Miguel
Falabella quando escreve novelas pode não parecer ser um autor preocupado em
escrever dramas que façam o telespectador se debulhar em lágrimas, nem
gargalhar diante de cenas de comédia rasgada. Mas, apesar da aparente
mexicanização, ele sabe como poucos extrair um sorriso discreto nas tramas que
deveriam ser de dor e provocar uma lágrima encabulada nas cenas que,
aparentemente, são apenas engraçadas. Não foi diferente em “Aquele Beijo”,
novela das sete que teve seu último capítulo exibido sexta-feira (13), com
reprise nesse sábado (14).
“Aquele
Beijo” teve de tudo um pouco do que acontece muito na vida real, pincelada com
cores mais fortes, sem nunca fingir ser real nem esperar que esperassem da
história uma veracidade que, na maioria das vezes, torna-se falsa quando
buscada na ficção. Cláudia (Giovanna Antonelli) e Vicente (Ricardo Pereira)
apenas costuraram uma série de coincidências (ou seria destino?).
O que
dizer de Toinha (Bia Nunes), a falsa Damiana (Marcela Cartaxo), louca na
prisão, contando sua própria história como se ela fosse de outra, Locanda
(Stella Freitas)? Quantos casos não vemos nos noticiários em que o amor levou
alguém ao auge da loucura?
E Rubinho
(Victor Pecoraro), o filho mimado que nunca ouviu um não, perder-se na vida sem
aprender nunca que o sim às vezes pode advir de um não. Acontece. Desde que
esse alguém não esteja aberto para ouvi-lo. E transforma-se em mais um
corrupto.
Maruschka
subverteu o fim das vilãs. Bem antes do último capítulo a personagem de Marília
Pêra já vinha mostrando a capacidade que o ser humano tem de se reconstruir a
partir das adversidades. Alguns conseguem. Outros não. Diva (Elisa Lucinda) e
Gracy Kelly (Leilah Moreno) não conseguiram.
Maruschka
conseguiu se redimir até do fato de ter abandonado um filho recém-nascido, um
bebê que cresceu e se transformou num travesti, Ana Girafa, outra personagem
riquíssima interpretada brilhantemente por Luís Salém.
Belezinha
(Bruna Marquezine) representou bem as jovens que se anulam para realizar o sonho
de suas mães. Elizângela foi soberba ao representar Íntima, a mãe de miss, que
ainda existe atualmente, mas que hoje representam muitos mais as “mães de
atrizes”.
E Mãe
Iara (Cláudia Jimenez), ao lado de Jocelito (Bruno Garcia), não só mostrou a
ingenuidade da crendice popular como também mandando uma mensagem de otimismo a
quem crê (ou não) na vida pós-morte?
O sonho
de se enriquecer na loteria, o autoritarismo de certos patrões, filhos
ludibriando os próprios pais, ambições, fofocas, machismo, e... encontros. Por
trás de todos os vieses, havia sempre mensagens de esperança. Narradas através
de poemas profundos, de autores importantes. A última foi um texto de Charles
Chaplin.
Falabella
escreveu uma novela na qual sua vivência, experiência e contato com o dia a dia
de ricos e pobres é uma realidade transcrita por poucos. E, além de narrar o
destino de cada personagem, ele ainda apareceu no último capítulo para fazer o
desfecho com uma grande festa. E sua marca registrada: um grande deboche!