terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

“Corações Feridos”: A origem mexicana não é fatal, mas falta apuro no tratamento do texto, na direção dos atores e na cenografia



Há um mês no ar, “Corações Feridos” ainda não é a novela que marcará a entrada do SBT na concorrência pela audiência com produtos de dramaturgia. Não que seja o pior de todos os produtos do gênero já apresentado pela emissora, mas a trama que marca a estreia de Íris Abravanel como novelista, com direção de Del Rangel, ainda repete uma fórmula arcaica de cópia de folhetins mexicanos dos tempos em que a TV brasileira ainda não tinha autores capacitados a criar suas próprias histórias.

“Corações Feridos” é baseada na mexicana “La Mentira”, gravada há dois anos, que deveria estrear em novembro de 2010, substituindo a reprise de “Canavial de Paixões”, mas, por mais uma dessas decisões inexplicáveis de Silvio Santos, foi adiada para 2011 e, depois, cancelada e engavetada. Acabou estreando em 16 de janeiro deste ano.

No melhor estilo cucaracha de ser, Flávio Tolezani, Cynthia Falabella e Victor Pecoraro interpretam os papeis principais, numa trama que narra o drama de duas primas, Aline, a má e ambiciosa que acaba culpando a boazinha Amanda por suas maldades. Ambas se apaixonam por Rodrigo, que quer se vingar de Amanda, achando que ela levou seu irmão ao suicídio, que na verdade foi provocado por Aline.

Um dos pontos mais curiosos da novela é que ela é exibida às 20h30, exatamente após “Aquele Beijo”, novela das sete da Globo, em que os atores Cynthia Falabella (Aline Almeida) e Victor Pecoraro (Vítor Almeida), acabaram de serem vistos no ar respectivamente como Estela e Rubinho na trama de Miguel Falabella. E tanto em uma quanto em outra emissora, seus personagens têm muitas semelhanças. Aline, como Estela, é uma mulher atraente que, por trás da aparência inocente, esconde um caráter duvidoso. E Vítor também é um jovem de família rica, com boa formação, mas fraco nas decisões e que se deixa levar pela vontade mãe. Tanto na Globo quanto no SBT, seu personagem é abandonado pela mulher que ama, que o troca por outro.

Engraçado no capítulo dessa segunda-feira (13) ver Aline consolar Vítor, que acabou de ver a mulher amada se casar com outro. Parece carma de Rubinho, também trocado por Cláudia (Giovanna Antonelli) pelo advogado Vicente (Ricardo Pereira) em “Aquele Beijo”. Também é curioso ver Antonio Abujamra, o Iago de “Poder Paralelo” da Record, e artistas cujos últimos trabalhos foram na Globo, como Iara Jamra, Adriana Lessa e Paulo Zulu. Além da pequena Larissa Manoela, de apenas 10 anos, que faz parte do elenco de “Carrossel” e contracenou com Selton Mello no filme “O Palhaço”.

Seria muito cômodo tripudiar em cima de "Crações Feridos" simplesmente pelo fato de ser baseada em um folhetim mexicano. Não é essa a questão. É fato que o produto não tem a qualidade de uma novela da Globo ou até mesmo da Record, mas é preciso se levar em conta que a emissora também não tem tradição de investir nesse tipo de produto. Portanto, é preciso ver do ponto de vista de quem está engatinhando. E, sendo assim, é plausível haver tropeços e tombos. Vale torcer para que se invista mais em cenografia, direção de arte, direção de ator e, o que ainda falta até nas emissoras mais preparadas, preocupação com bons textos.


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