sábado, 9 de março de 2013

“Lado a Lado”: Novela chega ao fim correspondendo à expectativa criada desde a estreia de mostrar texto, iluminação, direção, interpretação, figurino, cenário e demais áreas irretocáveis no todo da obra

“Então me diga, mãe, quem perdeu?”. A frase dita por Laura (Marjorie Estiano) diante de Constância (Patrícia Pillar), valeu mais do que qualquer sequência feita no tribunal de um júri condenando a baronesa por todos os seus crimes no último capítulo de “Lado a Lado”, novela das seis da Globo que chegou ao fim nessa sexta-feira (8). A história ambientada em 1910, misturando ficção com fatos históricos, tocando em temas como escravatura, racismo, as falcatruas tanto da monarquia quanto da república, a discriminação da mulher, encerrou-se resumindo tudo em poucas palavras ditas em frases como essa. “Não se dê tanta importância”, foi outro golpe dado por Bonifácio (Cássio Gabus Mendes) à mesma Constância.

Sem dúvida, a altivez de Constância, que terminou “cheirando a saco de batatas”, não foi perdida nem quando foi humilhada por todos. “Eu vou ser sempre uma baronesa”, sentenciou ela, sacramentando que sem dúvida caberá a Patrícia Pillar os próximos prêmios de melhor intérprete de vilã da televisão. Após ser desmascarada por Assunção (Werner Schünemann), como a moralista que na verdade era uma mulher ardilosa, falsa, maquiavélica e adúltera, perdeu as vestes finas e foi obrigada a usar o uniforme de empregada para por o jantar para o marido, esperava-se até ouvir o senador decretar: “Me serve sua vadia!”, no melhor estilo Rita (Débora Falabella) para Carminha (Adriana Esteves) em “Avenida Brasil”.

Talvez seja repetitivo, mas é sempre necessário exaltar o texto irretocável dos autores João Ximenes Braga e Claudia Lages, o trabalho da equipe de direção capitaneada por Dennis Carvalho, a iluminação irretocável da equipe do diretor de fotografia Walter Carvalho, o cuidado dos figurinos, das maquiagens e caracterizações, a trilha sonora corajosa em incluir músicas modernas e de diversos ritmos em uma trama de época, e a interpretação apaixonante, ousada e ao mesmo tempo sutil de todo o elenco, sem exceções.

Particularmente, achei os penúltimos capítulos mais emocionantes e impactantes. As cenas de Albertinho (Rafael Cardoso), primeiro diante do filho bastardo Elias (Cauê Campos), depois diante da mãe flagrada por ele com seu melhor amigo, foram tocantes. As imagens de Laura jogada na solitária de um sanatório foram de uma qualidade e dramaticidade dignas de cinema. E Berenice (Sheron Menezes) ser escorraçada duas vezes: pelo marido pobre e pelo amante rico, acabar morrendo ao cair num buraco no morro dizendo que estava indo “voar alto para Paris”, foi impagável.

No último capítulo deixou um pouco a desejar o discurso feito por Edgar (Thiago Fragoso), ao entregar o prêmio de melhor jornalista do ano a Paulo Lima, ou seja, a Laura. Foi curto e raso. Poderia ter sido mais impactante. Mas valeu a brincadeira de Laura ter dito: “E o prêmio de melhor marido vai para... Edgar”, numa referência à frase clichê dita até hoje na entrega do Oscar, prêmio criado 17 anos depois, em 1927.

Foi bem pensado encerrar com a tela dividida pela imagem da favela de época da ficção e outra do Rio de Janeiro dos tempos atuais. Assim como foi nostálgico fazer uma homenagem a histórias de outras épocas que também se utilizavam do recurso de exibir no fim um clipe com os principais personagens da trama, em situações aleatórias, sob o tema musical da abertura. Essa “volta ao tempo” ganhou até um toque de originalidade, já que ultimamente virou lugar comum encerrar as novelas com o show de algum cantor ou grupo musical cantando algum tema da trilha sonora, para todos os envolvidos na produção diante das câmeras “confraternizarem” com aqueles que trabalham fora do ar, numa alegria que podeser fictícia ou real...


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