessandra Negrini). Depois de cenas apaixonantes entre ele e sua
mulher, Edgar descobre que tem uma filha em Portugal, e parte em busca da bebê,
que está doente. Até aí, muito digno. Mas sumir durante meses e não ter
antecipado sua volta ao Brasil mesmo sabendo que Laura estava grávida e tendo
uma gestação de risco? O comportamento atual de Edgar nada tem a ver com o
personagem que ele era antes de viajar. Mesmo sendo uma história do século
passado, ele, sendo tão inteligente e apaixonado, não poderia mostrar-se insensível
à dor da mulher que sofreu sozinha a dor da perda de seu filho em um aborto. E
mesmo sabendo dos contratempos, Edgar não está sabendo lidar com o problema e muito menos conciliar as duas "famílias". Seus atos e suas
palavras minimizam demais a dor da verdadeira mulher, que ainda tenta superar o trauma da perda do filho tão difícil de ser concebido, enquanto a outra, por quem ele
já foi apaixonado, vai ganhando terreno. Deve ter jogado no oceano toda sua
sensibilidade durante a viagem de navio na volta de Portugal. Merece ficar sem
Laura e se quebrar com Catarina. Pelo menos por enquanto.
Mesmo em “Guerra dos Sexos”, comédia das sete que gira
em torno de disputas entre homens contra mulheres, há exemplo de românticos facilmente
manipuláveis. Como é o caso de Fábio (Paulo Rocha), um jovem apaixonado por
Juliana (Mariana Ximenes), com quem vive um caso há tempos, mas não consegue se
separar da mulher, Manoela (Guilhermina Guinle), usando como desculpa a filha
que tem com ela, Ciça (Jesuela Moro). Na verdade, Fábio parece mesmo é preso à
posição cômoda de ter sua carreira de fotógrafo sustentada por Manoela, que é
filha de um milionário. Merece ficar sem Juliana. Pelo menos por enquanto.
Já em “Malhação”, por abranger um universo de jovens, é até compreensível ver as oscilações de sentimentos e insegurança na tomada de decisões. Mas até mesmo lá já está cansando o comportamento infantil de Dinho (Guilherme Prates), revezando-se entre Lia (Alice Wegmann) e Juliana (Agatha Moreira). Conhecido pela fama de “pegador” no Colégio Quadrante, ele já tinha ficado com Lia quando resolveu ficar com Ju. Depois, voltou a dar em cima de Lia. Aí, voltou para Ju. E agora, depois de ter sido pivô de uma briga que resultou na separação das duas jovens, que haviam feito jura de “amizade eterna” no começo dessa temporada, Dinho foge com Lia. Sabe-se lá por quanto tempo. Merece ficar sem as duas. Por um bom tempo.