Quinze
anos após ter experimentado o gostinho do sucesso caliente de sua “Salsa
& Merengue”, Miguel Falabella, de novo fazendo dobradinha com Maria
Carmen Barbosa, volta a apostar na latinidade em “Aquele Beijo”, novela das 19h
que estreou essa semana na Globo. E mais uma vez a dupla acerta ao apostar em
uma comédia autêntica, colorida, recheada de humor, romance, intrigas e
disputas.
Logo na
abertura já se viu um diferencial: a narração que Miguel Falabella faz,
pontuando a história com seu talento de cronista. “Muitas vezes você já terá
cruzado com o grande amor de sua vida sem se dar conta de que ele estava ali,
de olho em você”, narra ele enquanto são mostradas as primeiras cenas com as
muitas coincidências que levam Cláudia (Giovanna Antonelli) a conhecer Vicente
(Ricardo Pereira) no aeroporto. Ambos estão indo para Cartagena, na Colômbia.
Ela a trabalho. Ele, tentar impedir o casamento de sua ex-namorada, Luciana
(Grazzi Massafera) com outro. A bateria do celular cai e ela pede o dele emprestado.
A partir daí uma série de ligações acabam fazendo com que os dois fiquem
próximos. Lembra um pouco Meg Rian e Timothy Hutton em “Surpresas do Coração”.
Só que no filme era ela que queria impedir o casamento do ex-noivo.
Cláudia
sonha se casar na igreja, de véu e grinalda, com Rubinho, interpretado pelo
estreante Victor Pecoraro, mas ele não assume nem o namoro. Solidária ao amigo
de viagem, a arquiteta resolve acompanhar Vicente ao casamento da ex, para
apoiá-lo. Mas na igreja é ele que tem que consolá-la. Cláudia se debulha em
lágrimas ao ver a noiva realizando um sonho que para ela já parece impossível.
De cara deu para perceber que Giovanna Antonelli e Ricardo Pereira têm química.
Suas cenas são envolventes e romanticamente bem humoradas. Façanha que nem todo
casal protagonista consegue: conquistar o público à primeira vista.
Diogo
Vilela é o ladrão de cena da vez. Ele faz o nordestino Felizário, obcecado em
cumprir a promessa feita no leito de morte do pai de reencontrar a irmã que
mora na Paraíba. Ele não a vê há 40 anos. O ator tem dado um tom ao personagem
que corresponde à máxima: seria trágico se não fosse cômico. A cena do encontro
dele ao chegar à Paraíba, nesse sábado (22), foi mais um dos momentos de brilho
do ator. Mal sabe Felizário que encontrou uma farsante, numa bela interpretação
de Bia Nunnes assumindo a identidade da irmã dele, Damianna, que já morreu.
Marília
Pêra, como Maruschka, dona de uma luxuosa loja de moda de dar inveja às Daslu,
lembra muito a editora Catarina que fez em “Vida Alheia”. Mas Marília é sempre
marcante, mesmo quando a personagem se repete. Herson Capri parece ser o
Horácio Cortez saído da prisão de “Insensato Coração”, que aportou em “Aquele
Beijo” menos mal, talvez pela lição da cadeia, mas ainda de caráter duvidoso.
Ao menos a sua Natalie Lamour da vez será uma garota mais engajada, a líder
comunitária Sarita, vivida por Sheron Menezes. O que não minimiza nada. “Se
você quer saber o que Deus pensa do dinheiro é só ver a quem ele dá”, diz a
narração após uma cena de Alberto.
No
lançamento do folhetim Falabella revelou que gostaria de tê-lo batizado de
“Novela “Mexicana” e não o fez porque “ninguém iria entender o porquê do nome”,
explicou na época. Ah, entenderia, sim. A cenografia, os figurinos e os
penteados do núcleo suburbano da Vila Caiada não deixam enganar. Os penteados
de Íntima (Elizângela) e de sua filha Belezinha (Bruna Marquezine) beiram as
perucas Lady. O vestido vermelho de bolas e com acentuado decote de Amália
(Marina Mota) também salta fogoso na tela. E o que dizer de Bob Falcão (Sandro
Christopher), que vive dos shows que faz imitando Elvis Presley? Enquanto
Claudia Jimenez incorpora uma vidente charlatã que diz ter adquirido
mediunidade quando sua mãezinha iria assistir a uma novela mexicana e um ônibus
invadiu a casa, matando a coitada. Desde então, ela incorpora a entidade de uma
criança, mexicana, que só fala em espanhol. Mas o verdadeiro médium é Bruno
Garcia, brincando à vontade com o texto de Falabella. Apenas desnecessário o revirar
de olhos o tempo todo.
O núcleo
chique também não escapa à mexicanização. Pelo contrário, tem no seu auge a
personagem de Jacqueline Laurence, Mirta, que é uma cópia de Catarina, a vilã
vivida por María Rubio na novela mexicana “Cuna de Lobos”, gravada em 1986 e
exibida aqui no Brasil pelo SBT em 1991. Sua marca registrada é usar um
tapa-olho cuja estampa sempre combina com a do figurino que está vestindo.
Talvez de
vez em quando voltar aos tempos de Gloria Magadan dê melhores resultados do que
retroceder à Era dos Dinossauros, ou de tentar avançar demais nos devaneios
robóticos. “Aquele Beijo” traz um frescor descompromissado no texto, que não
torna os personagens em bobos alegres, coisa que estava fazendo falta. São
felizes, mas com conteúdo. É preciso lembrar também que a narrativa de
Falabella, que pode ser um atrativo a mais em novela, já foi usada por José
Wilker na série “A Vida Como Ela É” e recentemente por Daniel Filho em “As
Cariocas”. Em todo caso, este negócio mexicano está bem melhor do que o
seu “Negócio da China”.