terça-feira, 17 de abril de 2012

“Máscaras”: Trama densa com temas delicados, como depressão pós-parto, e instiga a dúvida sobre quem são os vilões


Lauro César Muniz faz do roteiro de “Máscaras” o principal protagonista da novela da Record que estreou na terça-feira (10). Logo no primeiro capítulo o autor prendeu a atenção ao mostrar o drama de Maria (Miriam Freeland), uma mulher que sofre de depressão pós-parto. A história começa com ela voltando de um cruzeiro acompanhada de seu psiquiatra, Dr. Décio (Petrônio Gontijo). Fica-se sabendo que antes da viagem ela teria tentado matar o primeiro filho que teve com o marido, Otávio Benaro (Fernando Pavão). E a partir desse viés muitos acontecimentos vão deixando no ar uma dúvida constante sobre a veracidade dos fatos e a autenticidade de cada personagem. Com direção de Ignácio Coqueiro, a trama é ambientada no Mato Grosso do Sul.

Sem maniqueísmo, a cada dia a trama toma novos rumos. O que aparentava ser bom revela-se mau, e vice-versa. São as tais máscaras que vão trocando de face. Em uma semana, o bebê de Maria foi sequestrado, o irmão dela, Martim (Heitor Martinez), voltou de Dallas querendo arrancar dinheiro de Otávio, e o capítulo dessa segunda-feira (16) deu margens a se suspeitar do tratamento ministrado em Maria por Décio, dono de uma clínica de repouso. Acusado de dar alucinógenos para a paciente e também após ter sedado Otávio por três dias, seu comportamento passou a ser completamente dúbio.

Além de Miriam Freelam, que dominou os primeiros capítulos, o trio formado por Fernando Pavão, Petrônio Gontijo e Heitor Martinez tem convencido nos embates travados entre eles nos quais a cada momento desconfia-se de qual deles é o verdadeiro, ou o maior, vilão. Giselle Itié e Paloma Duarte ainda devem mostrar a que vieram interpretando as prostitutas Manu e Nameless, respectivamente. As duas moram em Dallas e serão peças-chave no envolvimento de Martim com uma organização criminosa internacional. Mas vale destacar as atuações de Íris Bruzzi, a governanta Olívia na fazenda de Otávio, e de Valquíria Ribeiro, intérprete da ama de leite Maria. As duas mostraram entrega ao sofrimento de suas personagens ao fazerem cenas fortes no episódio do sequestro do bebê nos primeiros capítulos.

Está merecendo maior cuidado da produção e direção o núcleo de Valéria Lage (Bete Coelho), uma mulher rica graças a títulos herdados de ex-maridos e que se dedica às artes. O ponto alto da personagem deveria ter sido quando ela organizou um jantar para comemorar os sete anos de casada com Gomide (Henri Pagnocelli), um deputado corrupto, e, diante dos convidados, ambos assinaram a separação, com sorrisos irônicos. O discurso feito por Valéria sobre “o que é o casamento, ou o descasamento” tinha um conteúdo interessante, mas a atriz exagerou na teatralização e a cena ficou patética. Assim como são dispensáveis as constantes reuniões que ela promove com suas amigas, entre elas as personagens de Luiza Thomé (Geraldine) e Franciely Freduzeski (Cláudia), regadas a bebidas, onde todas parecem doidivanas forçando uma alegria artificial.

Ainda há tempo para aparar arestas, há muitos personagens a surgirem na história e, com certeza, Lauro César vai continuar agradando àqueles telespectadores que apreciam seu estilo de fazer tramas comprometidas não apenas no conteúdo sociocultural como também político do país. Sua marca está registrada em obras marcantes como “O Casarão” (1976) e “O Salvador da Pátria” (1989), ambas na Globo, e mais recentemente na Record “Cidadão Brasileiro” (2006) e “Poder Paralelo” (2010). É aguardar e apostar para ver que máscaras vão cair primeiro. Afinal, como na vida real, ninguém é, definitivamente, bom ou mau: as pessoas mudam.