“Perdidos
na Tribo”, novo reality show da Band, não está apenas mostrando as diferenças
culturais entre três famílias convivendo com três tribos primitivas na África,
Etiópia e Indonésia, como também chocando o público com imagens deprimentes de
sacrifícios de animais. Depois da estreia festiva, há uma semana, na
sexta-feira (13), em que as famílias foram recebidas nas tribos, o segundo
episódio, exibido nessa sexta-feira (20), provocou enjoos e repulsa ao levar o
público a assistir a uma galinha sendo assada viva no fogo e uma vaca tendo seu
sangue sugado pela jugular, também viva.
Produzido
pela Eyeworks do Brasil, o programa é baseado no formato do “Ticket To The
Tribes”, já exibido na Espanha, Portugal, Bélgica, Alemanha, Holanda, Noruega,
Nova Zelândia e Austrália. Aqui, a aventura é vivida pela família dos
Sackiewicz, de São Paulo, composta por pai, mãe, dois filhos e uma filha, que
foram para a tribo africana Hamer, na Etiópia; a família Oliva, formada por
pai, mãe e um casal de filhos, cariocas que moram em São Paulo, foi para a
tribo indígena Mentawai, na Indonésia; e a família Menendez, composta por pai,
um filho e duas filhas, de Campinas, interior de São Paulo, que caiu na tribo
nômade dos Himba, na Namíbia.
Todos terão que, durante três semanas,
conviver com uma série de costumes primitivos e com a dificuldade de não
falarem a mesma língua. Aliás, não é explicado como eles conseguem se
comunicar. No final, cada um deverá ser aceito pelo chefe da tribo como
verdadeiro membro do grupo. O prêmio de R$ 250 mil poderá será dividido entre
as famílias ganhadoras. Perto desse reality da Band, as provas de “No Limite”,
da Globo, são fichinha.
No
segundo episódio, todos já estavam reclamando de fome e dores no corpo por
terem que dormir no chão duro, sobre pedregulhos. Na Namíbia, Guilherme, 25
anos, acordou chorando. “Se minha mãe estivesse aqui seria bem melhor. Quando
estou com ela me sinto mais seguro”, referindo-se a Adriana, que desistiu em
cima da hora e desfalcou a família Menendez. Na Indonésia, Kátia, 52 anos, não
conseguiu dormir por causa do barulho dos cachorros e porcos. “Tinha até um
indiozinho fazendo cocô do meu lado”, contou ela.
Na
verdade, não há banheiro para ninguém, todas as necessidades são feitas no
mato, e não há papel higiênico nem similar para limpeza. Também não tomam
banho. A pouca água que tem é suja, buscada pelas mulheres numa poça que fica
distante da tribo, e usada apenas para beber e cozinhar. Só que a comida também
é intragável.
Na
Etiópia, Natalia, de 22 anos, estava brincando com as crianças quando foi
puxada por um índio que queria levá-la a uma cabana para fazer sexo. Apesar do
susto, a jovem soube manter a calma e se desvencilhar do assédio. Foi ela também
que tentou ensinar as mulheres da tribo a usarem absorvente higiênico quando
ficam menstruadas e camisinha, para não engravidarem. Uma orientação puramente
ilustrativa onde não há nem água limpa nem comida decente para sobreviver. As
africanas explicaram que os homens usam um “produto vegetal” que passam no
órgão genital para tentar evitar filhos. Mas pior mesmo foram as cenas de
torturas a animais.
Na
Indonésia, Felippe, 20 anos, passou mal ao ver o sofrimento de um porco sendo
morto. “Ele gritava como se estivesse chorando”, afirmou o jovem. Realmente, o
som do desespero do animal deu vontade até de zerar o volume da TV, além de
desviar o olhar da tela. Em um sacrifício pior, outro porco foi sangrado pelo
pescoço e depois cortado em pedaços, ainda respirando. Na mesma tribo, uma
galinha foi queimada viva no fogo e destroçada ainda viva. Todos ficaram
horrorizados. A mãe, Kátia, apesar de chocada com a cena, pensou em pegar os
pedaços do porco cortado para assar no fogo. Foi impedida pelo chefe da tribo,
pois aquela não era função dela.
Já na
Etiópia, foi de causar revolta ver o ritual preparado pelos Hamer para os
visitantes: furar o pescoço de uma vaca para retirar o sangue que, depois,
seria misturado ao leite de cabra para ser bebido por todos. Famintos, os
integrantes da família Sackiewicz tomaram tudo. E ainda acharam bom...
No fim,
cada família foi submetida ao Conselho Tribal de seu grupo. Os que não
cumpriram suas tarefas satisfatoriamente receberam castigos, como sempre buscar
a água para a tribo, pastorear as cabras, cuidar do gado e, o dado a Natalia,
refazer o piso da cabana usando cocô, por ter rejeitado fazer sexo com o filho
do chefe.
No fundo,
“Perdidos na Tribo” apenas mostra seres civilizados convivendo com primitivos e
se horrorizando com suas formas de vida, sem que nada de positivo seja
realmente levado a eles. É sabido que a tortura e sacrifício de animais fazem
parte dos costumes tribais, mas são cenas totalmente dispensáveis de serem
exploradas da forma como foram em um único episódio. Parecia mais um show dos
horrores do que qualquer outra coisa.
O
programa teria muito mais valor se, entre uma e outra situação como essa,
mensagens fossem transmitidas através dos próprios participantes. Só que seus
depoimentos são sempre apenas para reclamar das moscas, da sujeira e as
mulheres por terem mais trabalho do que os homens. Nenhum deles teve coragem,
nem consciência, para fazer qualquer tipo de defesa dos animais sacrificados.
Lastimável.