sábado, 4 de agosto de 2012

“Gabriela”: Laura Cardoso dá show de interpretação e vira dona da história como a beata e moralista que enfrenta qualquer autoridade de Ilhéus na novela das onze



Laura Cardoso, definitivamente, transformou Dorotéia, personagem que não aparecia na versão de “Gabriela” exibida em 1975, no que há de melhor em termos de dramaturgia no remake atualmente no ar na Globo. No capítulo dessa sexta-feira (3), a atriz simplesmente deu mais uma aula de interpretação ao contracenar com José Wilker, revelando que Coronel Jesuíno, personagem do ator, estava sendo traído pela mulher, Sinhazinha (Maitê Proença), com o dentista Osmundo (Erik Marmo).

“O senhor é corno, 'coroné'”. Dita por qualquer outra ótima atriz a frase já teria força, mas na boca de Laura ganhou uma dimensão muito maior. Cada palavra ganhava um poder particular na sua entonação de voz, em toda a expressão de seu rosto, no arquear de sobrancelhas, no tremular e comprimir os lábios e, inegavelmente, no olhar profundo e avassalador que lançou, desafiando o então todo poderoso Jesuíno Mendonça.

Para completar, Dorotéia ainda sai de cena dando um tapinha de consolo no ombro do coronel e marido traído. A personagem, que causa em muitos momentos antipatia por seu autoritarismo e exagero ao se colocar como o pilar dos bons costumes de Ilhéus, mantendo todas as beatas sob as suas ordens, nesse momento com certeza conquistou muitas telespectadoras. Não por ter delatado o romance entre Sinhazinha e Osmundo, mas por ter espezinhado um homem machista e cruel, que “usava” a mulher como se ela fosse um objeto.

É de admirar ver uma atriz de 84 anos, atuando na televisão desde a década de 50, ainda mostrar o mesmo vigor e a paixão com que Laura se entrega a cada trabalho. Tanto em cinema como na televisão. A trajetória em novelas começou em emissoras como TV Tupi, Rede Record e Bandeirantes. A primeira na Rede Globo foi “Brilhante”, de Gilberto Braga, exibida em 1981. Buscando na memória pelas mais atuais, não há como não lembrar sua atuação como Sinhana no remake de “Irmãos Coragem”, em 1995. A adaptação do original foi feita por Marcílio Moraes, Antônio Mercado e Margareth Boury, com supervisão de texto de Dias Gomes.  E também a mãe das gêmeas na segunda versão de “Mulheres de Areia”, Dona Isaura, que não escondia sua preferência pela malvada Raquel, desprezando a doce Ruth, ambas interpretadas por Glória Pires. O remake foi ao ar em 1993, escrito por Ivani Ribeiro.
Em 2009, a atriz chamou mais uma vez a atenção com sua interpretação irretocável no papel da matriarca Laksmin Ananda em “Caminho das Índias”, de Glória Perez.

Mas Laura também surpreende quando faz papéis cômicos. Como a interesseira e golpista tia Ruth de “Salsa e Merengue”, primeira novela de Miguel Falabella e Maria Carmen Barbosa, exibida em 1996. E ainda as divertidas participações especiais em episódios de séries como “Sob Nova Direção”, em que fez uma engraçada Madre Superiora em 2004. E, ano passado, arrancou boas risadas do público em mais de um episódio de “A Grande Família” fazendo a irreverente e moderninha mãe de Lineu (Marco Nanini). Dona Glória, uma cantora de gafieira, não via o filho desde quando ele tinha 10 anos, e aprontou muitas confusões.

No cinema, estreou em 1964 em “O Homem das Encrencas”, e seguiu uma movimentada trajetória. Entre os principais títulos em que participou estão “Ariella” (1980), “Terra Estrangeira” (1995), “Copacabana” (2001), “A Casa da Mãe Joana” (2008) e os mais recentes, ambos de 2010, “Amazônia Caruana” e “Muita Calma Nessa Hora”.  Merecidamente, em 2006 Laura Cardoso recebeu em Brasília a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura, concedida a personalidades e instituições que se destacam por sua contribuição à cultura brasileira. E que venham ainda novos prêmios. Ela merece!