domingo, 5 de agosto de 2012

“Avenida Brasil”: Através de situações de poligamia, adultério, variações de parceiros e sexo sem segurança, autor alerta sobre comportamentos inadequados da vida real


O “rodízio de mulheres” proposto por Alexia (Carolina Ferraz) a Noêmia (Camila Morgado) e Verônica (Débora Bloch), para que as três revezassem Cadinho (Alexandre Borges) como marido, pode ter surpreendido a muitos telespectadores quando os quatro fecharam o acordo no capítulo desse sábado (4) de “Avenida Brasil”. Mas essa tal poligamia assumida não é nenhum traço de modernidade trazido pelo autor da novela, João Emanuel Carneiro.  Triângulos amorosos acontecem com frequência. Quadriláteros, nem tanto. Mas também já houve registro.

Em 1986, em “Roda de Fogo”, os autores Lauro César Muniz e Marcílio Moraes mostraram, também usando um tom de comédia, o relacionamento amoroso de um homem com três mulheres. Tabaco (Osmar Prado) era um motorista que mantinha um namoro com Patativa (Cláudia Alencar), Marlene (Carla Daniel) e Bel (Inês Galvão), sem que uma soubesse da outra. No fim, quando as três descobriram a traição, prepararam uma armadilha e juntas o levaram ao altar. Como foi o futuro dos quatro após essa união ninguém ficou sabendo, pois já era o último capítulo.

Já em “Avenida Brasil” será possível ver como o quarteto vai conviver com o revezamento e se ele dará certo ou não. A diferença agora também é que, no começo da trama, Cadinho era o marido de Noêmia e de Verônica. Uma não sabia da outra. Alexia, a então amante, sabia. A história se inverteu: Alexia virou a esposa oficial e as outras duas tornaram-se as amantes. E foi Alexia que, para "botar ordem na bagunça", propôs que cada uma delas tivesse direito a ficar com Cadinho durante três dias da semana. Até o fim da novela tudo pode mudar.

A ideia de João Emanuel em criar um “rodízio” pode ter sido divertida, mas há muitos outros casos de traição na trama que não têm tanta graça, pois envolvem valores mais próximos com a realidade cotidiana e mexem com sentimentos. Como é o caso de Jorginho (Cauã Reymond), que, mesmo enquanto estava noivo de Débora (Nathalia Dill), transou várias vezes com Nina (Débora Falabella). O que não tem sido nada fácil para a apaixonada acrobata aceitar. Silas (Ailton Graça), ainda casado com Monalisa (Heloísa Périssé), aproveitou uma briga com a mulher na lua-de-mel para traí-la com a melhor amiga dela, Olenka (Fabíula Nascimento). Mesmo tendo tido nesse período uma recaída com Tufão (Murilo Benício), seu antigo noivo, Monalisa se sentiu apunhalada pelas costas duas vezes. Curioso é que está previsto que ela não apenas vai perdoar a amiga traíra como ainda vai transar novamente com Silas nos próximos capítulos.

Aliás, Tufão, que teve uma recaída com Monalisa durante uma briga com Carminha (Adriana Esteves), é o mais sonso da história, traído debaixo do teto de sua própria casa. O ex-craque nem sonha que sua mulher sempre foi adúltera. Muito menos que o amante dela é Max (Marcello Novaes), o cunhado, casado com Ivana (Letícia Isnard), sua irmã.  Para piorar, Tufão está apaixonado por Nina, o grande amor de Jorginho, que ele pensa ser seu filho e na verdade é de Max, o amante encostado.

Não bastasse todo esse imbróglio, a Mansão da Traição ainda ganhou um ex-casal de marido e mulher que se tornou um novo casal de amantes: Leleco (Marcus Caruso) e Muricy (Eliane Giardini). Primeiro ele largou a mulher pela jovem Tessália (Débora Nascimento), aí então ela foi curar a dor de ter sido traída aceitando o amor de Adaulto (Juliano Cazarré). Entre tapas e beijos, os quatro continuaram convivendo juntos. E, eis que, de repente, Leleco e Muricy redescobriram o fogo da paixão um pelo outro e vêm mantendo encontros amorosos escondidos de seus atuais parceiros.

Graças à excelente interpretação dos atores, é possível encarar com bom humor certas puladas de cerca de alguns personagens. Mas é preciso também observar o lado sério de comportamentos não recomendáveis mostrados na ficção que podem ser imitados na vida real. E vice versa. Em meio a um festival de troca de parceiros, Suelen (Ísis Valverde) conseguiu deixar Leandro (Thiago Martins), Iran (Bruno Gissoni), Darkson (José Loreto) e Diógenes (Otávio Augusto) de cabelo em pé quando mentiu dizendo que estava grávida. Se cada um dos quatro acreditou na possibilidade de ser o pai da (falsa) criança é porque nenhum deles teve a menor preocupação em fazer sexo seguro.

Infelizmente, o que aconteceu com os jogadores do Divino é o que mais se vê no mundo futebolístico. Nesse caso, foi a ficção que imitou a realidade. Ao apostar em situações de poligamia, adultério, variações de parceiros e sexo sem segurança, João Emanuel Carneiro está mostrando comportamentos inadequados, mas muitos deles presentes na vida real. Só que quando acontece aqui fora, não tem a menor graça.