O
“rodízio de mulheres” proposto por Alexia (Carolina Ferraz) a Noêmia (Camila
Morgado) e Verônica (Débora Bloch), para que as três revezassem Cadinho
(Alexandre Borges) como marido, pode ter surpreendido a muitos telespectadores
quando os quatro fecharam o acordo no capítulo desse sábado (4) de “Avenida
Brasil”. Mas essa tal poligamia assumida não é nenhum traço de modernidade
trazido pelo autor da novela, João Emanuel Carneiro. Triângulos amorosos
acontecem com frequência. Quadriláteros, nem tanto. Mas também já houve
registro.
Em 1986,
em “Roda de Fogo”, os autores Lauro César Muniz e Marcílio Moraes mostraram,
também usando um tom de comédia, o relacionamento amoroso de um homem com três
mulheres. Tabaco (Osmar Prado) era um motorista que mantinha um namoro com
Patativa (Cláudia Alencar), Marlene (Carla Daniel) e Bel (Inês Galvão), sem que
uma soubesse da outra. No fim, quando as três descobriram a traição, prepararam
uma armadilha e juntas o levaram ao altar. Como foi o futuro dos quatro após
essa união ninguém ficou sabendo, pois já era o último capítulo.
Já em
“Avenida Brasil” será possível ver como o quarteto vai conviver com o
revezamento e se ele dará certo ou não. A diferença agora também é que, no
começo da trama, Cadinho era o marido de Noêmia e de Verônica. Uma não sabia da
outra. Alexia, a então amante, sabia. A história se inverteu: Alexia virou a
esposa oficial e as outras duas tornaram-se as amantes. E foi Alexia que, para
"botar ordem na bagunça", propôs que cada uma delas tivesse direito a
ficar com Cadinho durante três dias da semana. Até o fim da novela tudo pode
mudar.
A ideia
de João Emanuel em criar um “rodízio” pode ter sido divertida, mas há muitos
outros casos de traição na trama que não têm tanta graça, pois envolvem valores
mais próximos com a realidade cotidiana e mexem com sentimentos. Como é o caso
de Jorginho (Cauã Reymond), que, mesmo enquanto estava noivo de Débora
(Nathalia Dill), transou várias vezes com Nina (Débora Falabella). O que não
tem sido nada fácil para a apaixonada acrobata aceitar. Silas (Ailton Graça),
ainda casado com Monalisa (Heloísa Périssé), aproveitou uma briga com a mulher
na lua-de-mel para traí-la com a melhor amiga dela, Olenka (Fabíula
Nascimento). Mesmo tendo tido nesse período uma recaída com Tufão (Murilo
Benício), seu antigo noivo, Monalisa se sentiu apunhalada pelas costas duas
vezes. Curioso é que está previsto que ela não apenas vai perdoar a amiga
traíra como ainda vai transar novamente com Silas nos próximos capítulos.
Aliás,
Tufão, que teve uma recaída com Monalisa durante uma briga com Carminha
(Adriana Esteves), é o mais sonso da história, traído debaixo do teto de sua
própria casa. O ex-craque nem sonha que sua mulher sempre foi adúltera. Muito
menos que o amante dela é Max (Marcello Novaes), o cunhado, casado com Ivana
(Letícia Isnard), sua irmã. Para piorar, Tufão está apaixonado por Nina,
o grande amor de Jorginho, que ele pensa ser seu filho e na verdade é de Max, o
amante encostado.
Não
bastasse todo esse imbróglio, a Mansão da Traição ainda ganhou um ex-casal de
marido e mulher que se tornou um novo casal de amantes: Leleco (Marcus Caruso)
e Muricy (Eliane Giardini). Primeiro ele largou a mulher pela jovem Tessália
(Débora Nascimento), aí então ela foi curar a dor de ter sido traída aceitando
o amor de Adaulto (Juliano Cazarré). Entre tapas e beijos, os quatro
continuaram convivendo juntos. E, eis que, de repente, Leleco e Muricy
redescobriram o fogo da paixão um pelo outro e vêm mantendo encontros amorosos
escondidos de seus atuais parceiros.
Graças à
excelente interpretação dos atores, é possível encarar com bom humor certas
puladas de cerca de alguns personagens. Mas é preciso também observar o lado
sério de comportamentos não recomendáveis mostrados na ficção que podem ser
imitados na vida real. E vice versa. Em meio a um festival de troca de
parceiros, Suelen (Ísis Valverde) conseguiu deixar Leandro (Thiago Martins),
Iran (Bruno Gissoni), Darkson (José Loreto) e Diógenes (Otávio Augusto) de
cabelo em pé quando mentiu dizendo que estava grávida. Se cada um dos quatro
acreditou na possibilidade de ser o pai da (falsa) criança é porque nenhum
deles teve a menor preocupação em fazer sexo seguro.
Infelizmente,
o que aconteceu com os jogadores do Divino é o que mais se vê no mundo
futebolístico. Nesse caso, foi a ficção que imitou a realidade. Ao apostar em situações
de poligamia, adultério, variações de parceiros e sexo sem segurança, João
Emanuel Carneiro está mostrando comportamentos inadequados, mas muitos deles
presentes na vida real. Só que quando acontece aqui fora, não tem a menor
graça.