Anderson Silva é mais um a ser pego de surpresa por
um “Arquivo Confidencial” no “Domingão do Faustão” e a levantar o
questionamento: até que ponto o programa de Fausto Silva tem direito de
escarafunchar o passado de uma pessoa famosa, seja por seus feitos como artista
ou como esportista, e escancarar suas histórias mais íntimas, ao vivo, sem
autorização prévia? Para qualquer telespectador com um mínimo de sensibilidade
ficou visível o constrangimento do lutador ao assistir ao depoimento gravado
por sua mãe biológica, que o entregou para ser criado por tios, e também pais
de criação dela.
“Se ele estivesse comigo, hoje ele não seria quem
ele é”, tentou justificar-se ela. “A família sente falta, mas em breve a gente
vai se encontrar”, continuou dona Vera Lúcia, em tom sofredor. E, diante de um
Anderson que mostrava em seu semblante um misto de emoção e de questionamentos
sobre o porque de estar ali vendo e ouvindo aquilo, Faustão deu a declaração
menos propícia para o momento: “Imagina o que essa mulher deve ter passado. E
não está você aqui para criticar ou julgar seu pai biológico, a dona Vera Lúcia”,
sentenciou o apresentador.
“Pois é Fausto. Em parte foi ruim o que aconteceu.
Em parte foi bom, porque a minha tia (que o criou) passou bons e maus bocados
comigo também. Mas me deram todo amor que eu precisava”, resumiu Anderson,
humildemente e sem estender o assunto. Para os mesmos telespectadores com um
mínimo de sensibilidade ficou claro que, assim como a mãe biológica, o lutador
também tem sua versão dos fatos, e também não estava ali para ser criticado nem
julgado.
Não é a primeira vez que o “Arquivo Confidencial”
extrapola os limites entre a homenagem e a exposição sensacionalista e desnecessária.
Em 2008, ao participar como jurada do “Dança dos Famosos”, Maitê Proença deixou
Faustão numa saia justa ao confessar, ao vivo, ter ficado chateada com um “Arquivo
Confidencial” feito com ela em 2005, expondo o caso que envolvia a morte de sua
mãe. O apresentador não teve outra saída a não ser desculpar-se.
Em outubro do ano passado, ao ser homenageada no
quadro, Arlete Salles foi surpreendida quando o primeiro depoimento foi do
morador de um casebre no interior de Pernambuco, onde, segundo o programa, era
a casa onde ela tinha passado sua infância. Sem graça, a atriz explicou que
tinha saído de lá ainda bebê. “Eu devia engatinhar pelos cômodos. Saí quando
tinha três meses”, corrigiu Arlete, visivelmente chateada.
Se não é para criticar nem julgar ninguém, a
produção do quadro deveria ter, no mínimo, o cuidado de não transformar a
homenagem em um tribunal no qual o homenageado acaba sendo colocado como réu de
sua própria história. História que, por sinal, nem sempre tem a ver com seu
trabalho e que só ele tem direito de autorizar ou não ver exposta em rede
nacional, ao vivo e em cores.