Laura Cardoso, definitivamente, transformou
Dorotéia, personagem que não aparecia na versão de “Gabriela” exibida em 1975,
no que há de melhor em termos de dramaturgia no remake atualmente no ar na
Globo. No capítulo dessa sexta-feira (3), a atriz simplesmente deu mais uma
aula de interpretação ao contracenar com José Wilker, revelando que Coronel
Jesuíno, personagem do ator, estava sendo traído pela mulher, Sinhazinha (Maitê
Proença), com o dentista Osmundo (Erik Marmo).
“O senhor é corno, 'coroné'”. Dita por qualquer
outra ótima atriz a frase já teria força, mas na boca de Laura ganhou uma
dimensão muito maior. Cada palavra ganhava um poder particular na sua entonação
de voz, em toda a expressão de seu rosto, no arquear de sobrancelhas, no
tremular e comprimir os lábios e, inegavelmente, no olhar profundo e
avassalador que lançou, desafiando o então todo poderoso Jesuíno Mendonça.
Para completar, Dorotéia ainda sai de cena dando um
tapinha de consolo no ombro do coronel e marido traído. A personagem, que causa
em muitos momentos antipatia por seu autoritarismo e exagero ao se colocar como
o pilar dos bons costumes de Ilhéus, mantendo todas as beatas sob as suas
ordens, nesse momento com certeza conquistou muitas telespectadoras. Não por
ter delatado o romance entre Sinhazinha e Osmundo, mas por ter espezinhado um
homem machista e cruel, que “usava” a mulher como se ela fosse um objeto.
É de admirar ver uma atriz de 84 anos, atuando na
televisão desde a década de 50, ainda mostrar o mesmo vigor e a paixão com que
Laura se entrega a cada trabalho. Tanto em cinema como na televisão. A
trajetória em novelas começou em emissoras como TV Tupi, Rede Record e
Bandeirantes. A primeira na Rede Globo foi “Brilhante”, de Gilberto Braga,
exibida em 1981. Buscando na memória pelas mais atuais, não há como não lembrar
sua atuação como Sinhana no remake de “Irmãos Coragem”, em 1995. A adaptação do
original foi feita por Marcílio Moraes, Antônio Mercado e Margareth Boury, com
supervisão de texto de Dias Gomes. E
também a mãe das gêmeas na segunda versão de “Mulheres de Areia”, Dona Isaura,
que não escondia sua preferência pela malvada Raquel, desprezando a doce Ruth,
ambas interpretadas por Glória Pires. O remake foi ao ar em 1993, escrito por
Ivani Ribeiro.
Em 2009, a atriz chamou mais uma vez a atenção com sua
interpretação irretocável no papel da matriarca Laksmin Ananda em “Caminho das
Índias”, de Glória Perez.
Mas Laura também surpreende quando faz papéis
cômicos. Como a interesseira e golpista tia Ruth de “Salsa e Merengue”, primeira
novela de Miguel Falabella e Maria Carmen Barbosa, exibida em 1996. E ainda as
divertidas participações especiais em episódios de séries como “Sob Nova
Direção”, em que fez uma engraçada Madre Superiora em 2004. E, ano passado,
arrancou boas risadas do público em mais de um episódio de “A Grande Família”
fazendo a irreverente e moderninha mãe de Lineu (Marco Nanini). Dona Glória,
uma cantora de gafieira, não via o filho desde quando ele tinha 10 anos, e
aprontou muitas confusões.