Lauro
César Muniz faz do roteiro de “Máscaras” o principal protagonista da novela da
Record que estreou na terça-feira (10). Logo no primeiro capítulo o autor
prendeu a atenção ao mostrar o drama de Maria (Miriam Freeland), uma mulher que
sofre de depressão pós-parto. A história começa com ela voltando de um cruzeiro
acompanhada de seu psiquiatra, Dr. Décio (Petrônio Gontijo). Fica-se sabendo
que antes da viagem ela teria tentado matar o primeiro filho que teve com o
marido, Otávio Benaro (Fernando Pavão). E a partir desse viés muitos acontecimentos
vão deixando no ar uma dúvida constante sobre a veracidade dos fatos e a
autenticidade de cada personagem. Com direção de Ignácio Coqueiro, a trama é
ambientada no Mato Grosso do Sul.
Sem
maniqueísmo, a cada dia a trama toma novos rumos. O que aparentava ser bom
revela-se mau, e vice-versa. São as tais máscaras que vão trocando de face. Em
uma semana, o bebê de Maria foi sequestrado, o irmão dela, Martim (Heitor
Martinez), voltou de Dallas querendo arrancar dinheiro de Otávio, e o capítulo
dessa segunda-feira (16) deu margens a se suspeitar do tratamento ministrado em
Maria por Décio, dono de uma clínica de repouso. Acusado de dar alucinógenos
para a paciente e também após ter sedado Otávio por três dias, seu
comportamento passou a ser completamente dúbio.
Além de
Miriam Freelam, que dominou os primeiros capítulos, o trio formado por Fernando
Pavão, Petrônio Gontijo e Heitor Martinez tem convencido nos embates travados
entre eles nos quais a cada momento desconfia-se de qual deles é o verdadeiro,
ou o maior, vilão. Giselle Itié e Paloma Duarte ainda devem mostrar a que
vieram interpretando as prostitutas Manu e Nameless, respectivamente. As duas
moram em Dallas e serão peças-chave no envolvimento de Martim com uma
organização criminosa internacional. Mas vale destacar as atuações de Íris
Bruzzi, a governanta Olívia na fazenda de Otávio, e de Valquíria Ribeiro,
intérprete da ama de leite Maria. As duas mostraram entrega ao sofrimento de
suas personagens ao fazerem cenas fortes no episódio do sequestro do bebê nos
primeiros capítulos.
Está
merecendo maior cuidado da produção e direção o núcleo de Valéria Lage (Bete
Coelho), uma mulher rica graças a títulos herdados de ex-maridos e que se
dedica às artes. O ponto alto da personagem deveria ter sido quando ela
organizou um jantar para comemorar os sete anos de casada com Gomide (Henri
Pagnocelli), um deputado corrupto, e, diante dos convidados, ambos assinaram a
separação, com sorrisos irônicos. O discurso feito por Valéria sobre “o que é o
casamento, ou o descasamento” tinha um conteúdo interessante, mas a atriz
exagerou na teatralização e a cena ficou patética. Assim como são dispensáveis
as constantes reuniões que ela promove com suas amigas, entre elas as
personagens de Luiza Thomé (Geraldine) e Franciely Freduzeski (Cláudia),
regadas a bebidas, onde todas parecem doidivanas forçando uma alegria
artificial.
Ainda há
tempo para aparar arestas, há muitos personagens a surgirem na história e, com
certeza, Lauro César vai continuar agradando àqueles telespectadores que
apreciam seu estilo de fazer tramas comprometidas não apenas no conteúdo
sociocultural como também político do país. Sua marca está registrada em obras
marcantes como “O Casarão” (1976) e “O Salvador da Pátria” (1989), ambas na
Globo, e mais recentemente na Record “Cidadão Brasileiro” (2006) e “Poder
Paralelo” (2010). É aguardar e apostar para ver que máscaras vão cair primeiro.
Afinal, como na vida real, ninguém é, definitivamente, bom ou mau: as pessoas
mudam.