A cena de “Fina Estampa” desta terça-feira (14) em que dezenas de repórteres se aglomeram em frente ao prédio comercial onde funciona a clínica de inseminação de Danielle (Renata Sorrah) foi apenas mais uma em mais uma novela em que a profissão de jornalista é retratada da forma mais depreciativa possível. Isso costuma acontecer muito na televisão, porque no cinema há uma lista de filmes nos quais repórteres são retratados com seriedade. Mas aí, também são enredos sérios. Tratados por profissionais sérios que não se rendem ao que não merece ter destaque.
A falha de alguns
novelistas é terem uma visão unilateral sobre a profissão de jornalista, e
tomarem como exemplo apenas os estagiários e repórteres recém-formados que,
antes de viver o que realmente é a “profissão repórter”, renderam-se a um falso
glamour de cobrir celebridades. São esses jovens despreparados que povoam as
coletivas de novelas, são esses jovens que circulam pelas festas de estreias de
programas, são esses jovens que fazem tudo para descobrir algum “furo”, que vai
desde qual foi o novo casal que se formou ou o último que se separou entre as
celebridades.
São esses jovens cujo
sonho maior é fazer uma ponta em programas de fofoca como “TV Fama”, da Rede
TV!, ou “Muito+”, da Band, que inspiram esses mesmos novelistas. E aí a culpa é
apenas deles, novelistas? Ou algo está errado também lá no começo, na cartilha
de formação desses aspirantes a jornalistas? Não será estranho haver uma leva
tão grande de jovens tão sem noção do que realmente é ser jornalista e que
sonhavam serem celebridades, mas, como não passaram na seleção para o “Big
Brother”, resolveram fazer faculdade de Jornalismo? Beto Jr, o personagem da
novela das nove, de Aguinaldo Silva, autor que também já foi jornalista, é uma
prova disso.
Dá vergonha, sim, ver a
profissão ser tratada dessa forma nas novelas. Mas dá vergonha apenas em quem
tem real consciência do que representa a profissão, conseguiu exercê-la na sua
mais pura essência, e um dia teve um outro tipo de sonho.