Rodrigo Lombardi sem dúvida foi um discípulo exemplar do seu guru, Francisco Cuoco, ao herdar o personagem-título de “O Astro”. Ele pegou o turbante de Herculano Quintanilha, entregue pelo veterano intérprete do “primeiro astro”, e seduziu o público com talento e carisma. Ganhou até um momento extra e inédito que gerou polêmica no capítulo de quinta-feira (27), quando se transformou em um pássaro branco e saiu voando para escapar da polícia. Houve quem o comparasse a João Gibão, vivido por Juca de Oliveira em “Saramandaia”, que possuía asas, reveladas no último capítulo quando ele saiu voando na novela de Dias Gomes, exibida em 1976. Época em que o realismo fantástico também gerava opiniões controversas no público.
Terá sido
uma homenagem velada – e caprichada graças aos recursos modernos da computação
gráfica - ao grande novelista e marido de Janete Clair? O capricho valeu a
ousadia. Até porque, se Herculano passou a novela inteira fazendo truques
ilusionistas e surreais, não seria novidade se superar no ápice da história. “A
gente passou por tantas transformações de 78 para cá, a tecnologia é outra, os
espectadores esperam um imediatismo maior”, explicou Lombardi na manhã dessa
sexta-feira no “Mais Você” em entrevista a Ana Maria Braga. Sei não, alguns
espectadores podem ainda estar à espera da mesmice...
O que
vale é que Herculano mereceu um final mais romântico e feliz com Amanda - numa
interpretação densa e contida da atriz Carolina Ferraz - do que aquele que o
bruxo teve há 33 anos. No original, Herculano (Cuoco) fugiu para um país da
América Latina, onde passou a emprestar sua vidência para ajudar o governo
local. Amanda (Dina Sfat) vai atrás dele, mas ao perceber que o ilusionista
continua obcecado pelo poder, ela pega um táxi e vai embora: “Vamos para o
aeroporto”, foi sua última fala ao taxista.
Na versão
atual, ele vai para Santa Fé, capital norte-americana do Novo México, é alvo de
um golpe contra o governo, mas sobrevive. E larga o poder para viver em uma
ilha com Amanda e o filho do casal, a quem ensina seus truques de magia. Não
fosse um remake, ficaria a dica para a continuação da história do ilusionista
através de seu filho.
Fica a
impressão de que os autores, Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, tenham
realizado um desejo de Janete Clair, que não gostava de finais que não fossem
felizes para o casal principal de suas tramas. Nas mais de 30 novelas que
escreveu, as únicas vezes que isso aconteceu foi em “Pecado Capital” (1975), em
que Carlão (Francisco Cuoco) morreu, e em “O Astro”. Em anos difíceis de
censura, sabe-se lá a que pressão ela não cedeu para matar Carlão e “deportar”
Herculano, já que eles eram verdadeiros anti-heróis?
O remake
de “O Astro” chegou ao fim nessa sexta-feira (28) sem parar o Brasil, como
aconteceu quando a versão original da novela de Janete Clair foi ao ar entre
1977 e 1978. Na época, a audiência superava a marca de 90%, pois todos queriam
saber “Quem matou Salomão Hayalla?”, personagem então interpretado por Dionísio
Azevedo. Hoje os tempos são outros e não há mais qualquer ineditismo em se usar
o mistério “Quem matou quem” para prender o público. Tornou-se um recurso que
esporadicamente vem sendo repetido por várias tramas. “O Astro” não foi a
primeira a lançar mão dele. Em 1974, Bráulio Pedroso causou sensação com a
novela policial “O Rebu”, em que o suspense envolvia não só quem matou, mas
também quem morreu. Bem mais complexo.
Mas
voltando ao remake exibido pela Globo, os autores Alcides Nogueira e Geraldo
Carneiro fizeram várias adaptações na história original, sem desrespeitar o
trabalho de Janete Clair. É totalmente compreensível que o assassino de Salomão
Hayalla (agora vivido por Daniel Filho) dessa vez não fosse Felipe (Edwin
Luisi/Henri Castelli), ex amante de Clô (Tereza Rachel/Regina Duarte), viúva da
vítima. Para tentar criar um certo mistério foram gravados três finais para o
assassinato. E a opção que foi ao ar foi aquela em que Clô é a assassina.
Ponto para Regina Duarte.
Regina Duarte
exagerou nas caretas de Clô? Mas se assim não o fizesse, se tivesse dado a ela
uma interpretação naturalista e trivial, a personagem talvez não entrasse para
sua galeria. E nem seria tão citada. Ela é a nova Clô. Mesmo que não fosse a
assassina. Diferentemente de Thiago Fragoso, que cumpriu seu papel direitinho,
mas não tirou o posto de Tony Ramos na memória de quem foi Márcio Hayalla.
Homenagem
merecida foi feita a Francisco Cuoco ao longo da novela, que apareceu como
Ferragus, aquele que ensina tudo sobre a arte da magia ao novo Herculano. Tão
elegante que não veio roubar a cena de seu sucessor no fim da história. E em um
elenco estelar, merecem destaque as brilhantes atuações de Marco Ricca,
Humberto Martins, Antônio Calloni, Rosamaria Murtinho e Selma Egrei.
Desnecessário
foi Márcio Garcia fazendo uma participação no último capítulo como um novo
diretor do Grupo Hayalla e insinuando um possível romance com a secretária
Nina, personagem de Juliana Paes. Ambos sobraram na história. Herculano nunca
teve um envolvimento amoroso com Nina e nem ela teve tamanha relevância na
trama que merecesse um par romântico no fim. Soou mais como sendo um golpe de
mídia, para render notinhas relembrando que na novela “Caminho das Índias” o
personagem de Márcio perdeu o posto de protagonista para o de Rodrigo Lombardi
na disputa pelo amor de Maya (Juliana Paes).
Mais uma
vez quem ganhou a parada foi Rodrigo, que, como o astro dono da história, não
só ignorou Nina como ainda nem tomou conhecimento do tal novo diretor e teve
torcida para realizar seu amor com Amanda do início ao fim da novela. Como diz
o ditado: Yo no creo em brujos, pero que los hay, los hay!