terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

“Fina Estampa”: Dá vergonha, sim, ver a profissão de jornalista ser tratada dessa forma. Mas, de quem será mesmo a culpa?



A cena de “Fina Estampa” desta terça-feira (14) em que dezenas de repórteres se aglomeram em frente ao prédio comercial onde funciona a clínica de inseminação de Danielle (Renata Sorrah) foi apenas mais uma em mais uma novela em que a profissão de jornalista é retratada da forma mais depreciativa possível. Isso costuma acontecer muito na televisão, porque no cinema há uma lista de filmes nos quais repórteres são retratados com seriedade. Mas aí, também são enredos sérios. Tratados por profissionais sérios que não se rendem ao que não merece ter destaque.

A falha de alguns novelistas é terem uma visão unilateral sobre a profissão de jornalista, e tomarem como exemplo apenas os estagiários e repórteres recém-formados que, antes de viver o que realmente é a “profissão repórter”, renderam-se a um falso glamour de cobrir celebridades. São esses jovens despreparados que povoam as coletivas de novelas, são esses jovens que circulam pelas festas de estreias de programas, são esses jovens que fazem tudo para descobrir algum “furo”, que vai desde qual foi o novo casal que se formou ou o último que se separou entre as celebridades.

São esses jovens cujo sonho maior é fazer uma ponta em programas de fofoca como “TV Fama”, da Rede TV!, ou “Muito+”, da Band, que inspiram esses mesmos novelistas. E aí a culpa é apenas deles, novelistas? Ou algo está errado também lá no começo, na cartilha de formação desses aspirantes a jornalistas? Não será estranho haver uma leva tão grande de jovens tão sem noção do que realmente é ser jornalista e que sonhavam serem celebridades, mas, como não passaram na seleção para o “Big Brother”, resolveram fazer faculdade de Jornalismo? Beto Jr, o personagem da novela das nove, de Aguinaldo Silva, autor que também já foi jornalista, é uma prova disso.

Dá vergonha, sim, ver a profissão ser tratada dessa forma nas novelas. Mas dá vergonha apenas em quem tem real consciência do que representa a profissão, conseguiu exercê-la na sua mais pura essência, e um dia teve um outro tipo de sonho.

.